“Falar grosso com Maduro e fino com Noboa é vergonhoso.” A frase do jornalista e fundador do portal Opera Mundi, Breno Altman, resume sua crítica à postura do governo brasileiro diante da recente eleição no Equador.
Em entrevista à jornalista Vanessa Martina-Silva no seu novo programa “Sul Globalizando”, estreado nesta quarta-feira (16) na TV Diálogos do Sul Global, Breno denuncia a incoerência do Itamaraty ao reconhecer rapidamente a vitória do presidente equatoriano Daniel Noboa, mesmo diante de graves denúncias de fraude e repressão.
“O governo Lula erra ao reconhecer o resultado sem esperar o julgamento dos recursos apresentados pela oposição”, avalia. Ele compara a postura do Brasil com a do México e da Colômbia, que adotaram uma posição cautelosa e se recusam a reconhecer a legitimidade do pleito. “A eleição foi marcada por estado de sítio em regiões onde a oposição é mais forte, mudanças de última hora e um uso abusivo da máquina pública por parte do presidente candidato”, destaca.
Altman aponta que a conduta geopolítica do Brasil é marcada por uma busca de legitimação internacional. “O Brasil quer um diploma de democrata da União Europeia e dos EUA. Por isso, bate duro em países como Venezuela e Cuba, mas se curva diante de aliados do Ocidente, mesmo que autoritários como Noboa”, critica.
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Já sobre a política interna, Altman é igualmente crítico. Para ele, o Brasil vive uma “estagnação política”, onde o Executivo é esvaziado por um Legislativo fortalecido por emendas parlamentares e por um Judiciário que ultrapassa seus limites. “A esquerda brasileira está integrada ao sistema. Hoje ela é, no máximo, reformista. Precisamos de uma esquerda rupturista, que tenha coragem de propor mudanças estruturais”, exorta.
Imperialismo
Durante a conversa, Breno Altman também analisou a ofensiva do imperialismo estadunidense na América Latina. “As Forças Armadas deram lugar ao Judiciário como instrumento de dominação”, explica, acrescentando que o lawfare é hoje o principal mecanismo de golpe na região, já que “juízes e promotores, formados pelas elites, se tornam blindados contra mudanças e operam para destruir lideranças populares”.
Também influenciam esse panorama as tarifas impostas por Donald Trump, o que, de acordo com o especialista, se configura como uma nova fase do imperialismo. “Trump quer forçar as empresas americanas a voltarem para os EUA e desmontar a globalização que ele mesmo ajudou a construir.” Embora as tarifas sejam legais, observa, as sanções econômicas unilaterais – como as impostas a Cuba e Venezuela – são ilegais e funcionam como instrumentos de guerra contra povos soberanos.
Por fim, Altman defende a experiência venezuelana como uma tentativa de construção de uma democracia participativa. “A Venezuela está tentando sair do buraco do capitalismo e da democracia liberal. E por isso é tão atacada.” A América Latina, conclui, só terá soberania se encarar os mecanismos de dominação, sejam eles militares, judiciais ou econômicos.
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global, no YouTube:
* Imagens na capa:
– Nicolás Maduro: Reprodução / Facebook
– Breno Altman: Reprodução / X
– Daniel Noboa: Presidência do Equador / Flickr