A iniciativa de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, ou seja, o Brics, ganha cada vez mais relevância no cenário geopolítico, ocupa cada vez mais as pautas políticas e jornalísticas, além de atrair o interesse de diversos setores da sociedade como empresas, universidades, governos regionais e municipais e, é claro, o próprio imaginário popular.
Em 2025 o Brasil assumiu a presidência rotativa da cúpula de chefes de Estado dos países Brics e ficou com a tarefa de organizar e liderar a agenda multidisciplinar no âmbito da iniciativa que, agora ampliada, busca articular e apresentar caminhos para o desenvolvimento de um futuro compartilhado de benefício mútuo entre os países do sul global.
Fórum IMBRICS articula soluções locais a partir de agendas globais
Com a finalidade de transformar os grandes debates de alto nível de cúpula em oportunidades concretas para os cidadãos e cidadãs dos países envolvidos, nasce o Fórum Internacional dos Municípios Brics (Fórum IMBRICS), que, desde 2019, acontece anualmente na Federação da Rússia.
A integração entre os municípios dos países Brics assume um papel altamente relevante na consolidação e estruturação de bases sólidas para o desenvolvimento dessa nova realidade de governança global multipolar. Afinal, é nas cidades que acontece a vida cotidiana das pessoas e são justamente as pessoas que devem ser as maiores beneficiadas de todos esses acordos e declarações de cúpula assinados pelos representantes do alto nível dos países.
Ou seja, o movimento municipalista do Brics deve ser o alicerce fundamental responsável por popularizar os projetos que acontecem no âmbito da iniciativa, trazendo o elemento principal para a consolidação do novo mundo multipolar: a melhoria efetiva na qualidade de vida dos munícipes.
Sendo assim, a partir de um tripé que envolve o poder público, a iniciativa privada e as universidades, o Fórum dos Municípios Brics chega ao seu sétimo ano construindo pontes entre os países do sul global sob a plataforma Brics+. Os projetos articulados a partir dessa tríade começaram a ganhar vida prática já durante a própria pandemia de Covid-19 através da cooperação técnica internacional desenvolvida em parceria com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP).
Fórum fortalece investimentos, internacionalização e cooperação entre cidades
É no Fórum IMBRICS que as empresas de atuação municipal e regional encontram uma plataforma viável para iniciar a expansão e a internacionalização das suas atividades comerciais. Sendo assim, num cenário onde um novo sistema de pagamentos internacionais no âmbito dos Brics vem sendo arquitetado, as atividades do Fórum podem ser um diferencial no volume de transações feitas a partir dessa nova ferramenta.
Já para as próprias prefeituras, o Fórum IMBRICS pode ser um grande catalisador de investimentos para os municípios. Um dos principais desafios do gestor municipal é, diante dos escassos recursos públicos, viabilizar os projetos necessários para o desenvolvimento da cidade. Logo, a promoção das parcerias público-privadas e a conexão com investidores internacionais que acontecem no âmbito do Fórum são altamente atrativas para os municípios com orçamentos mais restritos.
Na última edição do evento, que aconteceu no ano passado em Moscou, participaram cerca de 6 mil delegados de 101 países. Ou seja, se organizar a partir da plataforma Brics+ possibilita ao Fórum apresentar a oportunidade de se somar à iniciativa municipalista do Brics muito além dos 10 países membros oficiais ou dos 10 países parceiros oficiais.
Desde 2021 contamos com a participação de delegações latino-americanas, de diversos países africanos e do sudeste asiático. Vale destacar a qualificada participação venezuelana e da capital Caracas, bem como a participação de cidades argentinas pela primeira vez que, no ano passado, firmaram acordos de cooperação voltados para as cidades produtoras agrícolas e para a segurança alimentar nos municípios.
A partir do entendimento de que os problemas municipais são comuns em todo o mundo, a cidade de Moscou tornou-se a sede do Fórum em 2024, com o objetivo de exportar as soluções moscovitas para as questões do município. Está em curso, por exemplo, uma parceria entre Moscou e São Paulo para a implementação dos trechos fluviais do sistema público de transporte paulistano. Então o intercâmbio de tecnologias e boas práticas entre os gestores municipais também está na gama de possibilidades que o Fórum apresenta.
Brasil amplia protagonismo ao integrar debate municipal global
E, apesar de tudo o que foi feito, ainda há muito em que avançar. O trabalho com municípios é naturalmente árduo: só no Brasil são 5.570 cidades, no mundo são milhões. São cidades pequenas, médias e grandes; rurais e urbanas; pobres e ricas. Ou seja, absolutamente desiguais e com características variadas. A realidade de cada município, portanto, representa um grande desafio para a dinâmica organizativa do Fórum, que busca, inevitavelmente, criar um espaço viável para cada uma dessas realidades.
Anualmente, o Fórum Internacional dos Municípios Brics apresenta uma tendência de crescimento. E a perspectiva é que essa tendência se mantenha pelos próximos anos com a chegada de novos países, novas cidades, mais empresas e universidades, além de organizações da sociedade civil. A parceria com Moscou também possibilita um novo fôlego institucional e uma possibilidade de internacionalização institucional do Fórum com a realização de eventos também em outros países.
Para as cidades brasileiras, o movimento municipalista do Brics, que é celebrado anualmente no Fórum Internacional dos Municípios, é uma grande oportunidade de buscar soluções junto às cidades e povos irmãos nessa nova realidade de multipolaridade geopolítica. Além, é claro, de posicionar o Brasil e os dirigentes regionais brasileiros como protagonistas também no debate municipal internacional, sendo o Brasil um dos países mais municipalizados do mundo.
