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ToggleO Exército israelense realizou, nesta sexta-feira (13), um bombardeio de larga escala contra “dezenas de alvos” ligados ao programa nuclear do Irã e outros pontos militares. Israel atacou instalações nucleares, fábricas de mísseis balísticos e altos-comandantes iranianos, dando início ao que adverte ser “uma operação prolongada para impedir que a República Islâmica construa bombas atômicas”.
As forças de colonização e invasão de Israel atingiram durante a noite várias áreas de Teerã e de outras localidades iranianas, sob o pretexto de desmantelar o programa atômico persa, ao qual acusam — sem provas — de perseguir fins militares. Em 5 de junho, Israel bombardeou zonas densamente povoadas de Beirute, capital libanesa; na madrugada desta quinta (12), invadiu a Síria e sequestrou várias pessoas. Assim, em uma única semana, as tropas israelenses agrediram três nações soberanas.
Isso, somado à ocupação permanente dos territórios palestinos, à ampliação de anexações ilegais de terras no Líbano e na Síria e ao rapto de um navio da Flotilha da Liberdade que levava ajuda humanitária urgente à Faixa de Gaza, evidencia níveis desumanizados de violência. Se trata de mais uma prova de que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, está disposto não apenas a exterminar o povo palestino, mas a arrastar o mundo inteiro a uma guerra total, se for necessário, para adiar os julgamentos por corrupção que enfrenta em seu país e as acusações globais de genocídio — se mantendo, assim, no poder.
Há três dias, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos (EUA), pediu a Netanyahu que se abstivesse de iniciar confrontação com Teerã, enquanto prosseguiam as negociações bilaterais sobre o desenvolvimento da tecnologia atômica iraniana. Mas Netanyahu deixou claro que Israel faz “o que quiser, quando quiser, como quiser e contra quem quiser”, certo de que nenhuma transgressão abalará o apoio incondicional de Washington e de Trump ao projeto sionista.
Antes foi o Líbano, agora o Irã: o mundo treme
Meios de comunicação europeus apontam que a ultradireita israelense não teria pretextos para atacar o Irã se, em seu primeiro mandato, Trump tivesse respeitado o histórico acordo nuclear de 2015, firmado entre Washington e Teerã — com China, Rússia, França, Reino Unido e Alemanha como avalistas —, que garantia supervisão sobre o programa nuclear iraniano em troca de aliviar sanções ilegais que sufocavam o povo da República Islâmica.
Em represália, Teerã lançou mais de cem drones contra território israelense, enquanto o Exército de Netanyahu afirmou “trabalhar para interceptar as ameaças”, sem informar se elas foram neutralizadas ou causaram danos. O Irã advertiu que Tel Aviv enfrentará “um destino amargo e doloroso”, confirmou a morte do comandante da Guarda Revolucionária Islâmica, Hossein Salami, e responsabilizou os Estados Unidos pela pior escalada regional desde a guerra com o Iraque na década de 1980.
O primeiro-ministro israelense afirmou, em vídeo divulgado na rede social X (ex-Twitter), que a operação militar “continuará por tantos dias quanto necessário para eliminar a ameaça” iraniana e garantiu que “nunca mais” — lema usado por judeus para denunciar o Holocausto — “é agora”. Netanyahu agradeceu Trump por “sua liderança no enfrentamento ao programa de armas nucleares do Irã”.
Contudo, o secretário de Estado estadunidense, Marco Rubio, negou envolvimento de Washington nos ataques, assegurando que se tratam de uma “ação unilateral” de seu principal aliado no Oriente Médio.
Meios de comunicação iranianos também informam sobre a morte do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas do Irã, o general Mohamad Hosein Baqeri. Pelo menos outros seis cientistas nucleares iranianos morreram em decorrência das bombas israelenses. “Dezenas de aviões do Exército concluíram a primeira etapa, que incluiu ataques contra dezenas de alvos militares, inclusive instalações nucleares em diferentes regiões do Irã”, acrescentou um comunicado do Exército israelense.
Segundo o governo de Israel, liderado pelo primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, o ataque contra o Irã é uma operação “ofensiva, preventiva, precisa e combinada, baseada em inteligência de alta qualidade”. O premiê informou que a ofensiva atingiu o programa nuclear iraniano — que teria “urânio altamente enriquecido suficiente para fabricar nove bombas atômicas” —, “os principais cientistas” supostamente envolvidos em uma bomba nuclear e o “programa de mísseis balísticos” do país.
Para justificar a ação, um porta-voz militar israelense afirmou que, há anos, Israel monitora o Irã e que recentemente ocorreram “avanços significativos” na capacidade iraniana de desenvolver uma bomba nuclear. Segundo a mesma fonte, Teerã possui material “suficiente para 15 bombas nucleares”. Outros motivos citados para o ataque foram os milhares de mísseis balísticos ainda em posse do Irã, que, de acordo com Israel, representam parte da “ameaça existencial”. O Exército israelense mencionou ainda a colaboração iraniana no armamento de facções regionais que depois atacam Israel, em referência aos houthis no Iêmen e ao Hezbollah no Líbano.
“Não há motivo para preocupação no país, e o regime sionista e os Estados Unidos pagarão um alto preço e receberão um forte golpe”, afirmou um porta-voz da Guarda Revolucionária iraniana, denunciando que “foram atingidas áreas residenciais, o que revela a humilhação do inimigo, incapaz de enfrentar o país”.
As mortes de altos-comandantes iranianos vieram à tona após explosões nas instalações da usina nuclear de Natanz, a mais importante do Irã, situada no centro do país, cerca de 300 quilômetros ao sul de Teerã. O Exército israelense confirmou ter causado “danos significativos” nessa planta de enriquecimento de urânio.
Enquanto isso, o ministro da Defesa de Israel, Israel Katz, declarou “imediatamente o estado de emergência” em todo o país. O anúncio foi feito após reunião com altos-comandantes militares “horas antes do início da Operação ‘Am Kalavi’ no Irã”.
Pela manhã, sirenes antiaéreas soaram em todo o território israelense a fim de despertar a população e prepará-la para um possível ataque de retaliação iraniano que “poderia ser iminente”. “Após o ataque preventivo do Estado de Israel contra o Irã, espera-se num futuro imediato um ataque com mísseis e aviões não tripulados contra o Estado de Israel e sua população civil”, explicou nota divulgada pelo gabinete de Katz.
Por sua vez, o chefe do Estado-Maior das FDI, Eyal Zamir, declarou que o país se encontra “num ponto de não retorno” em que “não se pode esperar por outro momento para agir. Há muito tempo nos preparamos para esta operação”, afirmou, acrescentando que o Exército “mobiliza dezenas de milhares de soldados”. Zamir advertiu a população israelense sobre uma possível resposta iraniana, indicando que “o número de vítimas será diferente do que estamos acostumados”.
Apoio dos EUA
O presidente estadunidense se alinhou claramente a Israel após os ataques e assegurou que seu governo deu ao Irã “uma oportunidade atrás da outra” para chegar a um acordo que dissipasse dúvidas sobre o programa nuclear iraniano. Na realidade, Washington e Teerã negociam há semanas: Trump exige um pacto o quanto antes e ameaça o Irã com fortes represálias caso não ceda, pois, segundo ele, a situação “só irá piorar”.
“Eu lhes disse que tudo seria muito pior do que qualquer coisa que conhecessem”, explicou Trump em mensagem publicada na rede Truth Social, defendendo tanto a capacidade militar dos Estados Unidos — “a melhor e mais letal” do mundo “de longe” — quanto a de Israel, que “já possui muito e, no futuro, terá muito mais”. “E eles sabem como usar”, acrescentou.
“Irã deve chegar a um acordo antes que nada reste e salvar o que um dia foi conhecido como o império iraniano”. Deve fazê-lo, acrescentou Trump, “antes que seja tarde demais”, afirmou, após lembrar que alguns dirigentes iranianos da “linha dura” falaram “corajosamente” e agora “estão todos mortos”. Ele sustentou que a escalada não é inevitável e que “ainda há tempo para pôr fim a este massacre, pois os próximos ataques já planejados seriam ainda mais brutais”.
Segurança nuclear em risco
A Agência Internacional de Energia Atômica (Aiea) lembrou que ofensivas como a de sexta-feira, conduzida por Israel contra o Irã, têm “graves implicações para a segurança nuclear” e violam normas da Organização das Nações Unidas (ONU) que proíbem ações armadas contra instalações atômicas.
“Este acontecimento é muito preocupante. Afirmei repetidas vezes que instalações nucleares nunca devem ser atacadas, independentemente do contexto ou das circunstâncias, pois isso pode prejudicar pessoas e o meio ambiente”, declarou o diretor-geral da Aiea, Rafael Grossi.
Obviamente, todos esses episódios de horror só são possíveis graças à permissividade da comunidade internacional — em especial da supostamente democrática Europa — em relação a Israel, seus crimes de guerra, genocídio à vista de todos, assassinatos de funcionários estrangeiros, atos de terrorismo em terceiros países e violações permanentes dos direitos humanos. Com tal permissividade, a segurança nuclear de todo o planeta encontra-se em risco.