A produção do DeepSeek, o software de inteligência artificial da China com performance similar e custos 10 vezes menores que os das big techs estadunidenses, evidencia a profundidade da crise do setor de alta tecnologia estadunidense. Há poucos dias, alertamos que essas corporações aproximaram-se de Trump porque estavam mais fracas.
A queda de 17% do preço das ações da Nvidia arrastou para baixo todo o setor de alta tecnologia, impactando negativamente a Nasdaq e a S&P 500, entre outros ativos, como as ações do Google, da Amazon e da Meta, atingindo os bilionários que estão se escorando em Trump.
A China provou que o bloqueio que sofre à importação de alta tecnologia, com a finalidade de excluí-la da corrida pela fronteira tecnológica, é inútil. E isso, por várias razões:
- A China investe fortemente na capacitação de sua força de trabalho e vem repatriando parte dos cientistas e engenheiros formados no exterior;
- Prioriza o desenvolvimento do software ao hardware, vinculando-se muito mais profundamente à Revolução Científico-Técnica que tem como principal fundamento a qualificação e o aumento do valor da força de trabalho;
- Desenvolve softwares de arquitetura aberta articulando a contribuição de trabalhadores de todo o mundo.
China e a batalha de eras
Está em curso no mundo uma luta entre século 21, que quer nascer, e o século 20, que busca deter a marcha da história da humanidade, mesmo que para isso seja necessário destruí-la.
De um lado, temos um paradigma emergente baseado na socialização. Ele se materializa no protagonismo do conhecimento sobre a tecnologia material, das energias renováveis sobre os combustíveis fósseis, do diálogo sobre a força, da paz sobre a guerra e da propriedade coletiva sobre a privada.
A China, hoje, responde por 80% da produção de energia renovável no mundo e em segundo lugar está a Indonésia, que acaba de se associar ao Brics como membro pleno. Embora as energias renováveis respondam por 20% da produção de energia, atualmente se prevê que em 2050 possam responder pela metade.
Do outro lado, lá está o imperialismo, o territorialismo, a intimidação, a coação e a guerra. Este projeto traz a pretensão de retomar o Destino Manifesto em versão aditivada, estendendo o espaço vital estadunidense para todo o Hemisfério Ocidental, da Groenlândia até a Terra do Fogo.
Ele se baseia no controle espacial, reage contra a emergência do paradigma verde e mantém a sua aposta em uma economia mundial baseada em combustíveis fósseis, sobre os quais pretende criar monopólios, protetorados e dependências permanentes.
Este é o sentido mais profundo do dilema que esta em curso no mundo atual.
Senhoras e senhores, ajustem as suas teorias.
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Não podemos olhar os dilemas do mundo contemporâneo com visões que mirem o nosso tempo com as mesmas estruturas mentais do territorialismo e do domínio das energias fósseis sobre o planeta.
Edição: Guilherme Ribeiro