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Grande Teatro de Havana presta homenagem à “prima ballerina assoluta” Alicia Alonso

O falecimento da bailarina cubana ocorreu em Havana, sua terra natal aos 98 anos de idade e comoveu todo o mundo do balé
Redação Prensa Latina
Prensa Latina
Havana

Tradução:

As honras fúnebres da “prima ballerina assoluta” Alicia Alonso foram prestadas no Grande Teatro de Havana, onde o povo da ilha pode render tributo à ícone do balé, falecida aos 98 anos de idade. Os seus restos serão sepultados na Necrópole de Cólon.

As instituições culturais, os organizações de criadores, os artistas e escritores cubanos, de acordo com os familiares de Alicia Alonso lhe dedicam, não um luto, mas sim uma grande homenagem.

Considerada a bailarina mais universal de Cuba, Alicia Alonso participou da fundação do American Ballet Theatre nos Estados Unidos e do Balé Nacional de Cuba na primeira metade de século XX.

A escola cubana de balé fundada por Alicia, Fernando e Alberto Alonso é a única no continente e uma das seus reconhecidas no mundo. 

O Ballet Nacional de Cuba, criado pelos três, em 1948, foi distinguido pelo governo cubano no ano passado como Patrimônio Cultural da Nação. 

A grande bailarina recebeu o Prêmio Nacional de Dança, em Cuba; a Medalha de Ouro do Círculo de Belas Artes de Madri, na Espanha; e o Prêmio ALBA das Artes, uma láurea só concedida a personalidades reconhecidas do continente. 

Em 2000, o Conselho de Estado da República de Cuba outorgou  a Alicia Alonso a máxima condecoração da ilha, a Ordem José Martí e, em 2015, essa mesma entidade somou à denominação do Grande Teatro de Havana o nome de Alicia Alonso.

Em 2003, o então presidente da França, Jacques Chirac,  conferiu a ela o grau de Oficial da Legião de Honra; em 2002, foi investida como Embaixadora de Boa Vontade da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

A mesma organização criou em 2018 oficialmente a Cátedra Ibero-americana de Dança Alicia Alonso, na Universidade Rei Juan Carlos, , em  Madrid.

Muitos prêmios mais adornaram o currículo da lendária artista, inclusive o de Estrela do Século, outorgado pelo Instituto Latino da Música por haver sido uma verdadeira promotora dos ritmos latinos na dança clássica. 

American Ballet Theatre diz adeus a uma de suas grandes bailarinas

O American Ballet Theatre (ABT), uma das companhias de dança clássica mais reconhecidas do século XX, recordou os passos de Alícia Alonso nesse grupo, da qual foi fundadora.

O falecimento da “prima ballerina assoluta” em sua Havana natal, aos 98 anos de idade, comoveu todo o mundo do balé.

Por meio das redes sociais, o BT transmitiu as palavras de seu diretor artístico Kevin McKenzie, que expressou sua grande admiração pela bailarina cubana. 

“Alicia Alonso foi uma força impulsionadora no balé clássico em Cuba e em todo o mundo. Ela respeitou as tradições do balé e dedicou sua vida a mantê-las treinando várias gerações”. 

Sua marca no ABT, como um dos seus primeiros membros, é incomensurável, destacou. “A graça, a inteligência e a coragem de Alicia seguramente deixarão um impacto duradouro em nossa forma de arte.”

Foi precisamente em um palco de Nova York, no Metropolitan Opera House, que Alícia dançou pela primeira vez a icônica personagem de Giselle começando assim sua lenda imparável. A bailarina cubana não titubeou para assumir o papel de Giselle quando por causa de um repentino mal estar, a consagrada Alicia Markova não pode interpretá-lo. 

Dizem os críticos que a noite de 1943 em que Alicia assumiu a personagem da camponesa que enlouquece e morre ante a traição de seu amado, deixou uma marca na história do balé clássico. 

Para Anton Dolin, o parceiro masculino naquela função, foi a mais fantástica e compensadora noite de triunfo. 

Também diz a lenda dessa apresentação, que Alicia só percebeu que tinha os pés ensanguentados quando George Schaffe, um famoso colecionador da época entrou no camarim e levou as sapatilhas porque queria conservá-las para a história. 

Durante muitos anos, Alicia Alonso esteve entre as primeiras figuras do ABT e sua vida transcorreu entre Havana e Nova York. 

Mas a crescente hostilidade do Governo dos Estados Unidos contra Cuba, começou a dificultar essas idas e vindas, e afastou a bailarina dos palcos norte-americanos. Ainda assim, ela manteve uma relação estreita e fraterna com o ABT e outras companhias estadunidenses, e conseguiu que muitas figuras e grupos do movimento norte-americano de dança atuassem em Cuba.

O falecimento da bailarina cubana ocorreu em Havana, sua terra natal aos 98 anos de idade e comoveu todo o mundo do balé

Prensa Latina
“prima ballerina assoluta” Alicia Alonso

Unesco presta homenagem à “prima ballerina assoluta” Alicia Alonso

O Conselho Executivo da Unesco inaugurou em Paris seus trabalhos com um minuto de silêncio em homenagem à bailarina cubana Alicia Alonso. 

Com emotivas palavras, a delegada permanente de Cuba ante a organização das Nações Unidas especializada em temas de educação, ciência e cultura, Dulce Buergo, compartilhou com os presentes a tristeza pela perda da bailarina, coreógrafa e pedagoga, bem como aspectos de sus trajetória. 

Alicia Alonso encarna uma personalidade relevante na história da dança mundial, merecedora de numerosos títulos, distinções e reconhecimentos ao longo de sua prolífera carreira artística, os quais sempre levou com simplicidade e enorme orgulho como representante do povo de Cuba, afirmou. 

A prima ballerina assoluta cumpriu “a importante missão de Embaixadora de Boa Vontade da Unesco como artista de construir pontes culturais de amizade entre as nações”. Alicia, como todos carinhosamente a chamavam, foi uma mulher de excepcional arte, magia e virtuosismo, de férrea disciplina e vontade, que nunca se deixou derrotar por difíceis que fossem as circunstâncias, sublinhou. 

A diplomata cubana ressaltou seu trabalho como pedagoga, na criação de um sistema de ensino nacional, garantia do balé cubano, especialmente após o triunfo da Revolução.  

“Com sua marca e liderança nasceu o Ballet Nacional de Cuba, companhia de grande prestígio mundial, orgulho de todo o seu povo”. 

De acordo com Buergo, merece igualmente destaque seu compromisso na promoção de um movimento de colaboração internacionalista no campo da dança, que a ilha estendeu a quase meia centena de países da América, Europa, Ásia e África, contribuindo também para acercar povos e artistas. 

Em sua carreira artística foi estrela convidada das mais relevantes companhias e festivais em todo o planeta, palcos que já preparavam as celebrações para o seu centenário no próximo ano.
“Seu legado é imenso. Glória eterna a esta lenda da dança de Cuba e do mundo”. 

A diretora geral da Unesco, Audrey Azoulay, considerou o falecimento da bailarina e coreógrafa cubana a perda de uma artista única e generosa. Em sua conta do Twitter destacou além do talento da bailarina, sua contribuição à popularização e preservação do balé clássico. 

Mito de Alicia Alonso se converte em realidade

Com a partida física de Alicia Alonso seu mito se converte em uma realidade, afirmou hoje o historiador do Ballet Nacional de Cuba (BNC), Miguel Cabrera.

A vida me concedeu a altíssima honra de compartilhar 51 anos ao seu lado, tempo durante o qual aprendi a amar a arte que ela semeou nesta ilha, relatou o acadêmico. 

“Com ela aprendi também a confiança nos valores do povo cubano que a levaram à obra titânica de servir de exemplo, de pauta para criar um monumento como o BNC e sobretudo forjar um aporte de Cuba à dança mundial, que é a escola cubana de balé”. 

O mestre da Universidade das Artes de Cuba recordou que quando a prima ballerina absoluta completou 80 anos, ele escreveu um livro sobre ela, intitulado: Alicia Alonso: a realidade e o mito. 

Ela foi uma diva mundial, mas eu tive a oportunidade de apreciar o ser humano, a mulher que não conheceu a palavra não, uma mulher que pensou sempre no futuro, salientou.

Bailarinos de Cuba valorizam a oportunidade de trabalhar com Alicia Alonso

Ballet Nacional de Cuba (BNC).

Os atuais primeiros bailarinos do Ballet Nacional de Cuba (BNC) reconhecem como um privilégio haver podido trabalhar com Alicia Alonso, Uma das mais extraordinárias artistas de todos os tempo.
Tive a honra de que me dirigisse em ensaios, me ensinasse e me desse conselhos fabulosos; era uma grande mulher, uma excelente mestra e uma insuperável bailarina, afirmou a primeira bailarina Anette Delgado.

Na sua opinião, Alicia viverá em cada um dos cubano,  e para os bailarinos representa um exemplo a seguir.  “Já não se encontra fisicamente, mas posso assegurar que não morreu, porque nos deixou um legado que viverá eternamente entre nós”. 

A também primeira bailarina Grettel Morejón conta haver aprendido de Alicia Alonso que a inconformidade é o ingrediente essencial no caminho correto e que a disciplina constitui a base do triunfo. 

“Há pessoas que têm uma aura especial que nos arrebata, e Alicia para mim sempre foi luz e exemplo. Seu talento nasceu com ela, mas sua fama veio do trabalho e do estudo, uma sadia obsessão que a fez conhecedora de estilos e técnicas”. 

Sadaise Arencibia prefere pensá-la e recordá-la como Carmen, uma das personagens icônicas da bailarina cubana. “É tão difícil e ao mesmo tempo tão fácil expressar qualquer palavra sobre ela neste preciso momento, mas eu prefiro dizer que viverá para sempre, porque assim é”. 

“Eu me sinto privilegiada de haver podido viver na mesma época em que ela desenvolveu sua extraordinária vida. Alicia é do mundo, mas é nossa, é a artista cubana mais universal”. 

O primeiro bailarino do BNC, Dani Hernández, confessa que é muito difícil dizer adeus a esta grande mulher que junto a Alberto e Fernando Alonso criou algo tão grande como a escola cubana de balé. 

“Graças ao empenho deles de levar a dança a todos os rincões desta ilha, pude chegar a ser o artista que sou hoje. Dou graças à vida por permitir-me e permitir a tantas gerações de bailarinos estar a seu lado, escutá-la, aprender e adquirir seus conhecimentos, entender a razão de porquê e para que dançamos, conhecê-la como ser humano e não apenas como a estrela que foi e continuará sendo por todos os tempos”. 

*Tradução: Beatriz Cannabrava

**Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

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