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Foto: Nicolás Maduro / Facebook

Chavismo transforma tempestade golpista em garoa e assegura soberania venezuelana

Como dizia Bolívar, “Os Estados Unidos parecem destinados pela providência a cobrir a América de fome e miséria, em nome da liberdade”.
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Se acreditássemos nas notas de imprensa recebidas nos últimos dias, poderíamos supor que na Venezuela se viveu a véspera de um dilúvio, que a fúria da natureza se abateu sobre Caracas e outras cidades e que a América inteira esteve prestes a presenciar, ao vivo e a cores, um choque de titãs.

Como na fábula do Parto dos Montes, o que emergiu após prognósticos tão catastróficos foi um “rato”, ou seja, um pequeno cenário de paz e uma cerimônia ritual, similar à que ocorre em qualquer outro país.

No caso, a normalidade se expressou no fato de que o presidente eleito nas eleições passadas assumiu seu cargo diante de dois mil convidados vindos de 125 países e em meio a uma impressionante presença cidadã, que reafirmou o caminho traçado há 25 anos pela Pátria de Bolívar.

O tema de qual pessoa assumiria a condução do governo, no final das contas, revelou-se pouco relevante. Em todo caso, expressava a forma que tomou o confronto ocorrido nos últimos meses; mas isso não era o mais importante. O importante, era a essência da contradição que se operava no solo venezuelano, que foi utilizada como arma de guerra por setores empenhados em alterar a história.

Destinos de um processo libertador

O que esteve em jogo no país irmão foi o destino de um processo libertador que, há um quarto de século, orienta o caminho percorrido pelo povo venezuelano.

Primeiro foi Hugo Chávez; depois, Nicolás Maduro. Mas, além dos nomes das pessoas, está em questão o destino de uma nação solidária que busca ser independente e soberana, algo incompreendido por segmentos que se esforçam para se perpetuar como “classe dominante” e que buscam apoios sórdidos e caminhos nefastos.

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Para compreender melhor o tema que nos ocupa, é necessário olhar para a história. Há 200 anos, Simón Bolívar libertou um território submetido ao domínio espanhol — Capitania Geral, como era chamado — e fundou uma verdadeira Pátria. Para isso, usou armas, organizou exércitos, travou batalhas e fundou repúblicas.

Nesse percurso tumultuado, contou com muitos partidários, mas também enfrentou inimigos. Houve aqueles que se opuseram a ele e defenderam o regime colonial. Ainda hoje, há quem procure manchar sua memória e se regozije em chamá-lo de “ditador”, “autocrata” ou “tirano” (o mesmo disseram de Fidel e Chávez). Eventualmente, esses indivíduos anseiam pelo passado colonial e, como ele já não existe, recriam-no, exaltando a Espanha e aplaudindo freneticamente aqueles que consideram seus ancestrais. Chegam até a ver no líder do partido VOX, Santiago Abascal, a reencarnação de um dos últimos vice-reis.

Sanções econômicas e mentiras

Para atacar a Venezuela, silenciam-se diante das 920 sanções econômicas impostas por Washington para castigá-la, negam a recuperação econômica, inventam tragédias inexistentes e agora até falam de “quatro peruanos desaparecidos”, embora não saibam onde nem quando. Tampouco sabem se realmente desapareceram ou mesmo se são peruanos. Mas continuam falando, incessantemente, para tentar alcançar o Guinness da mentira.

O país que Bolívar criou foi governado durante 175 anos por seus inimigos. Esses mesmos tiveram que admitir chamá-lo de “O Libertador”, mas se empenharam em esquecer seu legado, ignorar sua mensagem e transformá-lo em um ícone inofensivo, ao qual rendiam homenagens rituais, sem considerar sua vida nem sua obra.

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Em outras palavras, transformá-lo em uma esfinge incolor, inodora e insípida, uma figura lendária sobre a qual se podia falar sem conhecê-lo. Bolívar resistiu a tudo, até ao esquecimento. Pablo Neruda dizia que ele despertaria a cada 100 anos, quando o povo despertasse. E sim, ele voltou há 25 anos, no final do século passado. E foi para ficar.

Tomou forma, então, a República Bolivariana da Venezuela. Trata-se de uma sociedade de novo tipo, uma democracia participativa, que já realizou 26 consultas populares, exercendo sua própria democracia, certamente distinta daquela que conhecemos, cheia de bandidos, extorsionistas, estelionatários, assassinos e demagogos.

Cuba e Nicarágua

Curioso. As outras repúblicas americanas tiveram o mesmo destino que a Venezuela do século anterior. Isso aconteceu com apenas duas exceções: Cuba, que escolheu seu próprio caminho há 66 anos, e a Nicarágua, que iniciou em 1979 para retomar sua bandeira libertadora em 2007. Em outros países – e também no nosso, o Peru – ocorreram fenômenos pontuais, mas não foi possível estabelecer um caminho definido.

Por isso, não surpreende que vários governos desta parte do mundo se alinhem docilmente com Washington e, de joelhos, acatem “as medidas” do Departamento de Estado. E que um bando de delinquentes – todos ex-presidentes – se reúna no Panamá para “dar força” à conjura fascista na Venezuela.

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Em uníssono, a “Grande Imprensa” se encarregará de promover uma tempestade vazia, na qual se afogará o iludido González, como ocorreu com Juan Guaidó, embora – assim como ele – fique envolto em milhões de dólares, tal como María Corina Machado após simular sua falsa detenção.

O caso é claro. Na Venezuela, Nicolás Maduro estabeleceu sua gestão e o regime bolivariano governa com o apoio de seu povo. Edmundo, com o aval da Casa Branca, apoiará de forma subserviente as ações de Trump para “recuperar” o Canal do Panamá, anexar o Canadá após Trudeau, alinhar a Groenlândia e proclamar o Golfo do México como o Golfo dos Estados Unidos. Mas não poderá emitir um passaporte nem vender um barril de petróleo.

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Em outras palavras, ficará apenas para sonhar com o “Destino Manifesto”. Desenhando-o, Bolívar disse em seu tempo: “Os Estados Unidos parecem destinados pela providência a cobrir a América de fome e miséria, em nome da liberdade”.

Nesse jogo sinistro, Dina Boluarte terá um papel mesquinho e insignificante. Seus 3% não são suficientes para falar “em nome dos peruanos”. Além disso, se “apoiasse” Maduro, lhe causaria um enorme prejuízo. É melhor, então, que ela se recorde de seus próprios crimes – os de Juliaca – e permaneça onde está: na porta do banheiro, em vez de se unir a essa falsa tempestade.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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