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ToggleA senadora socialista Isabel Allende Bussi (80), filha do ex-presidente do Chile Salvador Allende Gossens (1970–73), na última quinta-feira (3) foi destituída de seu cargo por decisão do Tribunal Constitucional (TC), ao considerar que ela transgrediu o impedimento que proíbe parlamentares, no exercício do mandato, de se beneficiarem com a celebração de contratos de compra e venda com o Estado.
A situação remete ao fiasco em que se transformou a intenção do governo do presidente Gabriel Boric de adquirir, por cerca de 933 mil dólares, a casa particular em que o ex-mandatário viveu grande parte de sua vida, com o objetivo de transformá-la em um museu que preservasse sua memória.
A destituição da senadora, além de representar um golpe político importante, evidencia a negligência grosseira com que atuou o governo de Boric, já que falharam todos os controles administrativos relativos à legalidade da operação.
A aquisição dessa propriedade, junto com outras duas que pertenceram ao também presidente democrata-cristão Patricio Aylwin (1990–94), foi anunciada em 31 de dezembro de 2024, mas dois dias depois se tornou um escândalo, quando vieram à tona as proibições constitucionais em vigor, já que familiares de Allende são proprietários do imóvel e ocupavam cargos públicos — portanto, não estavam legalmente autorizados a realizar contratos com o Estado.
Entre os donos da residência estão a então ministra da Defesa, Maya Fernández Allende — que perdeu o cargo em 10 de março, na véspera de uma acusação constitucional contra ela, que acabou sendo rejeitada —, e a senadora Allende Bussi, neta e filha, respectivamente.
A Constituição determina que, “durante o exercício do cargo, os ministros estão proibidos de celebrar ou caucionar contratos com o Estado, e também que perderá o cargo o deputado ou senador que, durante seu mandato, celebrar ou caucionar contratos com o Estado”.
Boric: Governo vai buscar saída legal para transformar casa de Allende em museu
Isabel Allende: 31 anos no Parlamento do Chile
O TC acolheu, por ampla maioria de oito votos a dois, a petição apresentada pelo ultraconservador Partido Republicano e pela coalizão direitista Chile Vamos.
Assim, após mais de 31 anos de permanência ininterrupta no Parlamento — sendo 16 como deputada (1994–2010), e depois, até o presente, como senadora —, a carreira política de Isabel Allende chega a um fim desonroso, quando ainda lhe restavam 11 meses de mandato, representando a Região de Valparaíso, pela qual seu pai também foi senador entre 1961 e 1969.
É a primeira vez que o colegiado do Poder Judiciário aprova a saída de um legislador de seu cargo.
Quando o caso veio à tona, a senadora afirmou: “Entregamos o mandato para que se rescinda o compromisso estabelecido”. E acrescentou: “toda a atuação da família foi de boa fé”.
No final de março, o presidente Gabriel Boric prestou depoimento de forma pessoal e voluntária na investigação judicial aberta para este caso, um inquérito que busca esclarecer supostas fraudes fiscais relacionadas aos contratos que estavam prestes a ser assinados.
Boric demitiu a então Ministra do Patrimônio Nacional, Marcela Sandoval, por causa dessa controvérsia e, no início de março, a ex-chefe do Ministério da Defesa, Maya Fernández, renunciou depois que a oposição ultraconservadora apresentou uma acusação constitucional contra ela, que foi rejeitada.
Greve do setor público exige melhorias trabalhistas
Trabalhadores do setor público pertencentes aos sindicatos de enfermagem, dos profissionais de serviços de saúde e empregados do setor público, apoiados pela Central Única dos Trabalhadores (CUT), realizaram uma greve nacional na quinta-feira (3) reivindicando melhores condições de trabalho.
A lista de reivindicações inclui a redução da semana de trabalho para 40 horas, o fim do emprego precário e um salário mínimo equivalente a aproximadamente US$ 725 por mês.
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