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“Movimento estudantil de 1968 permanece na vida mexicana”, afirma historiador

O escritor mexicano Paco Ignacio Taibo II esteve no Festival de Livros do Brooklyn para o lançamento da edição em inglês de seu livro 68
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

“O (movimento estudantil de) 68 sempre está presente, é mitológico; todos estiveram aí, até os que não tinham nascido”, comentou o promotor cultural e historiador Paco Ignácio Taibo II no Festival de Livros do Brooklyn durante o lançamento da edição em inglês de seu livro 68.

“É parte da memória coletiva”, disse e recordou que o pedido de “democracia já foi um magno enfrentamento contra um governo autoritário e repressor expressado por mais de 400 mil estudantes durante 123 dias de greve no centro da República Mexicana. Três operações militares para reprimi-lo, uns 4 mil prisioneiros políticos e até hoje não sabemos quantos morreram”. 

“A presença do movimento de 68 na vida mexicana, nos eventos políticos, é algo que permanece, sempre esteve aí durante os passados 50 anos. De uma forma rara, continuava inclusive para os que não haviam nascido, explicou o autor e agora diretor do Fundo de Cultura Económica (FCE).

“Ao mesmo tempo, foi a grande festa de um geração” e, para muitos, inclusive para Taibo II, o 68 ficou dentro deles. “No meu caso, até o dia de hoje me pergunto o que faria um jovem de 68, e isso é o que faço. Por isso quase sempre me meto em problemas”, agregou.

O escritor revelou que tem um camiseta favorita que resume parte da mensagem dessa geração: “Nascemos para perder”, diz na frente, mas atrás se lê, “mas não para negociar”.

No entanto, para Taibo II alguns dos fantasmas de 68 se desvaneceram, “já que no ano passado conseguimos,: nas eleições, colapsar o reich mexicano do PRI (…) depois de três fraudes eleitorais e anos e anos de luta”. 

“Temos o governo, mas não o Estado; temos que limpar um dos estados mais corruptos do mundo”. 

“De certa maneira, este livro de 68 é de despedida. Conseguimos. Mas de outra maneira é o início de um novo mito. As sociedades necessitam viver com mitos; não se pode viver sem eles”.

Ao mesmo tempo, sublinhou que no México “há um grande vínculo entre o passado e o presente”. A geração de 68 tem estado em múltiplas frentes da luta social e política durante o meio século passado, inclusive no triunfo eleitoral anterior. 

Paco Ignácio Taibo II falou sobre o processo de elaboração de seu livro, composto por contos pequenos para fazer ver a esta geração “como éramos”, mas ao mesmo tempo com uma perspectiva de distância. 

No início, contou, eram uns apontamentos que começou em 1969 para armar um romance que “nunca pude escrever” e que uns 35 anos depois se converteram em uma memória narrada em primeira pessoa. Isto para, por um lado, “tomar distância para entendê-los, mas ao mesmo tempo estar suficientemente perto para conhecê-los, tocá-los”. 

Além de distância “se necessita sentido de humor. Não sinto respeito por escritores sem sentido de humor. De certa maneira, isto era também uma enorme festa, uma festa da liberdade durante mais de 120 dias contra um governo cruel”. 

O escritor mexicano Paco Ignacio Taibo II  esteve no Festival de Livros do Brooklyn para o lançamento da edição em inglês de seu livro 68

Wikimedia Commons
O promotor cultural e historiador Paco Ignácio Taibo II

Testemunha de uma nova rebelião

Taibo II apresentou a versão em inglês de 68, editado por Seven Stories Press, durante a feira literária que se converteu em uma das mais importantes da região (https://brooklyn book festival.org).

Durante sua breve estada em Nova York, Taibo II também teve a oportunidade de assistir à massiva greve global pela ação climática da sexta-feira passada, com dezenas de milhares de adolescentes tomando a Broadway em sua rebelião para resgatar o futuro. 

Sem poder deixar seu papel de jornalista e historiador, Paco Ignácio Taibo II entrevistou alguns dos jovens. Em uma das mesas comentou que “é um fenômeno muito novo no mundo, é uma luz brilhante de um novo momento social. Me obrigaram a ver o que eles vêm”, ideia  que partilharam os outros dois apresentadores que participaram da mesa: o ativista e autor indígena estadunidense Nick Estes e um dos organizadores do movimento Black Lives Matter, DeRay McKesson.

Além de suas intervenções no festival do livro, Taibo II estava em visita de trabalho para o FCE, contratando textos com editoras estadunidenses em Nova York.

Mas mesmo em Nova York, Taibo II não conseguiu passar inadvertido. Ao caminhar rumo à marcha, passou por um jovem que o deteve ao reconhecê-lo e pediu que tirasse uma foto com ele. 

Explicou a Taibo II que é um “trabalhador de limpeza, um janitor” nesta cidade, e que é parte de um grupo de mexicanos que se reúnem nos fins de semana para ver documentários sobre o México, entre esses vários realizados pelo escritor, e que agora estavam na metade de Pátria.

*Correspondente de La Jornada em Nova York

**Tradução: Beatriz Cannabrava

***La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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