Chacina na Bahia, chacina no Rio de Janeiro, chacina em São Paulo: retratos de uma guerra civil, do Estado contra o povo, que se tornou eterna no país.
O Instituto Fogo Cruzado registrou 120 pessoas mortas em Salvador e região metropolitana durante chacinas policiais entre o período de 1º de julho de 2022 e 8 de agosto de 2023.
Uma operação policial que aconteceu na Vila Cruzeiro, localizada no Complexo da Penha, zona norte do Rio de Janeiro, deixou ao menos 10 pessoas mortas e outras quatro feridas até o fim da manhã da quarta-feira de 2 de agosto. Em maio de 2021, 28 pessoas foram mortas no Jacarezinho.
Em 22 de julho, o Brasil de Fato reportava que nos últimos 14 meses 40 chacinas provocaram 197 mortes.
Em maio de 2006, duas chacinas deixaram um saldo de dez mortos e dois feridos em pontos distintos da Grande São Paulo. Em Parelheiros (zona sul), seis pessoas baleadas morreram. Na cidade de Suzano (Grande SP), outras seis pessoas foram baleadas, mas duas sobreviveram. As execuções daquele ano na capital paulista, até então, haviam somado 73 pessoas mortas, um total de 20 chacinas.
No fim de julho deste ano, operação deixou pelo menos 16 pessoas mortas na Baixada Santista, em comunidade no Guarujá, e morador diz que os policiais apagaram as imagens das mortes que praticaram.
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Dia 7 de abril, jornal digital Folha, registrava 279 ameaças a escolas na semana em que uma professora da rede estadual de São Paulo foi morta a facadas por um aluno de 13 anos, que disse ter planejado por dois anos o crime inspirado em massacres anteriores.
Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil
É a eterna guerra civil do Estado contra a Nação que começou em 1500
Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 47.508 pessoas foram assassinadas vítimas de violência em 2022, algo como 130 mortos por dia. Nem na Ucrânia, que está em guerra, se registra tão alta letalidade¹.
É a eterna guerra civil do Estado contra a Nação que começou em 1500.
Pois quando não é o Estado que mata através de seus agentes, é o Estado responsável pela ausência total de políticas de Segurança Pública. Vivemos o absurdo de que a diminuição dos casos de assassinatos se deve mais às estratégias do crime organizado que a políticas de Estado.
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A medição começou em 2011 com 23,4 casos por 100 mil habitantes, menor que os 24 casos de 2021. Feminicídios aumentaram 1.437 casos, 6,1% mais que os 1.342 casos de 2021, 1,4 casos para cada 100 mil habitantes. Em Rondônia, o índice chegou a 3,1; Mato Grosso do Sul, 2,9.
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A maior taxa de homicídio está na região Nordeste, com 36,8, seguida pelos estados do Mato Grosso (29,3), Paraná (22,7) e Acre (28,6). O recorde fica nos 772 municípios da Amazônia, com taxa de 33,8 casos, grande parte devido ao narcotráfico.
Mortes por intervenção do Estado também diminuíram, de 6.524, em 2021, para 6.430, em 2022. São Paulo teve alta na taxa de homicídios, de 3.666, em 2021, para 3.735, em 2022.
São cometidos 5 assassinatos por hora, a maioria das vítimas pessoas negras entre 12 e 29 anos.
No que tange às mulheres, 8 estupros por hora. Foram 74.930 casos em 2022, 205 ocorrências por dia, 56,8 mil entre vulneráveis. Em 2021, foram 68.885 registros.
8 de cada 10 têm mais de 18 anos, 10% eram bebês e crianças de zero a 4 anos; 17% das crianças entre 5 e 9 anos; 33,2%, adolescentes entre 10 e 13 anos. 36,9 casos por 100 mil habitantes, 8% mais que em 2021. A maior taxa por 100 mil habitantes foi no Amazonas, 37,31, seguido por Roraima, com 28,1.
Capitão do Exército, Tarcísio de Freitas, no comando do governo do Estado, tem como secretário de Segurança Pública o capitão da Polícia Militar Guilherme Muraro Derrite, que por sua vez tem Osvaldo Nico Gonçalves, delegado-geral da Polícia Civil, para os cargos de secretário e adjunto. Junta a fome com a vontade de comer, no caso, fome de violência.
Nota
1. O número de civis mortos na Ucrânia desde a invasão russa, em fevereiro do ano passado, chegou a 9.287 pessoas, de acordo com levantamento divulgado esta semana pelo Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH). Mais de 16 mil pessoas ficaram feridas no conflito, de acordo com o mesmo relatório. (CNN, 18/07/23)
Paulo Cannabrava Filho, jornalista editor da Diálogos do Sul e escritor.
É autor de uma vintena de livros em vários idiomas, destacamos as seguintes produções:
• A Nova Roma – Como os Estados Unidos se transformam numa Washington Imperial através da exploração da fé religiosa – Appris Editora
• Resistência e Anistia – A História contada por seus protagonistas – Alameda Editorial
• Governabilidade Impossível – Reflexões sobre a partidocracia brasileira – Alameda Editora
• No Olho do Furacão, América Latina nos anos 1960-70 – Cortez Editora
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