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“Esta máquina mata fascistas": há 80 anos, guitarra inspira revolução nos EUA

O instrumento de Woody Guthrie tinha gravada a frase que lutava contra o fascismo e desigualdade como deveríamos lutar hoje
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

Essa guitarra viajou por todo o país, acompanhando canções sobre lutas sociais, greves, migrantes, desafios e sobretudo de solidariedade entre os muitos que enfrentam a injustiça em mãos dos poucos, ou seja, canções de amor e raiva dos de baixo. 

Talvez a mais conhecida, embora também censurada, é seu hino “This land is your land” (Esta terra é sua terra), que foi escrita há justos 80 anos na cidade de Nova York, uma resposta furiosa a uma canção patriótica que se chama “God Bless America”.  “Esta terra é sua terra” resume a disputa, que hoje é mais contemporânea que nunca, sobre a quem pertence este país.

O que está no fundo da dinâmica política e social neste país neste momento é que a desigualdade econômica chegou ao seu ponto mais alto em meio século; alguns dizem que a concentração de riqueza é a mais extrema em 80 anos (mais ou menos quando foi escrita essa canção). Por exemplo, os três homens mais ricos do país são donos de mais riqueza que 50% da população mais pobre, e os 5% mais ricos dos estadunidenses são donos de dois terços da riqueza nacional. A disputa política e eleitoral tem que ver em grande medida com as consequências e a resposta a isso e, ao mesmo tempo, sobre a própria democracia. 

O instrumento de Woody Guthrie tinha gravada a frase que lutava contra o fascismo e desigualdade como deveríamos lutar hoje

Wikimedia Commons / Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos
Chegou a hora de sacar a guitarra de Woody

Louis D. Brandeis, juiz da Suprema Corte e um dos mais importantes intelectuais constitucionalistas dos Estados Unidos, declarou há mais de um século que “Podemos ter democracia ou podemos ter a riqueza concentrada nas mãos de uns poucos, mas não podemos ter ambas”. 

Alguns dizem que Trump é uma resposta populista de direita a estas condições. Ao mesmo tempo, o movimento em apoio de Bernie Sanders oferece uma expressão progressistas às mesmas condições. Ambas colhem a fúria contra as cúpulas políticas e econômicas que em todo os seus sentidos anularam o chamado “sonho americano” ao impor uma agenda neoliberal sobre a economia mais rica da história.

A aposta de Trump toma emprestado alguns dos ingredientes clássicos do fascismo histórico, mas sem a coerência ideológica, o que já está amplamente documentado. Mas vale a pena sublinhar que apesar dos gritos de que a democracia está em xeque sob este regime, esse projeto conta a cumplicidade suficiente das cúpulas econômicas e políticas do país bem como a cooperação “pragmática” de outros governos. Já vimos esse filme.

Não é por casualidade que o novo projeto de David Simon (o criador das extraordinárias séries The Wire e Treme, entre outras) a ser estreado proximamente seja uma série baseada no romance de Phillip Roth, “O complô contra América”, cuja premissa é descartar a noção de que “isso não pode acontecer aqui”, ao imaginar-se como um Nazista (o famoso aviador que era um simpatizante nazista na vida real – ou seja, uma celebridade – Charles Lindbergh) torna-se presidente dos Estados Unidos em 1940 e busca impor seu poder sobre os três ramos do governo, explorando o culto à celebridade e a tirania de uma maioria que de repente apoia um político sem escrúpulos, e a luta de resistência contra o abuso do poder que não necessariamente triunfa. 

A nação e suas noções, ilusões e realidades democráticas estão em disputa. Por ora não se sabe de quem é este país.

A canção de Guthrie inclui um par de versos frequentemente censurados em escolas e outros lugares:

“Aí havia um alto muro onde tento parar/O letreiro aí dizia ‘Propriedade Privada’/ Mas do outro lado, não dizia nada/ Esse lado foi feito para ti e para mim”.

Outro mais:

“Uma manhã ensolarada na sombra do campanário/No escritório de assistência social eu vi minha gente/ Enquanto estavam aí famintos/ Fiquei aí perguntando-me/ Esta terra foi feita para ti e para mim?”

Chegou a hora de sacar a guitarra de Woody.

David Brooks é correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.

David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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