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Trata-se de uma operação que lembra os métodos da ditadura: vigilância sobre adversários, uso político da máquina pública e total desrespeito às instituições republicanas (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom / Agência Brasil)

Cannabrava | Conspiração militar: da Inteligência à ocupação do poder

A "Abin paralela" não foi um desvio isolado, mas parte de um projeto de poder autoritário, e esse projeto ainda sobrevive, latente, nos subterrâneos da política e nas plataformas digitais

Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

A revelação de uma estrutura paralela de inteligência, articulada pelo filho do ex-presidente da República, é mais do que um escândalo: é prova concreta de que houve uma conspiração golpista em curso, com ramificações nos porões do Estado. Não se trata de uma teoria da conspiração, mas de uma conspiração real, arquitetada com apoio de setores das Forças Armadas, da Polícia Federal e de núcleos ideológicos instalados no Palácio do Planalto.

Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro, operava como coordenador informal dessa “Abin paralela”, municiado por relatórios sigilosos, grampos ilegais e dossiês fabricados para alimentar o aparato de desinformação nas redes sociais e orientar ações de intimidação contra opositores. Atuava, portanto, como o chefe de uma rede clandestina que usava recursos públicos para fins privados e ilegais.

É grave, gravíssimo. A tentativa de criar um Estado policial dentro do Estado brasileiro revela o quanto a democracia esteve — e talvez ainda esteja — sob risco. Trata-se de uma operação que lembra os métodos da ditadura: vigilância sobre adversários, uso político da máquina pública e total desrespeito às instituições republicanas.

Desde a campanha de 2018, já se percebia o uso sofisticado de tecnologias de vigilância, manipulação de redes sociais e estratégias típicas de operações psicológicas. À época, denunciei que aquela campanha — e a própria eleição — foi uma operação de inteligência conduzida por setores das Forças Armadas para capturar o poder. Eles se prepararam por dez anos para esse momento. Uma vez vitoriosos, ocuparam militarmente todos os ministérios, instaurando um governo sob controle direto dos militares. Não foi uma simples vitória eleitoral, mas o resultado de uma ação articulada, com tática militar e objetivos claramente autoritários.

A resposta do ministro Alexandre de Moraes tem sido firme e decisiva. Sua atuação no Supremo Tribunal Federal e na presidência do TSE foi determinante para conter o avanço dessa estrutura golpista. Por isso mesmo, tornou-se um alvo direto do bolsonarismo. Não é coincidência: o autoritarismo teme quem lhe impõe limites.

Por trás dessa rede, há algo ainda mais preocupante: o envolvimento de militares da ativa e da reserva, muitos dos quais ocupavam cargos estratégicos no governo. A lógica da “guerra cultural” e da “segurança nacional” foi resgatada para justificar ações ilegais, como se o Brasil estivesse sitiado por inimigos internos. Um delírio ideológico com consequências muito reais.

É preciso dar nome às coisas. Houve uma tentativa sistemática de corroer a legalidade democrática. A “Abin paralela” não foi um desvio isolado, mas parte de um projeto de poder autoritário. E esse projeto ainda sobrevive, latente, nos subterrâneos da política e nas plataformas digitais.

A democracia exige vigilância. É hora de responsabilizar os envolvidos, romper com a impunidade e reforçar os mecanismos de controle institucional. Do contrário, o que hoje parece escândalo pode se repetir amanhã como rotina.

* Texto escrito com apoio da inteligência artificial ChatGPT.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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