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Cuba e o pacote da guerra cultural

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

No cenário de guerra cultural que a pós guerra fria impõe a Cuba, as emissoras de televisão latinas radicadas nos Estados Unidos só admitem e reproduzem opiniões de descrédito absoluto ao processo revolucionário e nunca toleram discrepâncias a esse respeito.

Jorge Ángel Hernandez*
educacin-en-los-estados-unidos-taller-unipap-1-638As condicionantes de codificação são absolutas e a conformação de sentido tipifica com clareza o resultado. Um julgamento predeterminado prevalece: não há nada em Cuba que valha a pena resgatar. Tão rígido é o código, que se óbvia a contradição evidente de entrevistar artistas cujos talentos foram desenvolvidos no próprio processo revolucionário, com suas escolas gratuitas, o apoio quando careciam de popularidade e reconhecimento popular, e o custo dos riscos experimentais com que foram formados. São processos caros e de difícil inserção na indústria cultural mas que o artista cubano tem acesso com relativa facilidade. E esse elemento é ocultado tanto pela emissora que controla a mensagem como pelos mesmos artistas que cedem às exigência de busca de audiência.
Se por exceção ocorrem casos de entrevistados que reconhecem valores, mesmo que parciais e tímidos do socialismo cubano, recebem a mais impiedosa saraivada de descrédito midiático entre a comunidade em que levou a cultura que surgiu dentro da revolução cubana. Começam a ser tratados como se os da peste na remota Idade Média. Certas manifestações do fundamentalismo talvez sejam o melhor ponto de comparação. A ousadia de Olga Tañón, depois visitar Cuba, teve um alto custo para ela, o que desmente que só o mercado determina a mensagem.
Para as emissoras de tv em aberta guerra cultural só está permitido o ponto de vista do renegado e em sua estratégia de comunicação desenvolvem só valores comerciais que tipifiquem os elementos do código de guerra. São absolutistas na norma de tendência política: seu próprio sistema de Partidos é o único que pode ser chamado de democracia. Realizadas com invejável desenvolvimento tecnológico, suas produções carecem praticamente de valores artísticos e criatividade individual, com o que codificam a reprodução de uma mensagem que se unifica tanto no âmbito da criação como no da recepção do produto: é nocivo trabalhar para elevar a cultura da massa. As tentativas da televisão cubana, ou outras televisões públicas alternativas que se propõem a isso, não passam de perda de tempo e dinheiro, e, uma escolha de perdedores.
Boa parte desses programas de guerra cultural são reproduzidos em Cuba, seja através da gestão conhecida como El Paquete (o pacote), que é um ato de comércio ilegal de informação audiovisual, ou através das também ilegais transmissões do que se conhece como “antena”, ou seja, a prestação de serviço por essas emissoras em nossos lares mais humildes, certamente.
Paradoxalmente, cada vez que se desenvolvem operações para detectar o comércio ilegal dessas transmissões, os chamados meios alternativos repercutem a notícia, apresentando-a como um ato de repressão à livre escolha do entretenimento em Cuba. Nunca se preocupam com o fato de que estão sendo “pirateados”, como fariam com outras que pretendam lucrar com suas transmissões. É tão importante que as mensagens da guerra cultural se ampliem em nossos bairros, que “sacrificam”, no caso de Cuba, um padrão que é constante e quase sagrado no capitalismo.
Outro exemplo que coloca em evidência o mecanismo de guerra cultural foi a reação de sadismo contra o cantador Tony Ávila quando se dispunha a se apresentar num clube de Miami. Apenas publicada a notícia, uma porta-voz das Damas de Branco o denunciou como repressor violento contra sua organização (o que era completamente falso, claro). De imediato, a denúncia foi reproduzida como certa e provocou a manifestação radical dessa comunidade midiática. Assim, com os objetivos da guerra cultural bem definidos, e não os comerciais, cancelaram a apresentação.
Não se deve ocultar, como o fez o presidente Obama em sua visita de restabelecimento das relações diplomática com Cuba, que a contratação de cubanos residente na Ilha é penalizada pelas obsoletas leis do bloqueio econômico e que, em casos como este, é impossível recorrer a recursos legais que o capitalismo soe respeitar, como o contrato.. O intercâmbio cultural, que as modificações na última etapa tentaram potencializar, deve produzir-se com absoluta gratuidade na prestação de serviços. Isso gera um fluxo de “dinheiro negro”  entre instituições patrocinadoras nos Estados Unidos e os artistas cubanos que se apresentam.
Não creio que a maioria dos artistas e escritores que se inserem nesse tipo de intercâmbio estejam conscientes do papel que jogam na guerra cultural, pois quase sempre os motivos pessoais se fundam na necessidade de promoção, a busca por aperfeiçoamento, ou maiores ingressos e a facilidade de rencontros familiares. Não obstante, tais práticas carregam um desenvolvimento eficiente do intercâmbio cultural e condicionam a presença cubana ao fim do bloqueio, segundo o argumento estadunidense, ou seja, a supressão do sistema socialista cubano. Assim se vai gestando uma espécie de vírus que empodera padrões estabelecidos nas regras da ideologização capitalista. E uma vez mais se passa o pacote de culpas para Cuba sem que importe que o mais óbvio é a existência do bloqueio, com suas leis da guerra fria perfeitamente claras.
Como terminaria um desses artistas que, nesse intercâmbio de falsos serviços gratuitos, se atrevessem a se manifestar contra esse pacote de leis que lhe impede cobrar legalmente por seu trabalho? A resposta é tão óbvia que não vale a pena descrever sua imagem augurar sua possibilidade.
 
* Direitos reservados – Original de la jiribilla, revista cultural cubana.
 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

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