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Cornel West: estamos vendo uma rebelião num país comandado por um bandido neofascista

Há “uma maravilhosa militância moral nova, uma intensidade em protestos pacíficos e a organização local de grupos que no passado mal se falavam
David Brooks
La Jornada
Nova York

Tradução:

“Estamos testemunhando uma rebelião. É belo ver a quantidade de protestos e as dimensões, e amplitude de todas as cores, todos os gêneros, todas as orientações sexuais, todas as etnias e identidades religiosas dos Estados Unidos”, afirma o doutor Cornel West, professor em Harvard e Princeton, filósofo e teólogo, e proeminente intelectual público afro-estadunidense, uma das vozes mais necessárias e de referência nesta conjuntura marcada pela onda de protestos anti racista mais ampla em meio século. 

West se define como um intelectual público e “promotor da justiça racial através das tradições da igreja afro-estadunidense, a política progressista, e o jazz”. É integrante de Democratic Socialists of America. Autor de 20 livros entre os que se destacam Race Matters e Democracy Matters: Winning the fight against imperialism, orador elétrico, e presença em lutas progressistas ao longo das últimas décadas, West oferece história, música e um profundo conhecimento da dinâmica política e social desde país.  

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Ao falar recentemente dos protestos, West indicou: “isto foi desatado pela morte de George Floyd [o afro-estadunidense assassinado por um policial branco] combinado com a pandemia, e níveis massivos de desemprego tipo Grande Depressão, e um neofacista mandando neste Estado-nação”. 

Sobre os protestos que ele chama de “uma rebelião” sublinha que há “uma maravilhosa militância moral nova, uma intensidade cotidiana em protestos pacíficos, e a organização local de grupos que no passado mal se falavam entre eles, mas que agora estão juntos lutando, caminhando pelas ruas juntos e indo para a prisão juntos”. 

Há “uma maravilhosa militância moral nova, uma intensidade em protestos pacíficos e a organização local de grupos que no passado mal se falavam

Westfiel.ma.edu
Cornel West, professor em Harvard e Princeton, filósofo e teólogo

Ao comentar sobre a cerimônia fúnebre de Floyd nesta semana, West disse que os afro-estadunidenses “somo um povo que tem sido crônica e sistematicamente odiado por 400 anos, mas que ensinou ao mundo tanto sobre o amor…depois de 400 anos de ser traumatizados queremos oferecer curandeiros – isso é Frederick Douglass, isso é Martin King, Curtis Mayfield.  O que tem esse povo negro, tão plenamente subjugado que quer liberdade para todos? Esse é o grande presente ao mundo precisamente das entranhas do império estadunidense”. 

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“Temos um amor que o mundo não nos pode tirar. A supremacia branca poderia fazer que ser negro seja um delito, mas nos recusamos a descer aos esgotos. Vamos ir dando golpes como Ella Fitzgerald, Muhammad Alí, em nome do amor e da justiça… E o estamos fazendo para todo o mundo”, comentou em entrevista à CNN.  

A explosão social que tem durado mais de duas semanas e tem se expressado em mais de 600 cidades e povoados, gera nova esperança para o país, embora a crise atual – a da saúde, a econômica e a de violência racial – mostra um “Estados Unidos como um falido experimento social”.  

Adverte que “o sistema não pode reformar-se sozinho”, já que politicamente no nível de cúpula os Estados Unidos se encontram entre “um bandido neofacista na Casa Branca” e “uma ala neoliberal com liderança esgotada do Partido Democrata”. Diante disso, “os pobres e os trabalhadores negros, morenos, vermelhos, amarelos, de toda cor – são os excluídos e se sentem totalmente sem poder, sem ajuda, sem esperança, por isso a rebelião”. 

Em outra entrevista, resumiu a conjuntura assim: “a resposta multirracial ao assassinato policial de George Floyd que agora se está vertendo em uma resistência política ao saque legalizado da avareza de Wall Street, o despojo do planeta e a degradação de mulheres e dos gays significa que ainda estamos lutando apesar de tudo. Se a democracia radical morrer nos Estados Unidos, que se diga que fizemos de tudo, com tudo, contra as botas do fascismo estadunidense que tentaram esmagar nossos pescoços”. 

Repete sempre sua famosa frase: “a justiça é como o amor se vê em público”. 

West colaborou em três discos de “palavra falada”, nos quais também participaram Prince, Jill Scott, Talib Kweli entre outros, e também colaborou em projetos de jazz e inspirou um grupo de rap.

É um guia essencial para estes tempos.

http://www.cornelwest.com

David Brooks, correspondente de La Jornada em Nova York

La Jornada, especial para Diálogos do Sul — Direitos reservados.

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
David Brooks Correspondente do La Jornada nos EUA desde 1992, é autor de vários trabalhos acadêmicos e em 1988 fundou o Programa Diálogos México-EUA, que promoveu um intercâmbio bilateral entre setores sociais nacionais desses países sobre integração econômica. Foi também pesquisador sênior e membro fundador do Centro Latino-americano de Estudos Estratégicos (CLEE), na Cidade do México.

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