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Em meio a tensão entre os EUA e a Rússia, o Artek apresenta um projeto para o futuro

O governo russo se empenha em converter o centro em um laboratório gigante de métodos docentes, relações e preparação de futuros quadros
Antonio Rondón
Prensa Latina
Moscou

Tradução:

O Centro Infantil Internacional ARTEK aparece hoje como a maior instituição de seu tipo no mundo, com nove acampamentos em uma área de 218 hectares e com uma frequência em 2018 de 40 mil crianças. 

Criado em 1925 na costa do mar Negro, está chegando ao centenário de sua rica história de solidariedade, entrega de sabedoria, intercâmbio solidário, pesquisa docente e formação de futuros especialistas nacionais e internacionais. 

A Artek, depois de um período de decadência, após o desaparecimento da União Soviética, começou uma nova etapa de renascimento para se converter em um centro para a criação de provas e aplicação de formas de inovação de educação geral, de saúde e descanso. 

Desde 2016, o gigantesco centro infantil, com uma área comparável ao principado de Mônaco, passou a ser membro da Associação Internacional de Acampamentos Infantis (ICF).

Para isso, conta com os acampamentos Kiparis, Lazuri (um dos maiores), Polevoi, Rechni, Ozoni (completamente modernizado), Jrustalni, Yantarni e Morskoi (um dos primeiros).

No Morskoi, realizou-se este verão uma jornada de recordação de menina pacifista estadunidense Samantha Smith que viajou no dia 2 de julho de 1982 à então União Soviética e visitou por vários dias o centro Artek.

A menina estadunidense que conheceu por sua própria experiência a União Soviética ganhou fama mundial, embora sua vida tenha sido curta, pois depois disso, em agosto de 1985, morreu em um acidente aéreo junto a outras sete pessoas. 

Mas em meio à tensão que vivem agora Rússia e Estados Unidos, quase pior que na época da Guerra Fria, a história da menina pacifista se vê atual e necessária para consolidar um dos atributos de Artek: a solidariedade sem fronteiras. 

O governo russo se empenha em converter o centro em um laboratório gigante de métodos docentes, relações e preparação de futuros quadros, e por isso investiu nesse projeto 13 bilhões de rublos (206 milhões 188 mil dólares) de 2014 a 2018.

Tais obras abarcaram uma área de 280 mil metros quadrados. 

A instalação também conta com uma escola permanente com capacidade para  1.224 alunos, 300 educadores, cuja média de idade chega apenas aos 37 anos, e 500 guias de pioneiros (denominados bayati), entre 18 e 25 anos de idade.

No centro se criam grupos de 21 que são conhecidos aqui como “smena” (câmbio, numa tradução literal). Cada um deles se submete a uma aprendizagem e um programa de atividades intenso e integral. 

Em geral, cada “smena” está apadrinhada por uma entidade que pode ser a Chancelaria, o que levou a acampamento sua porta-voz, María Zakharova, ou o representante russo nas Nações Unidas, Vasili Nobenzin.

Algo similar fizeram em seu momento, o Fundo Clássico Vivo (literatura), o Instituto de Idiomas Pushkin, a faculdade de Biologia da Universidade Lomonosov, a Federação de Tênis da Rússia, o QIWI-Bank e a Associação Kinoprom.

Nesse programa também participou a Corporação Aeroespacial Unida que segue a tradição imposta em seu tempo pelo primeiro cosmonauta do mundo, Yuri Gagarin, que costumava visitar Artek com frequência e foi iniciador ali de um museu da cosmonáutica. 

Para 2024, em vésperas de seu centenário, o centro infantil espera chegar a 60 mil crianças por ano.

O governo russo se empenha em converter o centro em um laboratório gigante de métodos docentes, relações e preparação de futuros quadros

Prensa Latina
Criado em 1925 na costa do mar Negro, está chegando ao centenário de sua rica história de solidariedade

Ensino recreativo, a marca do Artek

O ensino como parte da recreação aparece como um dos princípios mais apreciados por aqueles que passam pelo Centro Infantil Internacional Artek, com 94 anos de existência às margens do mar Negro da Crimeia. 

A instalação tem o mérito ou a magia de transformar toda criança que entra em seus prédios, onde de imediato é submetida a três treinamentos intensos: amizade, solidariedade e conhecimento. 

Artek surgiu de uma ideia nobre proposta por aqueles que seguramente tiveram o propósito de formar o homem novo, com valores humanos, conhecimentos globais, e para ensiná-lo a aproveitar todo o espectro possível de habilidades e conhecimento durante uma curta estadia.

A fórmula surgida há quase um século adquire agora novas cores. Isso está de acordo com declarações feitas pelo presidente Vladimir Putin sobre recuperar os valores positivos da União Soviética. Artek aparece como um deles. 

Em novembro de 2016, o centro infantil chegou ao milhão e meio de visitantes entre oito e 16 anos de idade.

Para 2021, se espera que Artek conte com 11 acampamentos, e para 2025, ao cumprir seu centenário, ambiciona chegar aos dois milhões de visitantes. 

Pelo menos quatro mil crianças estrangeiras puderam desfrutar das bondades de um centro que conta com sete quilômetros de costas, reservados apenas para os que participam dos planos de verão e inverno. 

Em cada “smena” os guias (bazhati, em russo) devem induzir nas crianças um conhecimento tão amplo quanto possível, inculcar-lhes o sentimento solidário, o trabalho em equipe e as vias para estimular a criação e encontrar-se a si mesmo. 

Por isso é que os bazhati, muitos deles com conhecimento pedagógicos, formam-se especialmente em Artek.

Os mais experientes afirmam que para a preparação real de um deles se necessita uma prática de pelo menos cinco “smena”, pois se trata da melhor formação pedagógica possível. 

Só no ano passado viajaram a Artek menores de 84 regiões da Rússia, com diferentes culturas, formações, estratos sociais, pois 95 por cento das vagas são outorgadas por avaliação de habilidades incluídas em uma planilha enviada pela Internet, com um determinado número de pontos. 

As crianças podem enviar desenhos, obras de arte, discursos, prêmios musicais, trabalhos científicos, ensaios literários e qualquer outra forma que os destaque para chegar à pontuação necessária que é determinada automaticamente por um sistema centralizado. 

Apenas cinco por cento das vagas são pagas, mesmo assim se realiza um concurso entre as crianças que tentam viajar a Artek nessa modalidade. 

Assim, se quisermos falar de algum tipo de elite entre as crianças deste centro seria a de um voraz interesse por conhecer, criar, ser útil na vida e prestar-se a estabelecer relações de amizade, ser solidária e preparada para nunca esquecer o vivido em Artek.

Os 50 círculos de interesse que existem no centro, que vão desde botânicos até jornalistas, buscam conjugar a aprendizagem com o contato real com as coisas. Dessa forma, os botânicos podem praticar seus conhecimentos na área, como também o fazem os marinheiros. 

A marca cubana

Um dos primeiros grupos de Cuba chegou a Artek em 1961. Em uma das “smena”, de agosto a setembro deste ano, chegou ao acampamento Aziorni uma delegação cubana, na qual se encontrava Fidel Castro Díaz-Balart, de acordo com arquivos do centro. 

Em 1974, celebrou-se em Artek a primeira consulta de chefes de organismos de pioneiros de países socialistas, na qual participaram delegados da ilha, enquanto em 1977, na VI “smena”, Raisa Viera Hernández, de 10 anos, foi eleita presidenta das delegações estrangeiras. 

Além disso, em 1978, Artek acolheu um evento em saudação ao XI Festival Mundial da Juventude e dos Estudantes, celebrado ese ano em Cuba. 

Os benefícios

Aqueles que passam por esse Centro Infantil Internacional consideram que nunca serão os mesmos depois disso. As crianças, porque o ambiente de ensino recreativo os transforma, e os professores porque o intercâmbio com os menores lhes aporta experiências a todo momento. 

Sempre aprendemos algo novo no intercâmbio com as crianças, pois é uma experiência pedagógica única, confessou Irina Borisova, uma “bazhati” em uma entrevista coletiva com a direção de Artek e menores do círculo de interesse de jornalismo. 

Artek é simplesmente como um grande abraço, considera seu diretor Konstantin Fedorenko, que declarou a Prensa Latina que, no momento, a experiência do centro que dirige estendeu-se a outras três instalações na Rússia e duas no exterior: Mongólia e Bulgária.

Nós enviamos nossos especialistas em infraestrutura, direção e os bazhati para dar aulas práticas e depois vêm especialistas de outras regiões ou países para trabalhar em Artek. Dessa forma, transmitimos nosso conhecimento sobre essa prática, afirmou.

Para Fedorenko, a maior preocupação se resume a uma pergunta que é feita para as crianças: Do que vocês não gostaram?

*Correspondente Chefe do escritório de Prensa Latina em Moscou.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Antonio Rondón

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