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O presente de Chernobyl e o envenenamento do Brasil: qual o custo da mentira?

Estamos sendo governados pela mentira e pela ignorância, com a benção de uma suposta elite composta pelo sistema financeiro
Redação Rsurgente
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São Paulo (SP)

Tradução:

O reator nuclear da usina de Chernobyl explodiu, em última instância, porque foi envenenado por uma cadeia de mentiras. No último capítulo da série exibida pela HBO, o cientista Valery Legasov defende essa tese, fala sobre o custo da mentira e sobre a indiferença da verdade em relação às nossas crenças, desejos e necessidades. A verdade não tem pressa, ela permanece esperando e, no momento acabará se manifestando. Esse é o presente que a explosão de Chernobyl deixou para o mundo, diz Legasov nas memórias que gravou antes de se suicidar.

Impossível não pensar no que está acontecendo no Brasil, especialmente a partir das revelações que vêm sendo feitas pelo site The Intercept, desvelando uma cadeia de mentiras que influenciaram decisivamente a vida social e política do país nos últimos anos, gerando um ambiente de envenenamento das instituições e da sociedade com um custo imprevisível para o futuro. É só lembrar as palavras de Legasov e pensar a realidade brasileira a partir delas (a passagem a seguir é um resumo das declarações finais do cientista soviético e de um trecho de suas memórias:

“Estamos pisando em um terreno perigoso por causa de nossos segredos e de nossas mentiras. Elas são, praticamente, o que nos define. Quando a verdade nos ofende, nós mentimos, mentimos, até não nos lembrarmos mais sequer que a verdade existe. Mas ela segue existindo. Cada mentira que contamos gera uma dívida com a verdade e, cedo ou tarde, essa dívida deve ser paga (…)”.

“Poucos querem que encontremos a verdade, mas ela permanece lá, mesmo que oculta. A verdade não se importa com nossas necessidades e desejos, com nossas ideologias, governos e religiões. Ela permanecerá esperando para sempre. Esse é o presente que Chernobyl deixou ao mundo. Antes eu temia perguntar pelo preço da verdade. Agora, pergunto qual é o custo da mentira?”.

Estamos sendo governados pela mentira e pela ignorância, com a benção de uma suposta elite composta pelo sistema financeiro

Reprodução HBO
O reator nuclear da usina de Chernobyl explodiu, em última instância, porque foi envenenado por uma cadeia de mentiras.

Uma rede de mentiras inundou o sistema político, midiático e judicial do País, com um objetivo não declarado: evitar que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva concorresse à presidência e fosse reconduzido ao Palácio do Planalto. A grande operação, “com STF, com tudo”, parece ter tido um importante papel “dos americanos”, como aparece em uma das mensagens divulgadas nos últimos dias pelo Intercept. A candidatura de Lula foi barrada, ele foi preso e segue trancafiado nas dependências da Polícia Federal em Curitiba. E o Brasil passou a ser governado por pessoas que tem o conhecimento e a verdade como inimigos. Estamos sendo governados pela mentira e pela ignorância, com a benção de uma suposta elite composta pelo sistema financeiro, agronegócio, grandes industriais e comerciantes, grandes empresas de mídia, militares e Judiciário. Todos cúmplices do envenenamento do país.

Como em Chernobyl e em outras tragédias, uma cadeia de eventos foi posta em curso no Brasil, alimentada por mentiras e crenças obscuras. Aqui não se trata de um reator, mas de um país inteiro que foi envenenado. Lembrando de novo as palavras de Legasov: “Cada mentira que contamos gera uma dívida com a verdade e, cedo ou tarde, essa dívida deve ser paga”.

Qual será o custo das mentiras que levaram o Brasil ao ponto em que está hoje?

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
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