Desesperado por mostrar iniciativa e eficácia em combater a onda de criminalidade que afeta o Chile, o governo do presidente Gabriel Boric lançou um plano de intervenção que envolve incrementar a presença policial em 46 dos 346 municípios do país, aqueles onde acorre mais da metade dos delitos de alto conotação pública e onde reside um terço da população nacional.
Em curto prazo, o Governo implementará um plano de intervenção para diminuir os homicídios e delitos violentos denominado “Ruas sem violência”, nas comunas (municípios) e setores (bairros) com maior concentração desses fatos. Em particular, será elaborada uma estratégia de intervenção específica para cada território com base em um trabalho coordenado com Carabineiros, a Polícia de Investigação e o Ministério Público, explicou o governo.
Segundo o subsecretário do Interior, Manuel Monsalve, “o primeiro elemento que queremos garantir é a perseguição penal efetiva. Se há um delito violento nessas comunas, esse vai ser perseguido e o responsável vai ser encontrado e sancionado”, agregando que na capital “não vai haver distinção entre os fronteiros dos comunas”.
Atormentado por uma oposição direitista que não dá trégua e que fez do tema delinquencial seu cavalo de batalha diário para fustigar Boric, o anúncio busca contestar a militarização reclamada e apoiada por senadores do oficialista Partido Socialista.
O Executivo argumenta que este plano é parte de uma “Política Nacional contra o Crime Organizado, uma estratégia de longo prazo que tem por objetivo desbaratar organizações criminosas, diminuindo seu poder de fogo e econômico”.
A percepção cidadã de que as coisas saíram do controle alcançou seu máximo quando em três semanas, entre março e abril, foram assassinados três agentes, o que deu lugar a manifestações públicas de respaldo às polícias, repúdio aos migrantes e, inclusive, uma marcha de esposas e casais de carabineiros exigindo proteção e denunciando as carências de material que equipa os fardados.
O plano governamental, além de aumentar a presença policial “em setores altamente conflitivos para diminuir a percepção de insegurança, priorizando os setores e horários com maior probabilidade de ocorrência de homicídios”, também inclui fiscalizar o tráfico e porte ilegal de armas, os controles de identidade e a busca de pessoas com ordem de detenção.
Quanto à “perseguição penal efetiva” para esclarecer homicídios e delitos associados, serão criadas equipes “altamente treinadas e especializadas em investigações criminais”.
Presidência Chile
Segundo enquetes, até 80% dos consultados considera que a delinquência é o principal problema nacional
Também é considerado um “pilar preventivo” para 120 municipalidades onde se fortalece a presença do Estado nos espaços públicos, para o qual em 2023 se destinarão aproximadamente 25 milhões de dólares em programas de melhoramento urbano.
Segundo disse o ministro de Justiça, Luis Cordero, “o dado mais relevante para explicar a atual crise de insegurança é o veloz aumento de homicídios com imputado desconhecido”, explicando que “entre 2005 e 2013, 79% dos homicídios ocorridos no Chile tinha um imputado conhecido, isto é, se identificava e castigava o autor”, mas atualmente, “com os dados de 2022, a situação – especialmente na Região Metropolitana – é completamente inversa: sete de 10 homicídios hoje não contam com um imputado”.
Segundo enquetes, até 80% dos consultados considera que a delinquência é o principal problema nacional e quase 70% crê que a imigração ilegal é a causa daquilo.
Aldo Anfossi | La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
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