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Foto: José Cruz/Agência Brasil

Com Brasil à frente, Brics planeja aliança global contra doenças ligadas à desigualdade

Parte das propostas do Brics para 2025, iniciativa inclui cooperação em pesquisa e produção de vacinas para combater doenças como tuberculose e diarreia infantil
Inez Mustafa
Brics Brasil 2025
Brasília (DF)

Tradução:

Com foco no desenvolvimento humano e social, a cooperação do Brics tem a saúde como um dos temas centrais. Sob a presidência brasileira, os países apresentarão iniciativas voltadas à eliminação das doenças e infecções socialmente determinadas (SDD, na sigla em inglês) e das doenças tropicais negligenciadas (NTD, na sigla em inglês).

Por meio de estratégias integradas e colaborativas entre os países-membros, o grupo Brics promove iniciativas para erradicar as SDD, tanto no âmbito interno quanto no externo. Sob a presidência brasileira do grupo, uma das medidas da cooperação de saúde do Brics é a formalização da Aliança para a Eliminação das Doenças Socialmente Determinadas e das Doenças Tropicais Negligenciadas.

Informações: Ministério da Saúde

Alexandre Ghisleni, Chefe da Assessoria Especial de Assuntos Internacionais do Ministério da Saúde do Brasil, destacou que essa iniciativa já conta com antecedentes importantes. “No âmbito nacional, o trabalho que nós temos feito, no Brasil, tem-se materializado num impacto positivo no combate às doenças socialmente determinadas”, afirmou. Como exemplo, ele citou estudos que mostram como o Bolsa Família ajudou a reduzir em até 40% os casos de tuberculose no país, servindo de inspiração para políticas semelhantes em outros países, como a Índia.

Abordagem Holística e Sustentável

Apesar da existência de medidas de controle e de prevenção, essas doenças impõem desafios à saúde pública entre populações vulneráveis com menor indicador socioeconômico, limitado acesso à água limpa, saneamento básico inadequado, refletindo os determinantes sociais de saúde. Sob a presidência brasileira, a cooperação em saúde entre os países do Brics priorizará a promoção da equidade, especialmente aos tratamentos, diagnósticos e vacinas no desenvolvimento de tecnologias emergentes em saúde.

Alexandre Ghisleni: “A gente quer que a cooperação em matéria de saúde seja não apenas de utilidade para os países membros, mas que também ajude a impulsionar o tratamento dessas doenças em fóruns multilaterais, como a ONU e a OMS”

Ghisleni explicou que a abordagem proposta pelo Brasil é ampla e holística. “A gente precisa montar uma agenda que não apenas interrelacione diferentes setores, mas que atue pelo mesmo objetivo mais amplo, que é o de fortalecimento e de construção de sistemas nacionais de saúde resilientes, pautados por esse critério de equidade”, disse. Entre as prioridades estão o treinamento de profissionais de saúde, a harmonização regulatória, a pesquisa em tuberculose, a produção de vacinas e a construção de hospitais inteligentes.

Quais as prioridades do Brasil durante a presidência do Brics em 2025?

Programa Brasil Saudável

Essa prioridade da agenda brasileira no Brics está alinhada às ambições domésticas do país. Em 2024, o governo brasileiro lançou o Programa Brasil Saudável, que visa à eliminação das doenças determinadas socialmente. Esse programa conecta a redução das desigualdades socioeconômicas no Brasil à erradicação das doenças socialmente determinadas. Assim, as ações do programa vão além do setor de saúde, dialogando com outros setores do governo relacionados à moradia, renda, acesso ao saneamento básico e educação.

Ghisleni ressaltou que o Programa Brasil Saudável é uma iniciativa inovadora e multisetorial. “São mais de dez ministérios reunidos para tratar da política de eliminação dessas doenças dos seus mais diferentes ângulos, com a participação social”, explicou. Ele destacou que o programa é uma fonte de inspiração para a proposta de eliminação de doenças socialmente determinadas no âmbito do Brics, e que há interesse dos demais países em replicar ou adaptar essas estratégias.

Impactos Concretos e Expectativas Futuras

A cooperação entre as nações do Brics ajuda a promover a equidade na saúde global, especialmente em regiões com poucos recursos, eliminando essas doenças como problemas de saúde pública e aumentando a eficácia das intervenções. Ghisleni acrescenta que essa colaboração aprimora os serviços de saúde e os sistemas de educação, saneamento e vigilância, permitindo que esses sistemas respondam a emergências e crises de saúde da forma mais eficaz possível.

Sobre a formalização da Aliança para a Eliminação das SDD e NTD, Ghisleni destacou que as expectativas são altas. “A aliança pode fortalecer o tratamento de sistemas no âmbito nacional e dar visibilidade para esses temas no âmbito multilateral”, afirmou. Ele também mencionou a possibilidade de criar redes de pesquisa para o desenvolvimento de novas drogas, vacinas e medicamentos, além de treinar e mobilizar forças de trabalho em saúde para atender às necessidades dos países membros e cooperar uns com os outros.

O Potencial do Brics na Saúde Global

O Brics reúne cerca de 48,5% da população global e 39% do PIB mundial. Ghisleni enfatizou que o bloco tem peso geopolítico significativo e que a cooperação em saúde pode servir de modelo para outros países. “A gente quer que a cooperação em matéria de saúde seja não apenas de utilidade para os países membros, mas que também ajude a impulsionar o tratamento dessas doenças em fóruns multilaterais, como a ONU e a OMS”, disse.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Inez Mustafa

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