O 1º de Maio transcende fronteiras. Nascido da coragem e da luta dos trabalhadores, foi na União Soviética (URSS) que se impulsionou como uma data global de luta da classe trabalhadora e a transformou em um marco internacional de solidariedade proletária e de resistência à exploração capitalista. Se os cenários internacionais eram distintos, a essência que move essas lutas é a mesma: a recusa da resignação diante da exploração e a aposta no poder transformador da organização coletiva.
Novos paradigmas de trabalho foram alcançados. Muitas das garantias que hoje são consideradas direitos básicos — inclusive no Brasil — foram, direta ou indiretamente, impulsionadas pelo exemplo soviético, que transformou a sociedade russa e segue sendo exemplo para a luta dos povos e nações.
A luta dos trabalhadores, no entanto, não pertence ao passado. Em pleno século 21, trabalhadores de todo o mundo enfrentam novas formas de precarização. Com o avanço da informalidade, da uberização das relações de trabalho e da política de enfraquecimento dos sindicatos, milhões de pessoas têm se mobilizado em todo o mundo para exigir trabalho digno e pela proteção dos direitos sindicais e sociais. As batalhas de ontem ampliam-se hoje para enfrentar as consequências de um capitalismo cada vez mais financeirizado e predatório. O 1º de Maio permanece, portanto, como um chamado à ação global pela vida digna e como um exemplo da potencialidade da diplomacia entre os povos.
Estamos diante de uma transformação e de uma mudança do paradigma da ordem mundial. O mundo que se deseja abandonar é o da opressão e da subjugação, que acontece não apenas dentro dos territórios, mas de uma nação sobre a outra, do imperialismo e da unipolaridade, baseado na precariedade da vida humana. A integração entre os povos é central nessa transformação, pela justiça e pelo progresso social, contra todas as formas de discriminação, pois a valorização da vida, independente da sua origem, e a cooperação mútua são caminhos fundamentais para o desenvolvimento.
Por isso, as relações internacionais devem ser benéficas mutuamente, promovendo o desenvolvimento nacional, a industrialização, a transferência de tecnologias aos países periféricos e a geração de trabalho digno. O imperialismo, às vezes mascarado, às vezes mais evidente, representa para o Brasil e para a América Latina uma posição subalterna na ordem mundial, com fundações estrangeiras influenciando as políticas nacionais seja por meio de financiamentos a lideranças locais e de oligopólios de tecnologias da informação e comunicação ou por meio do apoio a golpes de Estado, que atravessam nossa região ainda hoje.
Para o Brasil e para a América Latina, só existem futuros possíveis se estiverem atrelados a uma nova ordem mundial. Em meio à transição geopolítica em curso, o Brasil precisa fortalecer relações com países que apostam nessa mudança, como a Rússia, e participar da construção de um novo sistema financeiro internacional, independente do dólar e dos interesses unilaterais. A manutenção da América Latina como “fundo de quintal” dos Estados Unidos não interessa às nossas nações. A diplomacia pública, que é a diplomacia entre os povos, emerge nesse sentido como motor fundamental dessa transição.

Enquanto alguns defendem a atualização da Doutrina Monroe, é urgente afirmar que apenas um novo alicerce mundial permitirá a verdadeira prosperidade e independência para nós.
É nesse espírito de solidariedade e construção coletiva que a aproximação entre Brasil e Rússia ganha dimensão estratégica. Mais do que relações diplomáticas tradicionais, está sendo criada a oportunidade de fortalecer um novo paradigma de cooperação internacional, baseado no respeito mútuo, na soberania e na promoção do desenvolvimento humano.
A Rússia, com seu importante chamado à multipolaridade, partilha de uma consciência comum com a nossa região. Hoje, é a quarta maior economia mundial em paridade de poder de compra, com riqueza natural, avanços tecnológicos em energia limpa, exploração espacial e autossuficiência alimentar, conseguindo driblar as sanções unilaterais — uma das principais armas utilizadas pelo imperialismo através do sistema financeiro internacional para boicotar os que se opõem aos seus interesses.
O Brasil, por sua vez, é o centro gravitacional da América Latina e ator imprescindível na construção da maioria global e na consolidação da multipolaridade. Suas potencialidades, recursos naturais e diversidade o tornam um parceiro estratégico para a redefinição dos paradigmas globais. É tarefa dos povos garantir que as relações internacionais existam para transformar as cadeias de produção e as condições de vida do povo trabalhador.
Cúpula do Brics: entenda relevância dos 13 novos países parceiros do bloco
O papel do Brics+ é essencial nesse processo. Sob a presidência russa, o bloco foi impulsionado a novos patamares. Na presidência brasileira, é fundamental que sejam apresentadas iniciativas concretas e transformadoras, aprofundando os projetos de integração econômica, educacional e cultural, com apoio do Novo Banco de Desenvolvimento, liderado por Dilma Rousseff, uma mulher brasileira em uma das funções mais estratégicas da atualidade.
O Brics+ têm potencial para impulsionar o comércio e os investimentos Sul-Sul, alinhando-os ao desenvolvimento nacional. Para isso, é preciso fortalecer o uso de moedas nacionais no comércio intra-Brics, repensar a arquitetura tributária internacional, avançar na cooperação entre bancos centrais e construir um sistema próprio de pagamentos — tarefas estratégicas. Por outro lado, a institucionalização do Brics é crucial para garantir sua coesão, continuidade e influência global, transformando o grupo em um verdadeiro pilar da nova ordem multipolar.
Mas para que essa aproximação seja efetivamente transformadora, é essencial que ultrapasse os fóruns oficiais. A diplomacia pública — a construção de laços diretos entre sociedades civis, universidades, centros culturais, movimentos sociais, sindicatos e artistas — é o caminho mais sólido para criar relações que resistam às mudanças de governo e aos ciclos econômicos. A verdadeira aproximação acontece quando estudantes brasileiros compartilham experiências com colegas russos; quando artistas criam juntos; quando cientistas cooperam para solucionar desafios comuns; quando trabalhadores e movimentos sociais trocam estratégias de luta e resistência; quando apresentam, junto aos governos, os interesses da sociedade civil nas negociações internacionais.
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Café com Vodka é um brinde à cooperação entre os povos e as nações, um compromisso com a criação de um futuro em que o trabalho, a cultura, a ciência e a solidariedade sejam os pilares da vida internacional. Sob essa perspectiva, nasce esta coluna: como espaço de reflexão e construção coletiva, celebrando os laços e projetando o futuro em análises orientadas para a ação.
Ao longo das próximas edições desta coluna, serão tratadas as potencialidades desse diálogo: a história das relações Brasil–Rússia, os desafios do mundo multipolar, o papel dos Brics, as experiências de diplomacia pública bem-sucedidas e os caminhos para fortalecer a cooperação educacional, cultural e comercial.
Um espaço de encontro entre Brasil e Rússia e um chamado à construção ativa de uma nova ordem internacional, pautada pela cooperação entre os povos, pela diplomacia pública e pela afirmação da maioria global.