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Muitos duvidam que campanha eleitoral seja capaz de desviar a atenção peruana dos problemas que atingem o país (Foto: Reprodução / X)

Com anúncio de eleições, Boluarte tenta abafar escândalos e crise social no Peru

Processo eleitoral é visto por analistas com uma distração criada pelo governo Boluarte em meio a violência, miséria e corrupção que alimentam tensões no Peru
Mariana Álvarez Orellana
Estratégia.la
Lima

Tradução:

Ana Corbisier

Em meio a uma crise generalizada, o governo da presidenta do Peru Dina Boluarte convocou eleições gerais para 12 de abril de 2026, daqui a mais de um ano, tentando desviar o foco da atenção popular, hoje concentrada no desgoverno que ela comanda, na instabilidade, pobreza e criminalidade.

Em sua mensagem, a mandatária destacou que os cidadãos peruanos terão a oportunidade de eleger o próximo presidente ou presidenta da República, assim como os congressistas do novo Congresso bicameral, que será renovado após a reforma política de 2020. Além disso, os peruanos também elegerão os representantes no Parlamento Andino.

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“Os peruanos têm um encontro com a história e, nesse processo, serão eleitas as autoridades em eleições limpas, transparentes e ordenadas”, afirmou a presidenta Dina Boluarte.

41 partidos estão atualmente aptos a participar daquele que será o processo eleitoral mais complexo da história peruana. Analistas advertem que Dina Boluarte não teria esperado a data limite de 12 de abril para a convocação, buscando distrair a cidadania dos altos e baixos de seu governo. Em sua mensagem, anunciou que seu governo manterá “absoluta neutralidade e imparcialidade para que os resultados do processo eleitoral sejam inquestionáveis e reflitam cabalmente a vontade popular expressa nas urnas”.

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Há outros 32 agrupamentos em processo de inscrição, sendo que três deles estão prestes a obter reconhecimento: APU, impulsionado por Aníbal Torres; Runa, de Ciro Gálvez; e Unidade Popular, de Duberlí Rodríguez.

Dina Boluarte esteja envolvida em um escândalo com relógios Rolex. Relembre aqui. (Imagem: Reprodução)

Flanqueada pelos titulares das três instituições que integram o Sistema Eleitoral – o Júri Nacional de Eleições (JNE), o Escritório Nacional de Processos Eleitorais (ONPE) e o Registro Nacional de Identificação e Estado Civil (Reniec) – Boluarte garantiu que esses organismos receberão os “recursos necessários”. Afirmou ainda confiar que as eleições contribuirão para “pôr fim ao período de instabilidade que levou o Peru a ter seis presidentes nos últimos anos, gerando uma polarização que apenas nos dividiu, com o consequente atraso dos investimentos e o aumento da onda de insegurança”.

Boluarte, em sua mensagem, reconheceu que espera que a convocação “abra um cenário de distensão”. No entanto, muitos duvidam que uma campanha eleitoral seja capaz de desviar a atenção da população da escalada da violência e do aumento contínuo no número de vítimas da criminalidade no país. Isso ainda está por se confirmar. O calendário eleitoral começa a correr, especialmente no que diz respeito à liberação de orçamento para os órgãos eleitorais.

A mandatária enfatizou a necessidade de consolidação do sistema democrático por meio do respeito aos períodos presidenciais. “Só assim poderemos dar estabilidade e governabilidade à pátria”, declarou. O anúncio da chefe de Estado será oficializado por meio de um decreto supremo, acompanhado de outras disposições da Presidência do Conselho de Ministros destinadas a garantir a neutralidade governamental no processo.

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José Manuel Villalobos, diretor executivo do Instituto Peruano de Direito Eleitoral, explicou que, com a convocação feita, servidores e entidades públicas “ficam impedidos de realizar publicidade estatal, salvo em casos de necessidade e utilidade pública e mediante autorização prévia do Júri Nacional de Eleições”. Além disso, as publicidades institucionais não poderão conter imagens de autoridades ou funcionários do Estado.

Peruana carrega cartaz em que acusa: “Dina, Dina, Dina, traidora e assassina” (Foto: Reprodução)

Após a convocação das eleições, voltou ao debate o tema das reformas eleitorais pendentes de aprovação. Fernando Rospigliosi Capurro, presidente da Comissão de Constituição do Congresso, esclareceu que o Parlamento poderá continuar aprovando leis eleitorais até 12 de abril de 2025, ou seja, um ano antes das eleições de 2026. Rospigliosi ressaltou que isso é possível porque a convocação das eleições e o início do ano prévio às eleições gerais são dois momentos distintos no calendário político.

Os analistas indicam que a convocatória para o processo eleitoral tem um propósito de distração: envolver a sociedade, a imprensa e os políticos nas campanhas para reduzir as tensões sucessivas que o país e seu governo enfrentam. O objetivo seria desviar o foco da atenção — atualmente centrada no mal governo, na criminalidade e na corrupção — para as eleições futuras, diluindo essa preocupação ao longo do ano que resta até o pleito.

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“As eleições devem pôr fim à instabilidade que levou o país a ter seis presidentes em apenas alguns anos”, acrescentou Boluarte, mais como desejo do que como certeza.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Mariana Álvarez Orellana Antropóloga, docente, pesquisadora e analista peruana associada ao Centro Latino-americano de Análise Estratégico (CLAE, www.estrategia.la)

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