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“A base principal do neofascismo é a classe média, especialmente a alta classe média"

A contradição entre a burguesia interna e o capital internacional segue ativa, embora não seja a contradição principal no atual processo político
Eleonora de Lucena
Tutaméia
Rio Grande do Sul

Tradução:

O governo Bolsonaro representa os interesses do capital internacional, do Estado estadunidense. É entreguista de ponta a ponta. Resulta de uma convergência do capital imperialista, que age por intermédio do Departamento de Justiça dos EUA, e a classe média que quer destruir a esquerda.

As definições são do cientista político Armando Boito Jr. em entrevista ao TUTAMÉIA (acompanhe no vídeo acima). Professor da Unicamp, ele compara o nazismo e o fascismo com o movimento neofascista no Brasil de hoje. Lembra que nos dois momentos houve uma crise na representação partidária da burguesia, que decide, como nos anos 1920/1930, na Alemanha e na Itália, “cooptar, confiscar, cavalgar, dirigir o movimento fascista, se apropriar politicamente dele”.

Na análise do cientista político, a classe média conservadora foi a principal força para a deposição de Dilma, mas não foi a força dirigente. “ O movimento foi dirigido politicamente pela burguesia e pelo capital internacional”, um processo iniciado em 2013, contra as diretrizes econômicas do governo petista, contra os Brics e pela internacionalização do pré-sal.

A contradição entre a burguesia interna e o capital internacional segue ativa, embora não seja a contradição principal no atual processo político

Unicamp
Cientista político Armando Boito Jr

Para ele, a mudança de cenário ocorreu com a descoberta do pré-sal e com a legislação que estabeleceu a primazia da Petrobras na exploração da reserva. A emergência dos Brics foi outro fator. “Não foi à toa que Obama mandou espionar a Dilma e a Petrobras. Houve a mão do imperialismo estadunidense no golpe. É um erro imaginar que o imperialismo é algo externo e que age de fora. Existem segmentos da burguesia associada e da alta classe média cujos interesse convergem com os do imperialismo. O golpe não foi exclusivamente interno”.

Segundo ele, já no início de 2013, a desaceleração da economia fez com que a “burguesia associada e o capital internacional percebessem a oportunidade de retomar ofensiva política”.

E ressalta:

“A Lava Jato foi estimulada pelo capital internacional para destruir a engenharia brasileira”.

O professor da Unicamp afirma que os governos petistas não souberam travar o combate ideológico imposto pela operação:

“Imaginavam que era progressista lutar contra a corrupção. Não viram que aquela luta contra a corrupção não era uma luta contra a corrupção; era um movimento que instrumentalizava a luta contra a corrupção para destruir a engenharia nacional. Imaginaram que as instituições de Estado são neutras, que não têm natureza de classe”.

Na entrevista, Boito fala dos atritos nos grupos do poder, entre o movimento fascista a direção data pelo grande capital –o internacional e o interno, associado a ele.

“Não existe meia dúzia de loucos fazendo política. Bolsonaro quer atender a base dele também. Ele é domado, mas não é passivo. O capital internacional não conseguiu converter o movimento neofascista num instrumento passivo”.

E segue:

“A base principal do neofascismo é a classe média, especialmente a alta classe média. O voto popular que o Bolsonaro teve foi uma adesão nas últimas semanas de campanha. Essa adesão teve a ver com as igrejas evangélicas e também com a crítica que ele fazia à corrupção, à criminalidade. Se apresentou como antissistema, como foi característica do fascismo e é característica do neofascismo. O antissistema dele quer dizer antidemocrático. Ele é contra o jogo parlamentar”.

Falando do projeto sobre a previdência, diz:

“O projeto é da grande burguesia interna quanto da associada e do imperialismo. Mas não é exatamente o projeto do movimento fascista. Eles vão ter que puxar a rédea e enquadrar o cara. Porque o negócio dele é destruir a democracia. Ele quer governar por decreto. Ele não negocia porque ele não quer que o Congresso funcione”.

Ao comentar os conflitos entre militares e os seguidores de Olavo de Carvalho, Boito diz:

“A linha olavete é a que vislumbra no horizonte uma ditadura fascista. A linha dos militares é de um grupo autoritário. O Villas Boas está sendo humilhado pelo Olavo de Carvalho”.

Lembrando do famoso tuíte do general Villas Boas na véspera do julgamento do habeas corpus do presidente Lula, diz:

“Ele cantou de galo enquadrando o STF. Ele é um candidato a ditador. O que eles querem é tutelar. Implantaram uma tutela sobre o processo político. As Forças Armadas enquadraram o STF. Dias Toffoli é um subordinado dos militares, está sob a tutela dos militares. Cantavam de galo e estão sendo humilhados pelo Olavo de Carvalho”.

“É uma disputa entre autoritários fascistas e autoritários militares. As duas linhas estão subordinadas ao capital internacional e à burguesia associada”.

Nesta entrevista, Boito fala dos erros e dos desafios das forças de esquerda e dos problemas para o governo Bolsonaro, que tem “um alinhamento passivo, integral e submisso ao governo Trump”.

Ele diz que muito empresários se iludiram com o golpe..  

“A contradição entre a burguesia interna e o capital internacional segue ativa, embora não seja a contradição principal no atual processo político. A contradição principal é entre o bloco no poder, sob a hegemonia do capital internacional, e as classes populares”.

Confira a íntegra da entrevista:

Original disponível em: https://tutameia.jor.br/burguesia-cavalga-o-movimento-fascista/ 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

Eleonora de Lucena

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