Conteúdo da página
ToggleEm artigo publicado na revista Foreign Affair, o professor do Departamento de Economia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts Daron Acemoglu critica a ação do governo dos EUA diante do coronavírus, chamando a resposta à pandemia de “confusa, inconsistente e contraproducente”, ao ressaltar que mesmo com todos os dados fornecidos por países que foram infectados há meses, a administração governamental pouco fez para fortalecer o sistema de saúde estadunidense.
Além da negligência com a saúde do povo, o professor denuncia o ataque do presidente às instituições estadunidenses que, segundo ele, começou muito antes do surgimento do novo coronavírus e “será sentido muito depois que ele acabar”.
“Ao atacar incansavelmente as normas de profissionalismo, independência e conhecimento tecnocrático, e priorizar a lealdade política acima de tudo, Trump enfraqueceu a burocracia federal.”
Comparado por ele com o início de estados autocráticos que “oferecem pouco espaço para contribuições democráticas ou críticas ao governo”, a administração de Trump criou uma leva de burocratas acostumados a dizer “sim, senhor”. “Quanto mais os burocratas estadunidenses se parecerem com homens autocráticos, menos a sociedade confiará neles e menos eficazes serão em momentos de crise como este.”
George Guariento
A administração de Trump criou uma leva de burocratas acostumados a dizer “sim, senhor”
Trator autoritário
No artigo, Daron Acemoglu aponta que em pouco mais de três anos, Donald Trump derrubou muitas “normas políticas” que anteriormente faziam o sistema político dos EUA funcionar (incluindo o fato de não se esperar tantas mentiras do presidente de uma potência mundial).
Entre elas, não se interferir em processos judiciais, não obstruir investigações policiais e não se beneficiar materialmente do poder executivo e seus privilégios e não discriminar cidadãos com base em raças, etnias, ou religião. Segundo o professor, “ao eviscerar essas normas, Trump acelerou a polarização da política dos EUA”.
O economista aponta que o governo de Donald Trump não apenas “falhou em manter a infraestrutura de saúde que protege o país contra doenças contagiosas”, mas também enfraqueceu o serviço público.
“A hostilidade do presidente à perícia imparcial obrigou muitos dos funcionários federais mais capazes e experientes a deixar o cargo apenas para serem substituídos pelos partidários de Trump”, ressaltando que seus ataques àqueles que o criticam ou contrariam, criaram uma atmosfera de medo, que “impede os burocratas de se manifestarem”.
“O ataque de Trump à burocracia federal está levando os Estados Unidos a um caminho de decadência institucional seguido por muitos países outrora democráticos, agora autoritário”, diz o professor ao citar exemplos como o de Viktor Orban — aliado de Trump e presidente da Turquia —, e ressaltar que o ponto de virada desses governos, foi a perda da independência no serviço público e judiciário.
“À medida que a confiança do público nas instituições estatais diminui e os funcionários perdem seu senso de responsabilidade perante o público em geral, a transformação para o estado autocrático pode ser rápido.”
Luz no fim do túnel
Apesar de tudo, o professor Daron Acemoglu ainda enxerga esperança para o povo estadunidense: “não é tarde demais para reverter o dano que Trump causou às instituições americanas e à burocracia federal”.
Daron Acemoglu explica que, com a Constituição fracassando em restringir o presidente estadunidense e o serviço público sob ataque, será necessário um envolvimento não só das lideranças de governos estaduais e locais, mas de empresas privadas e da sociedade civil na política.
“Não será suficiente eleger um novo presidente em novembro de 2020”, ressalta no artigo. “O trabalho árduo deve envolver a sociedade civil e empresas privadas trabalhando em conjunto com o Estado para enfrentar os principais problemas institucionais e econômicos”, diz.
“Os Estados Unidos terão que fazer ainda mais para fortalecer seu sistema de saúde falido, e no processo, restabelecer confiança nas instituições estatais”, conclui.
Maria Barbosa ´e jornalista da equipe da Diálogos do Sul
Veja também