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Cinco mulheres e o Che

Jorge Mansilla

Tradução:

Jorge Mansilla Torres*

Jorge Mansilla TorresCinco bolivianas cuidaram do Che antes e depois de sua execução em La Higuera, no dia 9 de outubro de 1967. Deram a ele toda a atenção e depois testemunharam sobre a integridade desse homem na hora de sua desgraça. Estas histórias são construídas sobre textos e dizeres da época.

che_guevara_sangueA professora Julia Cortés entrou na sala de aula às seis da manhã para insultar o “invasor aventureiro”, instigada pelo tenente Pérez Panoso, mas ficou comovida, segundo contava depois, que ele lhe dissera que ser professora nessa solidão era como um copo d’água no deserto; que lhe corrigiu suavemente a dizer “querrá” e não “quedrá” e que as crianças necessitavam mais mentores que escolas. Saiu dali com outra luz.
Por volta das 10.45, Ninfa Arteaga, esposa do telegrafista, chegou à sala-jaula com uma marmita de comida. Sua filha, a professora Élida Hidalgo, que havia conseguido a permissão militar para dar de comer ao prisioneiro, ficou na porta, de guarda. – Pode se servir, é uma sopa de amendoinzinho, disse-lhe a senhora tirando-lhe, sem pedir licença a ninguém, as amarras da mão e estendendo-lhe uma colher. Contou que ele pegou a comida com desconfiança. “Coma, cavalheiro, é de amendoim e está quentinha”, lhe sugeriu e para melhor animá-lo comentou que “é um prato que cozinhamos em ocasiões muito especiais”. Ela não sabia que se tratava do Che. A senhora Ninfa dizia depois, chorando, “como comia, meu Deus, colherada após colherada após colherada…”.
Assassinado à traição às 13:30 por ordem da Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA), o Che foi colocado em uma maca que foi ajustada à fuselagem de um helicóptero rumo a Vallegrande. A brisa da serrania abriu os olhos do guerrilheiro que assim ficaram. Na lavanderia do Hospital Senhor de Malta nenhum militar se opôs a que a funcionária Graciela Rodríguez limpasse o seu corpo com trapos úmidos “porque sempre há que lavar os mortos”.
Babando triunfalmente, os chefes castrenses tampouco objetaram que a enfermeira Susana Osinaga lhe cortasse o cabelo e a barba. Depois, ela costumava contar que quando viu a foto do Che nos diários estremeceu “porque sua cara tinha se tornado como de Cristo”.
Assim foi: Julia quando se abre o dia. Élida, seu anjo da guarda. Ninfa que oferece comida. Chela que lhe tira o pó com humildade e sabão. Susi que lhe dá esse ar gestual suspenso de paz… Bolivianas do amor com o mais livre arbítrio. Cinco mulheres e o Che.
*Colaborador de Diálogos do Sul


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Jorge Mansilla

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