Diante da incessante marcha de filas neofascistas nos Estados Unidos, se escutam gritos de resistência desde bibliotecários a sindicalistas e veteranos militares ao redor do país que sabem que o futuro de seu país está em jogo aqui e agora.
A extrema desigualdade econômica é um grande triunfo de quatro décadas de neoliberalismo: segundo uma análise da Oxfam América neste mês, os aproximadamente 700 multimilionários estadunidenses com maiores fortunas hoje são um terço mais ricos que no início da pandemia em 2020; sua riqueza se incrementou em 86% desde 2013. Enquanto isso, a maioria da população está tratando de pagar dívidas por custos de saúde e educação, preocupando-se em como alimentar seus filhos; mais de meio milhão vivem sem teto no país mais rico da história.
Por isso a fúria de trabalhadores e pequenos agricultores que vão perdendo tudo o que lhes resta do chamado sonho americano; disso se nutre a desconfiança nas instituições de governo, nos meios, nas universidades; e isso aduba o terreno tão fértil para um projeto neofascista com líderes como Trump. “Eu sou o guerreiro de todos, eu sou sua justiça. Para aqueles que foram agredidos e traídos, eu sou sua represália”, repete em seus atos de campanha.
Ele promete usar as forças armadas para combater o crime e deportar imigrantes em massa. Quem não estiver com eles, é o inimigo. Toda esta ira se manifesta cotidianamente ao longo do país – não é abstrata e, de fato, está armada e já está disparando.
Os avanços dos neofascistas são reportados todos os dias. Por exemplo, nesta última semana, a PEN América reportou outro incremento de livros que estão sendo proibidos em escolas e bibliotecas durante o último semestre em várias partes do país; o total chega a mais de 4 mil desde meados de 2021.
Michael Fleshman/Flickr
Protesto por melhores salários e condições de trabalho. Nova York, dezembro de 2013. (imagem ilustrativa)
Por outro lado, um grupo financiado por multimilionários direitistas, o Foundation for Government Accountability, está buscando reduzir ou anular proteções e leis contra a mão de obra de menores de idade, só um dos múltiplos esforços para reverter direitos trabalhistas, proteções ambientalistas e direitos civis incluindo o voto.
As forças democratizadoras confrontam essa ofensiva em múltiplas frentes. Enquanto bibliotecários denunciam as proibições e conseguem fazer disponíveis títulos proibidos através de aliados em outras bibliotecas ou escolas, outros estão preparando novas lutas para democratizar o país.
Sindicalistas e aliados progressistas se solidarizam com o sindicato nacional Teamsters nas negociações com a mega empresa de carga e mensageira UPS, ao firmarem compromissos de se somar a eles caso exploda uma greve. Por outro lado, o grêmio de 11 mil escritores de televisão e cinema WGA votou por autorizar uma greve se não avançarem suas negociações.
A atividade sindical disparou nos últimos dois anos – um incremento de 53% de petições para eleições sindicais em 2022 com 200 mil trabalhadores agremiados, enquanto outros 60 milhões desejam ser sindicalizados. O apoio público de sindicatos – 71% – está em seu ponto mais alto em 60 anos, segundo a Gallup.
Outros, incluindo vozes inesperadas e surpreendentes, somam-se ao grito de resistência. “Passei a última década lutando contra o fascismo religioso no estrangeiro; nunca pensei que teria que lutar contra isso aqui nos Estados Unidos da América”, declarou um ex-comandante da Marinha na Flórida ao expressar-se contra as proibições de livros impulsionadas pelo governador Ron DeSantis. “Não sacrifiquei 21 anos de minha vida para ficar quieto enquanto fanáticos religiosos e outros tentam impor o fascismo sobre meu país”.
Esta é agora a batalha cotidiana ao norte do Rio Bravo.
David Brooks | La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.
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