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ToggleA cultura Woke, termo originado nos Estados Unidos, descreve o comportamento de pessoas que buscam se conscientizar sobre questões como justiça social, igualdade e identidade. Ela se baseia na ideia de estar “acordado” para as injustiças sistêmicas que afetam grupos marginalizados, como mulheres, pessoas negras, LGBTQ+, indígenas e outros grupos minorizados.
A essência da cultura Woke envolve uma análise crítica das estruturas de poder e privilégio, bem como um compromisso ativo com a mudança social. Isso se manifesta de diversas formas, desde protestos e movimentos políticos até expressão artística e conscientização nas redes sociais.
No entanto, nos últimos anos, o termo “woke” tem sido apropriado e distorcido pela extrema-direita como parte de uma estratégia de guerra cultural contra o campo progressista. Esse processo envolve desacreditar e ridicularizar a busca por igualdade e justiça racial e social, retratando-a como excessiva, irracional e até mesmo prejudicial.
O caso Jovem Pan
Durante uma transmissão do programa Pânico, da Jovem Pan, em 16 de fevereiro, o comentarista André Alba fez comentários relacionando a população negra à “lacração”. Enquanto criticava ativistas ligados à causa racial no Brasil, uma câmera exibia um homem fantasiado de macaco.
Enquanto critica a representatividade negra no cinema, a Jovem Pan exibe um macaco e seus comentaristas riem. Abjeto! No mesmo país, uma pessoa negra sofre tentativa de homicídio, mas é algemada por ser tida como suspeita. Não dá para relativizar o racismo no Brasil! pic.twitter.com/skn9UBGcXh
— Erika Kokay (@erikakokay) February 18, 2024
Alba mencionou uma reportagem da revista Veja sobre um suposto “exagero do ativismo” e também o longa-metragem American Fiction: “Esse filme faz a crítica de uma vertente desse pensamento woke, e ele é muito bem feito”. A produção, segundo Alba, satiriza estereótipos da sociedade e aborda a visão sobre os negros, criticando clichês e padrões associados a eles.
André Alba, um conhecido extremista de direita que há alguns anos tem utilizado a cultura pop como plataforma para polêmicas, é o apresentador do canal “Linhagem Nerd“. Nele, frequentemente critica escolhas de elenco para interpretar heróis, como no caso da atriz Mily Alcock, selecionada para o papel da Supergirl no cinema. Alba alegou que ela era “baixinha e feia” para a personagem.
saudade da época que o nerd sofria bullying pic.twitter.com/AlNmR2EZ7P
— deus (@tiagosantineli) February 1, 2024
Na trincheira da Guerra Cultural
Ao retratar a cultura Woke como uma ameaça à liberdade de expressão e à tradição, a extrema-direita tem buscado dominar a opinião pública sobre filmes, séries e conteúdo nerd. Eles a caracterizam como uma forma de “politicamente correto” que suprime a diversidade de opiniões e impõe uma agenda ideológica única, uma narrativa distorcida que visa desacreditar as preocupações legítimas sobre a discriminação e a marginalização, desviando a atenção das questões estruturais subjacentes.
Além disso, o uso da cultura Woke pela extrema-direita muitas vezes serve para mobilizar eleitores, polarizando a opinião pública e alimentando o ressentimento contra movimentos progressistas. Ao retratar os defensores da justiça social como radicais intolerantes, a extrema-direita busca minar o apoio popular a medidas que promovam a igualdade e a inclusão.
? O PANTERA NEGRA BRANCO
Essa arte me fez lembrar um rolê que faz tempo que queria comentar com vocês: nerdola só se incomoda com a mudança de etnia quando tem personagem negro ganhando destaque, né?
Segue esse fio pra ver o compilado de hipocrisia no meio dos super-heróis ? pic.twitter.com/fFeHPvZ4lA— Jamesons (@SiteJamesons) February 22, 2023
Quem lacra não lucra?
A instrumentalização do termo “woke” pela extrema-direita se mostra ainda como uma estratégia política para perpetuar o status quo e proteger os interesses de grupos privilegiados na produção cinematográfica. Para isso, uma das máximas usadas é o “quem lacra não lucra”. Mas será que essa afirmação faz sentido?
Nos últimos anos, a frase infame ganhou destaque para criticar o aumento da representatividade na cultura pop. O bordão zomba da gíria “lacrar”, usada por LGBTs+ para expressar ideias como “arrasar” e “se dar bem”.
Com uma sonoridade fácil de ser lembrada, o “quem lacra não lucra” se tornou praticamente um mantra para aqueles que se opõem a ver mulheres, negros, asiáticos e membros da comunidade LGBTQI+ ganhando espaço na cena do entretenimento.
Cada vez mais presente no discurso e nas ações de estúdios e artistas, a representatividade, ou a “lacração”, faz com que públicos que antes não se viam representados pela mídia se engajem cada vez mais no consumo e na divulgação de obras, o que gera lucro.
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Foto: Anthony Crider / Flickr
Grupo supremacista branco Proud Boys, nos EUA
Um exemplo emblemático é o filme solo da super-heroína inspirada em quadrinhos Mulher-Maravilha, estrelado por Gal Gadot, que superou expectativas tanto nas bilheterias quanto nas notas da crítica. O longa dirigido por Patty Jenkins arrecadou incríveis US$ 821,8 milhões, levando o estúdio a encomendar uma sequência quase que imediatamente. Até hoje, Mulher-Maravilha é considerado por muitos o melhor filme do DCEU, o Universo Estendido da DC.
Outro caso desse fenômeno é a ascensão do personagem Miles Morales, a versão afro-latina do Homem-Aranha. Sua introdução nos quadrinhos e posterior adaptação para o cinema demonstrou não apenas um compromisso com a representação racial, mas também uma compreensão do potencial comercial em atender a uma audiência mais ampla e multicultural.
O filme focado em Miles Morales, “Homem-Aranha: Através do Aranhaverso”, lucrou US$ 690,9 milhões, ao custo de US$ 90 milhões.
E quanto a “Barbie”? No final de 2023, nada poderia superar a produção. O grande sucesso da diretora Greta Gerwig conquistou a maior bilheteria do ano passado, uma arrecadação de mais de US$ 1,4 bilhão desde a estreia nos cinemas em julho, segundo dados da Comscore.
Já no cenário nacional, o filme brasileiro “Bacurau“, dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, apresenta o protagonista negro chamado Lunga. A inclusão de personagens diversos como Lunga não apenas enriquece a narrativa ao refletir a diversidade étnica e cultural do Brasil, mas também aumenta a identificação do público com o filme, contribuindo para o seu sucesso de bilheteria e crítica.
O Lunga chegando em Bacurau p/ matar os gringo. #Bacurau pic.twitter.com/0tT09ZmwlZ
— jugemaque (@jugemaquee) December 1, 2020
Além disso, nos quadrinhos, personagens como Estrela Polar, um super-herói homossexual da Marvel, Sera, uma personagem transgênero e lésbica da série “Angela: Asgard's Assassin”, e Shade, uma drag queen da DC Comics, representam um movimento em direção à diversidade e à inclusão.
George Ricardo Guariento | Jornalista da Diálogos do Sul.
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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