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Com Eduardo Bolsonaro, nova direita se organiza pra fascistizar — mais — o país

Em evento com conservadores, Damares Alves disse que precisam de 12 anos para mudar o que está aí; A Diálogos do Sul já avisou que o plano deles é ficar 40
Paulo Cannabrava Filho
Diálogos do Sul Global
São Paulo (SP)

Tradução:

Muito divertida a foto manchete do Estadão da última quarta-feira, 16, em que aparece o ex-capitão, de turno na Presidência, no gesto de quem aponta uma arma para a cabeça de Sérgio Moro. O superministro da Justiça aparece com a cabeça baixa, as mãos espremidas de quem foi atingido mortalmente. Ao lado, o superministro da Economia, Paulo Guedes, morrendo de rir. Genial. Aplausos para a fotógrafa Gabriela Bilo, autora da significativa foto.

Capa do Jornal O Estado de São Paulo do dia 16/10/2019/ Captura de tela 

O gesto de apontar uma arma é truculento, como é truculento posar com uma criança com arma na mão. A truculência do capital é a truculência da Justiça, que o levou ao poder diante de tamanha evidência de fraude. O capitão de turno e seus familiares não admitem serem contrariados e usam o poder do Estado contra os desafetos.

Aos amigos, tudo, aos outros, a Lei, diziam os velhos oligarcas no poder a sabendas de que a Lei era a força do Estado, as Polícias Militares (PMs) nos estados e as Forças Armadas, quando estas não davam conta.

É truculência o que o Clã Bolsonaro está fazendo com o pernambucano Luciano Bivar, presidente do Partido Social Liberal (PSL), partido que serviu de bonde para levar o capitão à Presidência, na farsa eleitoral de 2018. Mandaram a Polícia Federal realizar uma busca na residência e no escritório de Bivar.

Bivar está sendo acusado de ter montado um esquema de candidaturas femininas fajutas para utilizar o dinheiro em outras candidaturas. Porque essa perseguição? Simples, cara pálida.

Eduardo Bolsonaro quer ser o líder da nova direita que está ajudando a construir no país com dinheiro público. Primeiro foi a aproximação com o Moviment, de Steve Bannon, uma reunião de líderes desse grupo, que realizada em Foz de Iguaçu, na tríplice fronteira (Brasil-Argentina-Paraguai).

Não contente com o Moviment, Eduardo Bolsonaro trouxe para o Brasil a Conferência de Ação Política Conservadora (Conservative Political Action Conference — CPAC). É o maior e mais antigo evento conservador dos Estados Unidos que se reúne todos os anos em Washington para coordenar as atividades políticas.

Com esses eventos, Eduardo Bolsonaro quer mostrar que é mais importante e tem mais poder do que Bivar para assumir o controle nacional do PSL. Disse o filho do capitão de turno: 

“Nós temos um presidente conservador, mas não temos uma grande imprensa conservadora, uma grande universidade conservadora, não temos também um grande partido conservador, que se diga conservador com as suas bandeiras levantadas (…) Temos o PSL, sim, mas estamos passando por uma fase onde a gente está se identificando”

Em evento com conservadores, Damares Alves disse que precisam de 12 anos para mudar o que está aí; A Diálogos do Sul já avisou que o plano deles é ficar 40

Reprodução: Twitter
Deputado federal Eduardo Bolsonaro vai a aniversário de Steve Bannon O deputado Eduardo Bolsonaro (à esq.) ao lado de Steve Bannon

Sobre a internacional fascista

Nos dias 11 e 12 de outubro a Cepac se reuniu em um hotel em São Paulo com a presença de Matt Schlapp, que trouxe a organização dos EUA. O evento foi organizado por Eduardo. Além da internacional fascista Moviment, de Steve Bannon, o filho do governante de turno do governo de ocupação trouxe tremendo reforço pra seu sonho de organizar a nova direita brasileira e seus vínculos internacionais.

O encontro custou R$ 800 mil e foi bancado pelo Instituto de Inovação e Governança (Indigo), fundação vinculada ao PSL, presidida por Sérgio de Petribu Bivar, filho do presidente do PSL, Luciano Bivar. Tudo em família. 

O deputado Eduardo Bolsonaro preside a Comissão de Relações Exteriores da Câmara Federal, cargo para o qual foi eleito com 1,3 milhões de votos. Um recorde, conseguido no bojo da farsa eleitoral montada para a conquista da Presidência da República em 2018. Ele quer ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos e líder dessa nova direita que está ajudando a organizar com verbas públicas.

O presidente da entidade, Matt Schlapp, é vinculado aos irmão Koch, donos de um dos maiores conglomerados industriais dos EUA, a Koch Industries, e presidiu a Koch Companies Public Sector, nas relações com o governo federal é ex-conselheiro de George W. Bush. Sua esposa, Mercedes Schlapp, coordena a Comunicação da Casa Branca no governo de Trump. 

Também compareceu o senador republicano Mike Lee, advogado famoso vinculado ao movimento da direita republicana Tea Party MovementKassy Dillon, uma comentarista política e estrategista em mídia, criou o movimento estudantil Lone Conservative para dar voz e organização aos estudantes

Estiveram presentes a fina flor dos bolsonianos-olavistas (adeptos do clã Bolsonaro e do guru Olavo de Carvalho, que vive nos EUA e é o vínculo dessa turma com Bannon et caterva): os irmãos Arthur e Abraham Weintraub, este o ministro da Educação que quer militarizar as escolas públicas; Onyx Lorenzoni, da Casa Civil, vinculado aos neopentecostais sionistas; Damares Alves, pastora neopentecostal que fala com Cristo na goiabeira e ocupa o Ministério da Mulher e Direitos Humanos; deputado federal Luiz Felipe Orleans de Bragança, descendente do imperador Pedro II, entre outros.

Outro Orleans e Bragança, Dom Bertrand, este chamado de príncipe por considerar-se herdeiro do trono do imperador, numa reafirmação de sua fé católica, apostólica, romana conclamou que “é hora de reagir contra a Teologia da Libertação”. Para ele e seus seguidores, o papa Francisco e o Sínodo do Amazonas constituem um complô contra o Brasil e Dom Cláudio Hummes é comunista por ser amigo de Lula.

No passado, os Orleans e Bragança eram filiados à Tradição Família e Propriedade (TFP) vinculada ao Opus Dei, que organizou em março de 1964 as Marchas com Deus pela Família, contra o governo de João Goulart. Da TFP saíam os Comandos de Caça aos Comunistas (CCCs) que atacavam com violência os militantes do movimento estudantil.

Ernesto Araújo, autor da frase “Só Trump salva a humanidade”, atual ministro de Relações Exteriores do governo de ocupação, disse, discursando no evento, que o Brasil é vítima de “climatismo”, que está sendo usado para intervir na economia e na educação. Também atacou virulentamente a ONU ,por estar patrocinando a menina sueca Greta Thunberg, em sua campanha em defesa da natureza.

Vale destacar a presença de Wilson Picler, dono de uma fortuna de R$ 48 milhões,  proprietário do Centro Universitário Internacional (Uninter), uma cadeia de ensino a distância. Picler anunciou ter aberto vagas para um curso de pós-graduação sobre Conservadorismo. Essa nova direita argumenta que as universidades estão contaminadas de “marxismo, globalismo e petismo” que impediu o debate sobre outras ideias. Por isso querem formar doutores para enfrentá-los. 

Querem pensar a política a partir de “postulados mais profundos, do que somos e do que fazemos”. Entre as matérias do curso, não podia faltar “A mulher conservadora”, nem “A Comunicação conservadora”.

Damares Alves, a que quer que as meninas se vistam de rosa e os meninos de azul, discursando disse “Estou aqui rodeada de jovens, há 24 horas, e ninguém ainda me ofereceu um cigarro de maconha e nenhuma menina introduziu um crucifixo na vagina”. E, num arroubo eufórico, como que tomada por deus, lançou a candidatura do capitão à reeleição dizendo que “vamos ficar quatro, oito, doze anos no poder. Quatro anos não bastam para mudar. Precisamos 12”.

Lembrem-se que Diálogos do Sul denunciou que o plano de captura do poder pelos militares era de longo prazo e adverti que ficarão 40 anos se não revertermos a marcha do fascismo. Só o povo unido numa grande frente vence o fascismo.

Assista:

*Paulo Cannabrava Filho é jornalista e editor da Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Paulo Cannabrava Filho Iniciou a carreira como repórter no jornal O Tempo, em 1957. Quatro anos depois, integrou a primeira equipe de correspondentes da Agência Prensa Latina. Hoje dirige a revista eletrônica Diálogos do Sul, inspirada no projeto Cadernos do Terceiro Mundo.

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