Há 20 anos explodiu um carnaval de resistência, batizado depois como a Batalha de Seattle, que foi a maior ação popular já realizada contra a agenda neoliberal do primeiro mundo. Seus ecos continuam ressoando neste país.
Cinco mil delegados de 135 países chegaram a Seattle para a reunião ministerial da Organização Mundial de Comercio (OMC), encarregada de codificar e promover, junto com o FMI/Banco Mundial e os foros empresariais, a nova ordem econômica neoliberal. O presidente Bill Clinton foi o anfitrião (vale recordar que a agenda neoliberal é parte de um consenso bipartidário- com alguns dissidentes notáveis).
Nessa manhã de 30 de novembro de 1999, estava tudo pronto para a grande inauguração, mas ninguém chegou.
Milhares de jovens, sindicalistas, ambientalistas, veteranos de guerra, acadêmicos, anarquistas de todo tipo (incluindo una nova geração de Wobblies – Trabalhadores Industriais do Mundo) e até alguns palhaços haviam ocupado em uma surpreendente ação coordenada todos os cruzamentos das ruas que levavam ao centro de convenções, com uma arma secreta muito poderosa: música, dança e humor.
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Há 20 anos explodiu um carnaval de resistência, batizado depois como a Batalha de Seattle.
Cada agrupamento de ação do movimento descentralizado havia determinado que musica desejava no cruzamento que lhe correspondia – em um estavam os Rolling Stones, em outro Bob Marley, em outro mais heavy metal ou punk e assim. A dança não parava enquanto brigadas de jovens faziam cordões humanos para não permitir a passagem.
Um mimo caminhava atrás de um delegado muito elegante imitando seu cada passo e gesto à perfeição até que o funcionário enlouqueceu e ameaçou com violência. Aparentemente o poder não tem grande sentido de humor.
Desde uma grua estratosférica de construção, revelou-se uma enorme faixa que simplesmente dizia com um flecha “livre comercio” e com outra flecha em direção oposta “democracia”.
Pouco depois, centenas, talvez milhares, de agremiados se desviaram de uma mega marcha oficial de seus sindicatos nacionais para “apoiar os jovens”. O lendário sindicato de estivadores da costa oeste (ILWU) já havia congelado operações em todos os principais portos da costa oeste em solidariedade com o grande protesto que estava explodindo em Seattle.
Como nos comentou um dos estrategistas dessa mobilização, “isto foi um caos muito organizado”.
Os representantes das cúpulas do mundo tremeram e o evento inaugural da OMC foi cancelado – os gerentes da ordem mundial foram ordenados a esconder-se em seus hotéis, incluindo o anfitrião. O prefeito declarou um “estado de emergência” ao ordenar a repressão com gases lacrimogênios e centenas de detenções, e só com isso a OMC conseguiu fazer suas sessões, embora a notícia mundial já fosse a rua e não o que acontecia lá dentro.
O festejo de resistência — com mais de 50 mil participantes- continuou durante mais cinco dias com dança, títeres enormes e novas alianças entre setores sociais inaugurando assim o grande movimento altermundista que continuou expressando-se onde intentavam se reunir os gerentes neoliberais — em reuniões do FMI/Banco Mundial em Washington, nas cúpulas em Praga, Gênova e Quebec.
Em cada lugar sempre se recordava de onde havia chegado a rebelião altermundista. “Por fim escutamos a mensagem dos povos do sul” repetiam organizadores estadunidenses e europeus e frequentemente assinalavam que este movimento nasceu no México, com o levantamento dos zapatistas.
Uma vítima dos atentados do 11 de Setembro, este movimento foi silenciado no primeiro mundo (outra história estava ocorrendo na América do Sul) mas reapareceu nas ruas e praças com os Indignados na Europa, Ocupa Wall Street neste país, e hoje está presente na pugna eleitoral sob a bandeira de Bernie Sanders, entre outros.
Agora, enquanto analistas e alguns médios registram e tentam explicar as ondas de protesto em diversos países do mundo, escutam-se os ecos da já longa rebelião anti-neoliberal no sul como também no norte. A 20 anos de Seattle, a nostalgia não é por algo no passado, mas sim algo vivo e presente.
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