Ao mesmo tempo em que a direita chilena ratificou que não concorreria nesta segunda-feira, 11 de setembro, à comemoração do 50º aniversário do golpe de Estado no Chile, e que não firmaria uma carta proposta pelo presidente Gabriel Boric para “cuidar e defender a democracia”, “enfrentar os desafios com mais democracia” e promover os direitos humanos, quatro ex-governantes subscreveram esse documento.
Entre aqueles que o assinaram estão o direitista Sebastián Piñera, que se distanciou de seu setor, gerando mal-estar, embora tenha declinado ir ao ato oficial na Praça da Constituição. Os outros ex-governantes são Michelle Bachelet, que confirmou sua assistência, Eduardo Frei Ruiz-Tagle e Ricardo Lagos, que não estiveram presentes, o primeiro por viagem fora do país e o segundo por se recuperar de uma queda.
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A decisão dos líderes dos partidos Unión Demócrata Independiente (UDI), Javier Macaya, Renovación Nacional (RN), Francisco Chahuán, e Evolución Política (Evopoli), Gloria Hutt, é outra volta do parafuso ao polarizado, enrarecido e “elétrico” – como o definiu Boric há alguns dias – ambiente que rodeou a comemoração do meio século transcorrido desde o derrocamento do presidente socialista Salvador Allende e o início da sanguinária ditadura militar encabeçada por Augusto Pinochet, que entre assassinados, desaparecidos, presos políticos e torturados deixou mais de 40 mil vítimas diretas, segundo duas investigações oficiais.
Foto: Reprodução
Ditadura de Pinochet deteve, torturou e desapareceu inclusive com mulheres gravidas e não se sabe o que houve com as criaturas em gestação
Crispações e negacionismo
Outras mostras da desacordo se sucederam na Câmara de Deputados, onde direitistas se recusaram a guardar um minuto de silêncio em homenagem a legisladores esquerdistas detidos e desaparecidos. Houve ainda um aberto negacionismo em torno a delitos de lesa humanidade, por exemplo, recusando que houvesse mulheres grávidas detidas, torturadas e desaparecidas, quando há ao menos nove casos documentados, sobre as quais desconhece-se ainda o que aconteceu com as criaturas em gestação.
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A direita, praticamente como nunca nas cinco décadas transcorridas, saiu a disputar que houve causas que poderiam explicar e inclusive justificar a ruptura institucional de 1973 e insiste que há responsabilidades compartilhadas, desconhecendo o intervencionismo desestabilizador dos Estados Unidos.
Os opositores, na declaração “50 anos da quebra da democracia”, explicam sua decisão, ao assinalar que o golpe “marcou a culminação de uma profundo fratura social e política que afetou gravemente nossa convivência, com efeitos cuja marca pesa até hoje em nossas relações e confianças”, agregando que “a vivência que cada pessoa experimentou e suas severas consequências nos obrigam a refletir sobre estas cinco décadas, tomar consciência das aprendizagens e erros cometidos por todos os setores, e mirar para o futuro”, “respeitando as diferenças e histórias próprias, sem pretender impor verdades únicas, acolhendo com empatia a dor daqueles que sofreram”.
“Convidamos o Governo, e em particular o Presidente Gabriel Boric, a promover uma mensagem convocatória, que enfatize os aspectos que nos unem, sem ódio nem ressentimento”, agregaram.
Mas não mencionam a palavra “ditadura“, tampouco “golpe de Estado”, nem condenaram os crimes aberrantes cometidos entre 1973 e 1990.
Outra expressão da aspereza que prevalece é a aprovação de uma lei que endurece a perseguição da ocupação de prédios e/ou moradias, à qual legisladores incorporaram uma norma que permite que os proprietários, em determinadas condições, possam fazer uso da força por si mesmos, contratando agentes privados para desalojar os ocupantes.
Esse artigo, evidentemente associado à violência que prevalece em regiões do Sul, onde organizações armadas mapuche tentam recuperar terras ancestrais, será vetado pelo governo, segundo prometeu a ministra do Interior, Carolina Tohá.
Aldo Anfossi | Especial para La Jornada desde Santiago do Chile
Tradução Beatriz Cannabrava
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