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Foto: Gage Skidmore

Com ameaça de guerra, Trump culpa México por overdoses de fentanil nos EUA

"O México terá que se endireitar muito rapidamente", disse Trump em entrevista, prometendo atacar militarmente cartéis que "assassinam" estadunidenses
Jim Cason, David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Ataques militares estadunidenses contra os cartéis que controlam o México são “absolutamente” uma opção se o governo mexicano não resolver o problema de maneira devida e rápida, ameaçou o ex-presidente e candidato Donald Trump.

“O problema é que o México está aterrorizado pelos cartéis, porque podem eliminar um presidente em dois minutos”, declarou Trump em uma entrevista com a Fox News. Sentado junto com seu candidato a vice-presidente, J.D. Vance, Trump afirmou ao entrevistador que “os cartéis estão dirigindo o México”.

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Com Vance assentindo, mas sem dizer muito, Trump afirmou que os narcotraficantes estão assassinando centenas de milhares de estadunidenses a cada ano com fentanil e acrescentou que o tráfico de mulheres através da fronteira agora é grande parte do negócio do crime organizado no México. “Temos que tirar os criminosos, são assassinos”, indicou o candidato presidencial.

Trump reitera ameaça

Ante a pergunta sobre se os ataques militares contra os cartéis no México ainda estão sobre a mesa, Trump respondeu: “absolutamente”. O jornalista reitera a pergunta sobre ataques militares, “mesmo contra nosso principal sócio comercial”, ao que o ex-mandatário responde: “Absolutamente, o México terá que se endireitar muito rapidamente, ou a resposta é, absolutamente”.

Trump reiterou o que já disse centenas de vezes em seus discursos e entrevistas sobre o México. “Eu tive (como presidente) uma relação muito boa, como sabem, com o presidente do México. Havia o Permaneça no México, captura e libera (indocumentados que ingressaram nos EUA) no México – os liberávamos no México, não aqui”, acrescentou.

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“Em outras palavras, ninguém podia ingressar em nosso país. Vocês acham que isso foi fácil de conseguir? E eu consegui. Eu consegui (com a ameaça de taxas). Eu disse a eles que se não aceitassem, eu imporia impostos sobre os automóveis e tudo o mais que nos vendem a um nível de 50% a 100%”, alegou Trump. “De repente responderam que adorariam manter (os migrantes expulsos) no México” – enquanto Vance soltava o riso – “seria uma grande honra mantê-los no México. Temos grandes poderes se tivermos pessoas que sabem usá-los”, concluiu.

Kamala Harris e o tema migratório

A escolha da vice-presidenta Kamala Harris como candidata presidencial do Partido Democrata fará com que, inevitavelmente, os três meses restantes até as eleições girem, em grande parte, em torno do tema da imigração e, em particular, sobre como cada partido propõe abordar o fluxo de indocumentados que cruzam a fronteira desde o México.

Todos já sabem das extremas propostas anti-imigrantes no centro da agenda do candidato presidencial republicano Donald Trump, e agora a questão é como Harris responderá e se modificará, e como, as políticas que o presidente Joe Biden impulsionou.

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No início de sua presidência, Biden encarregou Harris de liderar os esforços de seu governo para abordar as “causas raízes” da migração para este país. Nos últimos três anos, funcionários da Casa Branca afirmam que o maior feito de Harris nesse aspecto foi uma aliança “público-privada” que arrecadou mais de 5 bilhões de dólares em investimentos na Guatemala, El Salvador e Honduras para mitigar os fatores que geram a migração desses países.

Políticas migratórias são centrais na disputa

Mas os resultados desse esforço – além dos fundos – ainda estão em disputa. Em sua primeira viagem à Guatemala em 2021, Harris falou sobre a importância de criar oportunidades para que as pessoas não se vissem obrigadas a migrar. Mas acrescentou, em um discurso transmitido pela televisão: “quero ser clara com as pessoas desta região que estão pensando em fazer essa perigosa viagem à fronteira entre os Estados Unidos e o México: Não venham, não venham”.

Esses comentários provocaram ira entre os defensores dos imigrantes, que argumentaram que exibiam falta de sensibilidade ante a situação dos mesmos e, pelo lado republicano, foi reprovado ao afirmar que o fluxo de pessoas desses três países, entre outros, havia aumentado nos anos seguintes.

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Mas, na prática, Harris frequentemente expressou simpatia pelos migrantes. Em algumas ocasiões, lembrou que seus pais migraram (o pai da Jamaica, a mãe da Índia) para os Estados Unidos, onde se conheceram como estudantes.

Com López Obrador

Em sua primeira reunião (foi virtual) com o presidente Andrés Manuel López Obrador em maio de 2021, Harris declarou que entendia que “a maioria das pessoas não quer deixar sua casa. Quando o fazem, frequentemente é porque estão fugindo de algum perigo ou foram obrigados a viajar porque não há oportunidades em seus países”.

Por sua vez, López Obrador agradeceu essa atitude e respondeu na ocasião que “agradecemos ao presidente Biden por nomeá-la para liderar os assuntos relacionados à migração. Este é um tema que entendo ser de grande importância para o presidente Biden, já que você foi designada, como vice-presidenta, para liderar todos os esforços em torno desses temas”.

Poucos meses após esse primeiro encontro, em uma reunião presencial com López Obrador em junho daquele ano, Harris reconheceu a complexidade do assunto migratório. “Esses temas de longo prazo, por sua natureza, nunca se resolverão da noite para o dia… mas é importante avançar e eu sigo otimista sobre o potencial desse avanço, também acredito que se reconhecermos a capacidade das pessoas, se investirmos em suas capacidades, veremos grandes resultados de nosso investimento”.

Sócio no tema

Harris chamou o México de “sócio” no tema migratório e acrescentou: “não posso dizer isso o suficiente: a maioria das pessoas não quer deixar seu lar”, reiterando que as pessoas se vão por perigo ou pela necessidade de apoiar suas famílias.

Três anos depois, tanto democratas quanto republicanos neste país parecem falar menos sobre as causas de fundo e mais sobre números. Em um comunicado à imprensa na terça-feira, a campanha de Trump declarou que “a czarina fronteiriça Kamala Harris é responsável pela invasão fronteiriça, que resultou em quase 100 terroristas rondando pelo país, centenas de milhares de estadunidenses mortos por fentanil, uma epidemia de tráfico de menores, resultando em assassinatos e segredos, e a ampliação de um novo tipo de crime, um crime diretamente vinculado às próprias crenças de Harris apoiadas por suas ações, liberando migrantes que se aproveitam e matam estadunidenses inocentes”.

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Desde que assumiu o papel de candidata presidencial no fim de semana passado, Harris manteve silêncio sobre os temas migratórios, e não os mencionou em seus dois primeiros discursos públicos após seu chefe se retirar da disputa e a endossar. E Biden, durante os últimos seis meses, se dedicou a competir com os republicanos para ver quem tem melhores medidas para “fechar’ a fronteira, limitar o acesso ao asilo, ampliar deportações e até reconstruir parte do famoso muro fronteiriço.

A espera e a regularização dos Dreamers

Agora todos estão à espera do que Harris fará sobre este assunto. Quando ela foi promotora da cidade de São Francisco, apoiou uma política municipal que obrigava as autoridades policiais a entregar imigrantes indocumentados jovens menores de idade às autoridades migratórias se fossem presos ou suspeitos de cometer crimes maiores, mesmo se não tivessem sido condenados por um crime, relatou a CNN. Mas como procuradora-geral do estado da Califórnia, declarou à CBS News que “um imigrante indocumentado não é um criminoso”, e captou o apoio da comunidade latina do estado.

Em sua primeira e breve campanha presidencial em 2020, Harris apoiou propostas para ampliar a regularização dos Dreamers – jovens que chegaram a este país com seus pais indocumentados –, algo que também apoiou como vice-presidenta, embora o governo Biden nunca tenha investido o capital político necessário para promover essa iniciativa.

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Kerri Talbot, diretora da ONG Immigration Hub, elogiou os esforços anteriores de Harris nesses temas. “Desde que era senadora e procuradora-geral da Califórnia, e agora como vice-presidenta, Kamala Harris tem sido uma das líderes proeminentes sobre reforma migratória, esforços para combater o crime transnacional e fortalecer a segurança fronteiriça”. Em seus primeiros dias de campanha presidencial, Harris desafiou seu adversário Trump sobre vários dos temas centrais desta disputa, mas ainda não respondeu às caracterizações direitistas antimigrantes e às preocupações nas sondagens públicas sobre o tema migratório.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Jim Cason Correspondente do La Jornada e membro do Friends Committee On National Legislation nos EUA, trabalhou por mais de 30 anos pela mudança social como ativista e jornalista. Foi ainda editor sênior da AllAfrica.com, o maior distribuidor de notícias e informações sobre a África no mundo.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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