Nesta terça-feira (28), uma megaoperação com 2.500 agentes foi deflagrada nas comunidades do Complexo do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, sob o nome de “Operação Contenção”. O saldo oficial: quatro policiais mortos e, segundo denúncias de moradores e entidades de direitos humanos, mais de 130 civis executados. Um massacre.
O governador Cláudio Castro, bolsonarista, declarou que as únicas vítimas foram os policiais mortos, negando a existência de execuções, mesmo diante de corpos largados nas ruas e denúncias de desaparecidos. O silêncio ou a cumplicidade institucional transforma a violência em política de Estado.
A operação foi imediatamente apropriada como trunfo de campanha. Embora não tenha sido planejada em período eleitoral formal, foi usada como vitrine política por setores já em plena campanha para as eleições gerais de 2026. Serviu de palanque e demonstração de força, não contra o narcotráfico, mas contra territórios marginalizados, com fins eleitorais.
Traficantes resistiram com táticas de guerrilha urbana: incendiaram veículos, bloquearam avenidas, usaram drones com explosivos. Um cenário de guerra. Mais de 45 escolas fecharam, dezenas de linhas de ônibus foram suspensas. A cidade viveu dias de terror. E o que é mais grave: a repressão não poupou ninguém, nem crianças.
Diante da tragédia, o presidente Lula foi enfático: defendeu o combate ao crime organizado, mas com inteligência e proteção da vida. “Precisamos de um trabalho coordenado que atinja a espinha dorsal do tráfico sem colocar policiais, crianças e famílias inocentes em risco”, disse. O governo federal criticou a estratégia baseada em confronto e defendeu o uso de inteligência para desarticular a estrutura do tráfico.
Cannabrava | Guerra civil no Rio de Janeiro: entre o massacre e a cumplicidade
O Supremo Tribunal Federal, por meio do ministro Alexandre de Moraes, determinou que o governador preste esclarecimentos. O presidente do STF, Edson Fachin, pediu discrição e sobriedade, sinalizando que o tribunal está atento à gravidade dos fatos.
A repetição de chacinas nas favelas brasileiras não pode mais ser naturalizada. É preciso romper o ciclo de violência que alimenta a política do medo e a propaganda eleitoral. O Estado que mata não pode se dizer democrático. Justiça para as vítimas. Memória para os territórios. E responsabilidade para quem governa.





