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Com a morte de Mussolini há 75 anos, fascismo que ganhava força entre burguesia acaba

O início de sua gestão como Chefe de Governo teve um sinal claro: o anticomunismo desenfreado
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Há 75 anos, em 28 de abril de 1945, teve fim a vida de Benito Mussolini, o chefe do fascismo italiano. E o fato não aconteceu como ele havia imaginado. “Il Ducce” foi fuzilado por um destacamento guerrilheiro que o capturara no dia anterior.  

Concluiu assim uma vida tormentosa que sumiu no horror à sociedade italiana e que levou seu país aos mais profundos abismos no marco da II Guerra Mundial, ao lado da Alemanha Nazista, liderada por Adolf Hitler.

O fascismo surgiu no fim da primeira Grande Guerra quando os grandes monopólios tremeram diante da ideia de que uma Revolução como a russa de 1917 chegasse à Europa Ocidental. Só em pensar na possibilidade de perder seus privilégios e soltar o controle do Poder levou a Grande Burguesia da época a buscar o Fascismo como a ferramenta destinada a dobrar os povos.

Houve outras experiências em diversos países. Na Hungria foi afogada em sangue a República dos Conselhos – “A Revolução dos Crisântemos – do Conde Karoldy e Bela Kun; e na Bulgária a derrocada do governo da União Agrária de Alexander Stambolinski deu lugar à consolidação do regime do general Tsankov.

O início de sua gestão como Chefe de Governo teve um sinal claro: o anticomunismo desenfreado

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“Il Ducce” foi fuzilado por um destacamento guerrilheiro que o capturara no dia anterior.

Mas o fascismo cobrou força desde o dia 28 de outubro de 1922 quando os Camisas Negras marcharam sobre Roma e impuseram ao rei Víctor Manuel a designação de Mussolini como Chefe do Governo.

Mussolini vinha dos canteiros do radicalismo revolucionário. Era um “socialista de esquerda” que lançava furibundas proclamas contra o Capital. Logo percebeu, no entanto, que esse não era o “seu caminho” e optou por mudar de rumo dando a volta completa. De ultra esquerdista passou a ser ultra direitista, e se pôs ao serviço da grande burguesia na Itália e no mundo.   

O início de sua gestão no governo teve um sinal claro: o anticomunismo desenfreado. Isso o levou a perseguir o Partido Comunista e outros movimentos que fizeram resistência ao seu governo. Para combatê-los, acusou a todos de “comunistas”, incluindo nessa categoria os trabalhadores e suas organizações de classe, os sindicatos. 

Para afirmar seu poder, em 1924, consumou o assassinato do deputado socialista Giácomo Matteotti, que interveio na Câmara objetando as propostas colocadas pelo Chefe do Fascismo. Quando terminou sua intervenção, Mussolini disse balbuciante: “um discurso como este não pode se repetir”. O parlamentar foi sequestrado e depois assassinado. 

Acusado pelo crime, Mussolini diria depois: “Se o fascismo não tem sido mais que óleo de rícino e “manganello”, e não uma soberba missão que inflamou a melhor juventude italiana, a culpa é minha. Se o fascismo se converteu em um bando de delinquentes, eu sou o chefe do bando. Se toda a violência que tem sido cometida foi o resultado de um determinado clima histórico, político e moral, minha é a responsabilidade”.  E dela se ufanava. 

O passo seguinte para o regime foi a captura do deputado comunista Antônio Gramsci. Ditando pena contra ele, o juiz da causa diria: “Este cérebro não pode voltar a pensar pelo menos em vinte anos”. Em 1927, Gramsci foi condenado a 20 anos de prisão e confinado na prisão de Ustica onde cumpriu apenas a metade de sua pena. Dez anos mais tarde, em 1937, faleceu como resultado de sua atormentada vida carcerária. 

Mas a ofensiva principal do fascismo se consumou contra os trabalhadores. Despediu milhares de operários e funcionários de vanguarda aos quais substituiu por ativistas do seu partido, que fez trabalhar em fábricas de armamentos para fazer a guerra contra outros povos. Lançou-se primeiro contra a Albânia, Etiópia e Líbia no norte africano, para terminar como o último vagão de carga do Exército Nazista na agressão à URSS. 

A intervenção nesse conflito marcou a catástrofe do regime de Mussolini que teve que enfrentar, adicionalmente, a resistência armada dos Partigianos – os guerrilheiros comunistas que conseguiram o apoio dos cristãos na luta contra o regime. Eles agiram a partir de março de 1943, quando, como diz Giovanni De Luna “o fantasma a luta de classes que parecia haver sido expulso há vinte anos ressurgia de novo”. 

A crise foi tão angustiante que em meados desse ano a estabilidade do regime foi questionada. Inclusive o Grande Conselho Fascista – o órgão superior do Estado e do Governo – resolveu separar Mussolini da condução do país na dramática noite de 25 de julho desse ano. Mussolini foi transitoriamente confinado na fortaleza de Gran Sasso, de onde seria “recuperado” depois por um comando alemão ao mando do Capitão Otto Skorzeny.

De retorno à Itália, no norte do país, Mussolini instaurou uma administração falsa que denominou de “República de Saló”. Mas foi enfrentado pelo povo armado. Encurralado e acossado, teve que abandonar seu quartel nas cercanias de Milão, de onde buscou fazer certas “negociações de paz” que usou para ganhar tempo e fugir. Pretendeu fazê-lo em um comboio alemão premunido de um capote militar e capacete de aço. Reconhecido e capturado por um destacamento Garibaldino que operava no norte da Itália, selou sua sorte. 

Na manhã do dia 28, foi conduzido a Mezzagra, aldeia de Dongo, onde encontraria seu fim às portas de uma vila. Para alguns, foi Pietro Terzi, e para outros, o Coronel Valerio -Walter Adusio- que executou a ação, mas o fato foi consumado.  

No mesmo 28 de abril em horas da noite o cadáver do Ducce, o de sua amante Clara Petacci e os corpos de seus colaboradores capturados com ele, foram pendurados de cabeça para baixo na Piazzalo Loretta, de Milão.

Foi o fim de uma dramática etapa da história, que não haverá de se repetir.  

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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