“Colocar o PCC como organização terrorista abre caminho para intervenção estrangeira”, afirma Robinson Farinazzo, oficial da Marinha brasileira e especialista em tecnologia aeronáutica. O comandante concedeu entrevista ao programa Sul Globalizando com Vanessa Martina-Silva, desta quarta-feira (4), na TV Diálogos do Sul Global.
Farinazzo detalha que a proposta de classificar o Primeiro Comando da Capital (PCC) como grupo terrorista “abre a porta para uma intervenção no Brasil de forma legal”. “É exatamente esse o método das potências estrangeiras: primeiro quebram as suas pernas, depois te vendem a muleta”, lembra.
O comandante expõe também o contexto geopolítico em torno da Amazônia e denuncia o risco da militarização internacional da região: “Nenhuma agenda externa nos favorece. Todas as vezes que interesses euro-americanos penetraram numa sociedade, aumentou a violência”, afirma. Para ele, a verdadeira ameaça à soberania brasileira não se dá por invasão direta, mas por um processo de “descontrole, desgoverno e violência”, que pode forçar uma intervenção sob pretextos humanitários ou ambientais.
Sobre a atuação de ONGs na região amazônica, Farinazzo é taxativo: “Eu nunca vi banqueiro fazer caridade. Está na cara que isso precisa ser fiscalizado, precisa acabar.” Ele critica a proliferação de organizações não-governamentais na Amazônia e sugere que parte delas pode servir como instrumento de interesses estrangeiros.
O comandante também reflete sobre a relação do Brasil com as potências internacionais e reforça sua defesa pela articulação entre os países do Sul Global: “O Sul Global tem que se unir numa proposta desenvolvimentista, de melhoria social e, principalmente, soberanista”, defende.
No debate sobre o Brics, Farinazzo enfatiza: “O Brasil pode ser a embaixada do Brics. Se há um país que pode abrir caminho para os Brics com sua jovialidade e capacidade de se relacionar, é o Brasil.” No entanto, ele adianta: “Harmonizar culturas tão distintas será o maior desafio da próxima geração.”
Farinazzo também aborda a tentativa de Caracas de ingressar no grupo: “A Venezuela será integrada aos Brics, é uma questão de tempo. Mas o veto brasileiro, resultado da pressão imperial, foi um erro. Ela nunca vai deixar de ser nossa vizinha.”
Ao comentar a dependência tecnológica brasileira, o comandante é categórico: “As Forças Armadas brasileiras dependem totalmente de tecnologias como a Starlink. O Brasil não tem autonomia estratégica.” Nesse sentido, ele critica a falta de investimento e de visão estratégica na indústria nacional de defesa: “O brasileiro não enxerga, não quer debater defesa. E se você não quer debater, alguém vai falar por você.”
Por fim, Farinazzo reforça a necessidade de formação de novas lideranças e quadros no Brasil e na América Latina: “Precisamos preparar pessoas com visão humanista e social. O problema é que as lideranças atuais não formam sucessores e, quando vão embora, seus seguidores se fragmentam.”
A entrevista completa está disponível no canal da TV Diálogos do Sul Global, no YouTube: