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Nada de novo sob o sol: Estratégias geopolíticas imperialistas e mídias hegemônicas

Hoje, o império estadunidense quer petróleo e minérios. Logo vai querer a água e então os povos latino americanos submissos perecerão de sede
Carolina Vásquez Araya
Cidade da Guatemala

Tradução:

O abuso das potências não é nada novo, elas têm agido assim há muito tempo.

O estudo da História da Humanidade deveria ser uma matéria de importância capital nos cursos acadêmicos. Não porque o relato das guerras e dos descobrimentos possua um valor mais ou menos histórico, mas por constituir um capital de base, fundamental na análise de nossa trajetória como seres humanos. A partir de uma revisão crítica dos textos poderíamos compreender até onde as nações levaram a manipulação daqueles que antepõem os interesses hegemônicos aos interesses dos povos, e até que ponto isso incide em nossa realidade atual. 

Nos ensinaram a venerar supostos heróis e criaram para nós ícones falsos em uma elaboração interessada da história, mas a verdadeira razão por trás desses fenômenos se encontra revestida do gozo de direitos e da exploração indiscriminada do poder de uns em cima de outros. Os seres humanos, quando alcançam um certo nível de domínio, não põem limite algum à sua avidez e acumulam riquezas até não saber o que fazer com elas. O espetáculo de sua imensa capacidade de dominação lhes impede perceber como o esgotamento desses recursos adquiridos pela força terminará por ocasionar sua própria ruína.

Hoje, o império estadunidense quer petróleo e minérios. Logo vai querer a água e então os povos latino americanos submissos perecerão de sede

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O falso discurso sobre a construção de um mundo melhor e a defesa dos oprimidos nada mais é senão uma bela retórica

Estamos no século da tecnologia, da comunicação, dos acordos globais e de uma nova consciência sobre os direitos humanos; no entanto, os povos afundam cada vez mais na miséria devido ao imenso poder depredador de corporações anônimas protegidas pelas potências mundiais, cuja riqueza tem sido adquirida e acrescentada sobre o sangue de milhões de vítimas, vistas como danos colaterais na rota do desenvolvimento dos grandes capitais. Algo que costuma passar inadvertido é a forma como esses grupos hegemônicos nos têm colocado no papel de cúmplices ao convencer-nos da bondade de seus sistemas de enriquecimento ilícitos e ao bombardear nossa consciência com suas campanhas de terror. 

A ignorância sobre o passado e a maneira como se nos inculca uma escala de valores retorcida e interessada incidem em nossa limitada e obtusa visão do mundo. As estratégias geopolíticas da maior potência mundial inclinam a balança da opinião pública ao seu favor graças a uma bem desenhada invasão midiática cuja incidência em amplos setores da cidadania reside no eficaz ocultamento de suas verdadeiras intenções e na captura de alianças obscuras com líderes influentes e corruptos. 

Isto que hoje tem o nome de Estados Unidos e seus incondicionais aliados, em séculos passados teve o nome de Inglaterra, Bélgica, Espanha, França, Alemanha, Portugal… Potencias cuja riqueza se originou na miséria de nações asiáticas, africanas e latino-americanas independentes e ricas em recursos, mas incapazes de se defenderem de sangrentas invasões, tanto armadas como políticas. Hoje, as potências querem o petróleo e os minérios. Logo vão querer a água e então os povos perecerão de sede em nome do desenvolvimento e do bem-estar daqueles que se consideram superiores e donos da verdade.

O falso discurso sobre a construção de um mundo melhor e a defesa dos oprimidos nada mais é senão uma bela retórica para dissimular sua ansiedade por se apoderar do patrimônio daqueles que não podem se defender, e assim consolidar um poder que já é incomensurável e portanto ilegítimo, ao se originar na apropriação da riqueza alheia e, mais grave ainda, na submissão absoluta daqueles que foram designados pelo povo para administrá-la e protegê-la. 

*Colaboradora de Diálogos do Sul da cidade da Guatemala

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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