Pesquisar
Pesquisar
A presidenta do México, Claudia Sheinbaum (Foto: Reprodução / Facebook)

Carta de Sheinbaum a Trump é basta! às chantagens dos EUA ao México

Resposta de Sheinbaum às ameaças de taxação de Trump evidencia que o republicano não poderá prejudicar o México sem infligir sérios danos aos trabalhadores estadunidenses
Gerardo Villagrán del Corral
Estratégia.la
Cidade do México

Tradução:

Ana Corbisier

Bastou um dia para que o México respondesse ao presidente eleito estadunidense Donald Trump. A mandatária Claudia Sheinbaum respondeu à ameaça de impor uma taxa de 25% a todos os produtos que entrem nos EUA vindos do México e do Canadá até que estes países tomem medidas drásticas contra as drogas, em particular o fentanil, e os migrantes que cruzam a fronteira ilegalmente.

A presidenta lembrou Trump que o abuso de substâncias ilícitas é um problema de consumo e de saúde pública da sociedade estadunidense, no qual o México inclui os mortos ocasionados pela confluência do tráfico de armas produzidas nos Estados Unidos e a demanda de drogas que também vem daquele país.

Em sua carta, Sheinbaum advertiu que não é com ameaças nem com taxas que se vai atender o fenômeno migratório e o consumo de drogas, e sim com o entendimento recíproco em torno a estes grandes desafios, e reiterou que a força comercial da América do Norte diante de outros blocos comerciais consiste na complementariedade entre os signatários do T-MEC.

Sheinbaum responde a Trump: “Tarifas não resolverão problemas compartilhados” - LA NACION

Enfatizou que uma medida deste tipo não só afetaria o México, como também teria um impacto direto nas empresas estadunidenses com operações no país. “A uma taxa, se seguirá outra em resposta. E assim, até que ponhamos em risco empresas comuns. Sim, comuns. Por exemplo, os principais exportadores do México para os EUA são General Motors, Stellantis e Ford Motor Company, que chegaram ao México há 80 anos”, disse a mandatária.

Ainda que tenha oferecido diálogo, que considera o melhor instrumento para alcançar o entendimento, a paz e a prosperidade, a presidenta evidenciou que cada taxa imposta por Washington será respondida com outra, o que afetaria empresas comuns.

Agora, ninguém duvida da determinação mexicana de encarar as ameaças e grosserias de Trump. A queda das ações em bolsa das grandes indústrias automotivas estadunidenses é uma demonstração imediata de que o México tem razão ao ressaltar que o magnata não pode prejudicar o México sem infligir dano aos trabalhadores de seu país, que diz proteger, pelo elementar motivo de que três décadas de integração econômica norte-americana criaram um grau de interdependência que não pode ser rompido mediante decretos, nem da noite para o dia, mostra um editorial do La Jornada.

Além disso, Trump faria bem em reconhecer que o tratado redigido no início da década de 1990 e renegociado a pedido seu há seis anos permite às empresas estadunidenses manter uma competitividade em que perderam muito terreno.

Como tráfico de armas a partir dos EUA alimenta altas taxas de homicídio no Caribe

E isso se deve às desastrosas condições do sistema educativo, ao curtoprazismo que acompanha a financeirização econômica neoliberal, ao desinvestimento em setores-chave e outros fatores que piorarão por sua insistência em reduzir o Estado em um momento em que é o único ente capaz de liderar a sociedade em um cenário tão complexo como o atual.

Trump quer abrir uma nova frente nas guerras comerciais que iniciou durante seu primeiro mandato, mas, se o fizer, aprenderá rapidamente duas coisas: que seus atos têm consequências indesejáveis para suas bases eleitorais e para seus objetivos declarados, e que o México não se deixará amedrontar por suas ameaças, acrescenta o diário mexicano.

Deportação

Numerosas vozes se levantaram nos EUA com o anúncio de Trump da deportação de 11 milhões de imigrantes sem documentos, em sua maioria de origem mexicana. “Se deportarem 11 milhões de imigrantes, quem vai trabalhar?”, perguntou a socióloga Beverly Fanon-Clay, prevendo uma crise pelo menos nos setores de alimentação e construção.

A Câmara de Comércio estadunidense insistiu que os imigrantes são uma parte vital da principal economia do mundo e que, de fato, os Estados Unidos necessitam ainda mais imigrantes para compensar o efeito de uma população estadunidense envelhecida e com uma queda na taxa de nascimentos. Há oferta de oito milhões de empregos, mas demanda de apenas seis milhões e meio.

Há muitos empregos, mas não suficientes trabalhadores para assumí-los, disse Stephanie Ferguson Melhorn, diretora de Políticas de Força de Trabalho e Trabalho Internacional da Câmara de Comércio, em novembro de 2024. Todas as agências governamentais concordam que o incremento da imigração teve um impacto extremamente positivo na economia estadunidense.

No final de sua carta a Trump, Sheinbaum afirmou: “Tenho a visão de que vai haver um acordo com os Estados Unidos e com o presidente Trump. Se pusermos no centro a coordenação e a colaboração, poderemos atender de maneira profunda estes problemas”. A presidenta também indicou que buscará uma chamada telefônica com Trump para discutir as tensões comerciais e encontrar soluções conjuntas.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Gerardo Villagrán del Corral

LEIA tAMBÉM

Biden tira Cuba da lista de terror e suspende algumas sanções; analistas avaliam medidas (1)
Biden tira Cuba da lista de terror e suspende algumas sanções; analistas avaliam medidas
Tensões criadas por Trump impõem à América Latina reação ao imperialismo
Trump exacerba as contradições entre EUA e América Latina
Política fracassada Noboa mantém Equador como país mais violento da América Latina
Política fracassada de Noboa mantém Equador como país mais violento da América Latina
Venezuela Maduro reforça poder popular, desafia oligarquias e combate o imperialismo (2)
Venezuela: Maduro reforça poder popular, desafia oligarquias e combate o imperialismo