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Mulher do Fim do Mundo, Elza Soares cantou até o fim; veja homenagens à cantora

Elza saiu da vida para entrar na história. Cada garota que sai da periferia, da miséria para ganhar o mundo tem um quê de Elza Soares, de atrevimento, de impertinência por estar desafiando o planeta fome.
Vanessa Martina-Silva
Diálogos do Sul
Jundiaí (SP)

Tradução:

Musa, rainha, diva, brilhante. Nenhum adjetivo é suficiente para descrever Elza Soares, sua força e tudo o que ela representa para o Brasil, mas sobretudo para o povo negro brasileiro e para a auto-estima das mulheres pretas. 

Considerada a voz do milênio em uma votação de 1999, da rádio BBC de Londres, a cantora partiu fisicamente nesta quinta-feira (20), aos 91 anos, de causas naturais, em sua casa no Rio de Janeiro. 

O fato gerou ampla comoção nas redes sociais e o assunto se tornou o mais comentados no país. 20 de janeiro foi exatamente quando seu ex-companheiro, o jogador Mané Garrincha, morreu. 

Sua música “Mulher do fim do mundo”, de 2015, na qual pede: “me deixem cantar até o fim” parecia uma despedida, uma canção-testamento. Porém, ela foi além, desafiou seus próprios instintos e, em 2018, gravou o disco “Deus é Mulher” e, em 2019, Planeta Fome. 

Mas a canção se fez pro´fética e seu desejo foi feito. Dois dias antes de morrer, Elza gravou um DVD no Theatro Municipal de São Paulo. O percussionista Mestre da Lua informou que o show, realizado segunda (18) e terça (19), foi gravado sem que o público ou a imprensa soubessem.

Um ano depois, venceu o Grammy Latino de Melhor Álbum de MPB. O disco também entrou para a lista de melhores do ano do jornal The New York Times.

Em 2020, foi indicada ao Grammy Latino pela melhor Canção em Língua Portuguesa com “Libertação”, gravada em parceria com a banda BaianaSystem & Virgínia Rodrigues. A música é mais um grito de resistência: “eu não vou sucumbir. Amiga, segura a minha mão!”:

Para 2022, sua agenda de shows estava cheia até agosto, quando deveria se apresentar em Belo Horizonte (MG), e até o último momento ela esteve ativa “feliz com o retorno dos shows”. 

Em 27 de dezembro do ano passado, esteve no Pará e postou fotos ao lado da outra diva, Dona Onete, rainha do carimbó chamegado, do rapper Renagado, com quem gravou “Negão Negra” em julho de 2020.

“Deixei um pouco de mim em Belém e trouxe um pouco dessa gente que amo. Acho que tem que ser assim, verdadeiro e com troca”, escreveu 

Ela também estava preparando um novo trabalho, ainda sem informações de data de lançamento.

No último carnaval antes da paralisação da festa popular por causa da Covid-19, Elza foi tema do enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel com o samba “Elza Deusa Soares”. A cantora desfilou em carro aberto em um altar na última ala, tendo a rara oportunidade, em um país que despreza sua cultura, de ser homenageada em vida. 

O samba relembra sua infância pobre em favelas e cortiços no bairro de Padre Miguel, no Rio de Janeiro. Um dos trechos da letra diz: 

Brasil, esquece o mal que te consome
Que os filhos do planeta fome
Não percam a esperança em seu cantar
Ó nega, “sou eu que te falo em nome daquela”
Da batida mais quente, o som da favela
A resistência em oração
“Se acaso você chegar” com a mensagem do bem
O mundo vai despertar, Deusa da Vila Vintém
És a estrela…
Meu povo esperou tanto pra revê-la

Laroyê ê mojubá… liberdade
Abre os caminhos pra Elza passar… canta Mocidade!
Essa nega tem poder, é luz que clareia
É samba que corre na veia

Em suas redes, a escola fez a seguinte homenagem póstuma:

Parafraseando Getúlio Vargas, Elza saiu da vida para entrar na história. Cada garota que sai da periferia, da miséria para ganhar o mundo tem um quê de Elza Soares, de atrevimento, de impertinência por estar desafiando o planeta fome.  

Elza saiu da vida para entrar na história. Cada garota que sai da periferia, da miséria para ganhar o mundo tem um quê de Elza Soares, de atrevimento, de impertinência por estar desafiando o planeta fome.

Reprodução
Elza Soares, vinda do planeta fome e dona da voz do milênio, segundo escolha da BBC

Veja as homenagens feitas por políticos, artistas, cantores à eterna musa:


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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Vanessa Martina-Silva Trabalha há mais de dez anos com produção diária de conteúdo, sendo sete para portais na internet e um em comunicação corporativa, além de frilas para revistas. Vem construindo carreira em veículos independentes, por acreditar na função social do jornalismo e no seu papel transformador, em contraposição à notícia-mercadoria. Fez coberturas internacionais, incluindo: Primárias na Argentina (2011), pós-golpe no Paraguai (2012), Eleições na Venezuela (com Hugo Chávez (2012) e Nicolás Maduro (2013)); implementação da Lei de Meios na Argentina (2012); eleições argentinas no primeiro e segundo turnos (2015).

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