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Toggle- Atualizado em 10/02/2025 às 09h51.
Contrariando os prognósticos das pesquisas eleitorais no país, haverá segundo turno no Equador, como informou o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) na madrugada desta segunda-feira (10). Com 92% das urnas apuradas, o candidato presidente Daniel Noboa obteve 44,31% dos votos, enquanto a opositora Luísa González, do partido Revolução Cidadã, conquistou 43,83% da preferência dos eleitores. Os demais 14 candidatos atingiram 7,92% do sufrágio. O terceiro colocado, Leonidas Iza, angariou 5,26%. De acordo com o CNE, cerca de 83% dos mais de 13 milhões de eleitores compareceram aos centros de votação.
Eleições no Equador 2025: confira as últimas notícias.
A jornada ocorreu com normalidade, apesar de denúncias pontuais de irregularidades. O resultado era esperado para ser divulgado às 22h30 (horário de Brasília), mas diante do cenário apertado, apenas às 0h35 foi possível conhecer o resultado.
As eleições presidenciais deste domingo (9) representam não apenas uma disputa política, mas a luta pela sobrevivência da democracia e a resistência a um projeto que transforma o Estado em instrumento de repressão e vassalagem.
Futuro narco-estado, vassalagem e repressão: o que está em jogo nas eleições do Equador?
Sob os governos de Lenín Moreno, Guillermo Lasso e Daniel Noboa, o Estado de direito no Equador foi sistematicamente enfraquecido, dando espaço a uma oligarquia ligada ao crime organizado e que ameaça transformar o país em um narco-estado. A influência do narcotráfico na política se manifesta desde o financiamento de campanhas eleitorais a assassinatos de candidatos e funcionários públicos.
Noboa representa a continuidade desse projeto, que privilegia elites econômicas, promove a militarização da sociedade e adota uma economia de austericídio neoliberal que aprofunda a crise social e econômica no Equador. Desde sua ascensão ao poder, o presidente tampão implementou medidas como privatizações, tratados de livre comércio e impostos regressivos, que ampliaram a desigualdade e prejudicaram os mais pobres.
Confira a cobertura da Diálogos do Sul Global no X:
📢 As eleições do Equador acontecem neste domingo (9) e a Diálogos do Sul Global traz a cobertura completa! Acompanhe tudo em nossas redes! 🗳️ #EleiçõesEquador #DiálogosDoSulGlobal pic.twitter.com/5Hcoeg7VvO
— Diálogos do Sul Global (@dialogosdosul) February 9, 2025
Noboa também se alinhou manifestamente aos interesses dos Estados Unidos e propõe mudanças constitucionais para permitir a instalação de bases militares estrangeiras no país. A medida, justificada como necessária para o combate ao narcotráfico, representa um claro entreguismo e uma ameaça à soberania nacional.
Seu alinhamento a figuras da extrema-direita latino-americana, como Jair Bolsonaro, Nayib Bukele e Javier Milei, reforça seu projeto de submissão aos interesses geopolíticos dos EUA e de implementação de um “Plano Colômbia 2.0” no Equador, com graves consequências para a autonomia do país.
Enquanto isso, a desinformação e as fake news foram instrumentalizadas para desestabilizar a oposição e consolidar o poder de Noboa, enquanto a concentração da mídia nas mãos de grupos privados e religiosos facilitou a disseminação de narrativas conservadoras.
Violência e repressão
Noboa aplica uma política de segurança pública repressiva, baseada na militarização e em medidas excepcionais, como a declaração de “conflito armado interno” em janeiro de 2024, até hoje em vigor, mesmo violando a Constituição do país.
Como resultado, o país assiste a execuções extrajudiciais, torturas e desaparecimentos forçados. O caso mais emblemático foi o assassinato de quatro crianças em dezembro de 2024, torturadas e incineradas por militares após serem detidas sem provas de envolvimento em crimes.
A volta dos que não foram: Noboa, violência e a reinstalação de bases dos EUA no Equador
O episódio foi classificado por especialistas como um “crime de Estado” e expôs a brutalidade das forças de segurança e a impunidade que impera sob o governo Noboa. Apesar das condenações internacionais e da pressão de organizações de direitos humanos, o presidente defendeu os militares, chamando-os de “heróis nacionais”.
A militarização serviu ainda como cortina de fumaça para impor reformas trabalhistas precarizantes e desmontar direitos sociais, aprofundando as desigualdades e a repressão contra setores marginalizados.
A estratégia de Noboa é inspirada em modelos autoritários como o de Nayib Bukele, em El Salvador, e não apenas falhou em reduzir a violência, mas também agravou a crise de direitos humanos no país. O país permanece como o mais violento da América Latina, com uma taxa de 38,4 homicídios por 100 mil habitantes em 2024, e os grupos criminosos continuam atuantes, especialmente nos portos, principais rotas de exportação de cocaína.
Vale lembrar que a campanha de Noboa expôs as fissuras em seu próprio governo, especialmente pelos conflitos entre ele e sua vice-presidenta, Verónica Abad. Noboa, inclusive, violou a Constituição do país com suas manobras para evitar que Abad assumisse a Presidência durante a atual corrida presidencial.
Invasão da embaixada do México
Daniel Noboa desencadeou uma ampla crise diplomática entre o Equador e o México após, em abril de 2024, ordenar a invasão da embaixada mexicana em Quito e o sequestro do ex-vice-presidente Jorge Glas, então asilado no local.
O México apresentou uma queixa formal à Corte Internacional de Justiça (CIJ), o que evidenciou o governo autoritário de Noboa e seu desrespeito aos tratados internacionais.
O tratamento dispensado a Jorge Glas, mantido em condições desumanas na prisão de La Roca, sem tratamento médico adequado, levou o correísta a um grave estado de saúde e a uma tentativa de suicídio em abril de 2024.
Luisa González
As eleições de 2025 colocam o Equador em uma encruzilhada: entre a submissão aos interesses estrangeiros e a ultradireita, ou a retomada de um projeto de integração regional e justiça social. A escolha final dos equatorianos, em 13 de abril, vai não apenas definir o futuro do país, mas influenciar os rumos da América Latina em um momento crítico de sua história.
A candidatura de Luisa González surge, nesse cenário, como uma alternativa progressista e a esperança de retorno aos avanços sociais conquistados durante a Revolução Cidadã de Rafael Correa.
Seu projeto propõe a reconstrução de um Estado soberano, com políticas de inclusão e desenvolvimento sustentável, em contraste com o neoliberalismo predatório de Noboa. Neste sentido, a candidata propôs, em janeiro, unir a esquerda equatoriana em torno de um “projeto de pátria” que priorize a justiça social, a transparência e o combate às desigualdades.
Eleição no Equador: Noboa une repressão a desinformação e quer entregar país a Trump
González, que já foi candidata nas eleições de 2023, critica duramente o aumento dos impostos, o desemprego e o subemprego, que atingem 65% da população economicamente ativa, além de denunciar as regalias concedidas às elites econômicas, como a família Noboa, que acumula dívidas milionárias com o Estado.
A advogada propõe ainda políticas públicas que beneficiem os setores mais vulneráveis, como agricultores e trabalhadores informais. Sobre o México, está disposta a restabelecer as relações diplomáticas e garantir salvo-conduto a Glas.
Luisa González surge como uma figura que busca resgatar os ideais correístas, mas com um discurso revigorado para enfrentar os desafios do presente. Sua campanha enfatiza a luta contra a corrupção, a defesa dos direitos humanos e a construção de um Estado que sirva ao povo, e não a uma minoria privilegiada.