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ToggleEm oito anos, o Equador transformou-se em um laboratório regional de assédio e ingerência do imperialismo estadunidense, que se encontra em policrise sistemática e estrutural, com uma guerra tarifária ou guerra econômica, gerada pelo segundo mandato do presidente supremacista dos Estados Unidos, Donald Trump.
Tal política desencadeou um desmantelamento da ordem unilateral, marcada pela injustiça social e pela luta de classes invisibilizada, com uma queda da hegemonia sem retorno.
Enquanto isso, o povo equatoriano carrega em seus ombros a desinstitucionalização do Estado, uma multicrise de insegurança, com a taxa de violência criminosa mais alta da região — 40 mortes violentas por cada 100 mil habitantes — situando o país entre os cinco mais violentos do mundo; crise socioeconômica; queda do emprego, com cerca de três milhões de pessoas em extrema pobreza; colapso do sistema educacional e de saúde, com a presença de morbimortalidades como coqueluche, febre-amarela e, ao que tudo indica, leptospirose entre crianças do cantão Taisha, na Amazônia equatoriana — uma doença associada à pobreza e à falta de atendimento das necessidades básicas.
Soma-se o fato de que as empresas públicas estratégicas, energéticas e petroleiras caminham rumo a um processo de monetização, concessão ou privatização, incluindo as ligadas às telecomunicações e ao espectro radioelétrico.
Ou seja, um cenário de devastação dos direitos fundamentais e humanos, com massacres carcerários, torturas, desaparecimentos forçados, execuções extrajudiciais e a recorrente ativação da perseguição política seletiva ou lawfare, com uma estrutura massiva de mídia e comunicação que segue à risca a narrativa palaciana do cercado Carondelet.
Aliança entre Noboa e Pachakutik
O movimento indígena no Equador carrega mais de 500 anos de neocolonialismo. Aparentemente, por meio de seu braço político, evidencia-se a submissão e subordinação à grande fazenda político-oligárquica, corporativa e familiar de ultradireita denominada “Novo Equador”, o que revela um profundo processo de direitização e a renúncia aos chamados direitos coletivos, pelos quais se travou uma luta histórica.
Em 6 de maio, uma semana antes da primeira sessão da nova Assembleia Nacional, o ministro do Governo, José De La Gasca, informou que os nove deputados do Pachakutik chegaram a um acordo com o governo de Daniel Noboa.
“As alianças que constroem um país. O caminho para o Novo Equador se fortalece com a unidade de vontades e o compromisso com o bem comum”, escreveu De La Gasca na rede social Instagram.
Isso significa consumar a traição aos princípios do não mentir, não roubar, não ser ocioso, aparentemente em troca de prebendas e da submissão dos nove deputados que entregaram seu apoio ao regime, de acordo com um plano para acelerar o neofascismo, concomitante à implementação de uma agenda de neoliberalismo autoritário, imposta pelo multilateral Fundo Monetário Internacional, como a eliminação dos subsídios ao gás e ao diesel, aumento do Imposto sobre Valor Agregado (IVA), elevação da idade para aposentadoria e das contribuições à seguridade social.
Bases militires, EUA e sionismo
A isso se soma a proposta e promessa de campanha eleitoral do presidente em exercício, Daniel Noboa Azín, de uma Constituinte com plenos poderes para desmontar o Estado de justiça, social e de direitos.
A Comissão Ocasional da Assembleia Nacional (AN) derrubou o art. 5 da Constituição, que diz: “O Equador é um território de paz. Não se permitirá o estabelecimento de bases militares estrangeiras nem de instalações militares. Proíbe-se ceder bases militares nacionais a forças de segurança estrangeiras.” (Fonte: Constituição da República do Equador). Já na última terça-feira (3), a Assembleia Lesgislativa aprovou uma reforma para permitir a instalação das bases no país, e agora o tema precisa ir a referendo, ainda sem data marcada.
Portanto, abriram-se as portas para a instalação de bases militares estadunidenses — e não se descarta a presença do sionismo israelense, que está cometendo genocídio e extermínio do povo palestino — sob o pretexto de cooperação na área de segurança.
O presidente Noboa, em um périplo por alguns países da velha Europa neocolonial e do Oriente Médio, entre eles Israel, em diálogo com o primeiro-ministro sionista e criminoso de guerra Benjamin Netanyahu, afirmou: “Os inimigos de Israel são nossos inimigos.”
As bases militares cumprem um objetivo geopolítico, geoeconômico e geoestratégico tanto em Manta quanto nas Galápagos, dentro do projeto de subversão política e ideológica do imperialismo estadunidense, atualmente subordinado ao segundo mandato corporativo e financeiro de Donald Trump, embarcado na caça a migrantes latino-americanos — especialmente venezuelanos — rotulados como terroristas e vinculados ao extinto Tren de Aragua — uma construção narrativa estadunidense — e que foram confinados à mega prisão de El Salvador, em violação ao direito internacional e aos instrumentos de direitos humanos. Soma-se a isso o caso da menina Maikel Espinoza, que aparentemente foi entregue para adoção em violação à Convenção sobre os Direitos da Criança, fato que gerou condenação e repúdio dos povos do mundo.
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Da base militar de Galápagos controla-se o acesso ao Caribe; da de Manta, ao Pacífico Sul, mais do que ao combate às estruturas narco-delituosas.
A base militar estadunidense em Manta (Equador) foi fechada em setembro de 2009, depois de 10 anos de operações. A saída foi oficializada com uma cerimônia cívico-militar em que as autoridades equatorianas assumiram o controle das instalações. A base, originalmente um Posto Avançado de Operações (FOL) para combater o narcotráfico, foi implantada em 1999 por meio de um acordo entre o Equador e os Estados Unidos, durante um regime neoliberal.
Durante sua permanência em Manta, ficaram impunes alguns delitos cometidos pelos marines estadunidenses: prostituição, estupros de adolescentes, violações de direitos humanos, desaparecimento forçado de pescadores artesanais — todos impunes devido à jurisdição penal dos EUA.
China na mira e outros alvos adjacentes
O objetivo central é conter a presença da China, que se converte na principal potência econômica, tecnológica e científica do mundo. Na região, o país assinou Tratados de Livre Comércio (TLC) com alguns países latino-americanos e consolidou sua liderança no Brics — os chamados países emergentes surgidos a partir da cúpula dos países não alinhados —, que não utilizam o dólar Swift, transformado em moeda de bloqueio, medidas coercitivas unilaterais, sanções e ordens executivas.
Da mesma forma, impulsiona-se a agenda de assédio, ingerência e boicote contra as democracias soberanas de Cuba, Nicarágua e Venezuela, que têm dignidade, poder popular, o povo como sujeito, poder comunal e revoluções que jamais irão se submeter e se subordinar ao decadente imperialismo estadunidense, que insiste em se considerar o gendarme da humanidade.
Tentáculos do neofascismo na América Latina
A Argentina de Milei, um regime de liberalismo libertário e que retrocede na luta e na conquista de direitos, agora os viola e reprime com uma força pública herdeira do Plano Condor e das ditaduras cívico-militares, envolvidas em crimes e delitos de lesa-humanidade. As Mães e Avós da Praça de Maio, as poucas que restam, continuam levantando suas vozes. Além disso, Milei é pró-sionista.
Nas Malvinas, território argentino invadido pelo imperialismo britânico, ativa-se o Atlântico Sul, com uma base que representa o neocolonialismo e o alinhamento com a Otan em sua versão latino-americana, com tropas militares de Kosovo somadas às britânicas.
O Peru vive uma ditadura cívico-legislativa submetida às corporações e transnacionais do imperialismo, que são parte da tríplice ponta do imperialismo e do sionismo na região.
Ganha novo e enorme significado a espada de Bolívar, levantada pelo presidente Gustavo Petro Urrego, atual presidente pro tempore da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), símbolo de justiça social e da emancipação geopolítica de Nossa América.
O legado bolivariano segue vigente no século 21, ressignificado pelo comandante Chávez nos diversos mecanismos de integração para nossos povos, como Celac, A Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América — Tratado de Comércio dos Povos (Alba-TCP) e União de Nações Sul-Americanas (Unasul), que devem fortalecer a integração com base em nossas identidades latino-americanas: uma integração soberana, com respeito à autodeterminação dos povos, sustentada pelo fato de sermos uma região de paz, comprometida com a justiça social, a vida em abundância e o direito humano de viver em paz.
Esta é uma batalha de ideias contra essa tortuosa e decadente geopolítica da dominação, que estrangula os direitos fundamentais e humanos de nossos povos; uma condenação e repúdio ao genocídio da infância, adolescência, juventude, de homens e mulheres da Palestina, onde a perversa máquina imperialista e sionista continua exterminando os herdeiros da Nakba de 1948.
Gaza e a solidariedade mundial
Pretende-se esvaziar a Palestina e expandir as intermináveis fronteiras de Israel, mediante a invasão ao Sul do Líbano, aos Montes Golã da Síria e ao Iêmen, que luta e resiste diante dos bombardeios das tropas combinadas dos EUA, Reino Unido e Israel.
Segue o insensível, desumano e acelerado bombardeio contra Gaza, atingindo escolas e hospitais, para expulsar e exterminar, por armas e fome, os legítimos donos originários do território palestino, entregue pelas Nações Unidas — instituição que atualmente evidencia uma crise de seu sistema.
Enquanto isso, a solidariedade dos povos do mundo não se detém, assim como o repúdio e a condenação ao genocídio insano em que mais de 70% das vítimas fatais são crianças e mulheres, conforme declarações do Ministério da Saúde palestino — com o silêncio cúmplice do renascido nazifascismo na Europa. Enquanto isso, o projeto trumpista de transformar Gaza em sua Riviera Azul segue firme. Há 66 anos, o rosarino e argentino-cubano Che Guevara foi o primeiro revolucionário a visitar essas terras após a Nakba.
Os mecanismos de integração latino-americanos são a grande coluna vertebral de nossos povos, e o Brics, a grande aposta por uma ordem multipolar, multicêntrica, anti-hegemônica e anti-imperialista. Ficamos felizes por Cuba já ser um país membro associado do bloco, com voz soberana que defende o legado revolucionário de ser a luz e o farol da humanidade, apesar do bloqueio transformado em crime de lesa-humanidade. Em Cuba, há um povo digno e soberano que não deixa de difundir sua solidariedade, que é a ternura dos povos.
Levantem o bloqueio, mister Trump e o presidente nas sombras, Elon Musk.
A soberania de Cuba não se vende, se defende, como fazem seu povo e seu governo revolucionário. Bolívar disse certa vez: “Somos um pequeno gênero humano”. José Martí, o apóstolo ibero-americano e o mais universal dos cubanos: “Pátria é humanidade”. Comandantes Fidel e Che Guevara: uma “batalha de ideias” e “não se pode confiar no imperialismo nem um tantinho assim, nada”. Comandante Chávez: “Vão pro caralho, ianques de merda!”.
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