Pesquisar
Pesquisar

Frei Betto | Nós, cristãos, somos discípulos de um prisioneiro político

Jesus foi um paradigmático militante político em uma época em que ainda não havia discernimento entre religião e política
Frei Betto
Diálogos do Sul
São Paulo (SP)

Tradução:

Jesus Militante – Evangelho e projeto político do Reino de Deus (Vozes) me consumiu vários anos de pesquisas e leituras. É uma análise detalhada do Evangelho de Marcos, o primeiro a ser escrito, e no qual se inspiraram os evangelistas Mateus e Lucas. 

Escrito em linguagem acessível, e até mesmo didática, tratei de evitar o “teologuês”, de modo que os leitores possam entender o que, de fato, Jesus veio nos propor.

Frei Betto | Vozes garantem que democracia está sólida contra golpe; será?

Já no catecismo aprendemos que a palavra Evangelho significa Boa Nova. Mas que Boa Nova Jesus veio nos anunciar? Uma nova religião que, inspirada em seu testemunho, ficou conhecida como Cristianismo? Uma nova instituição religiosa chamada Igreja

Jesus não teve a pretensão de fundar nada. Quis apenas nos transmitir que Deus nos criou, como registra o Gênesis, para vivermos em um paraíso. Se o projeto de Deus para a história humana foi subvertido pelo abuso de nossa liberdade – inclusive de rejeitar a proposta divina – uma segunda oportunidade Deus nos ofereceu ao se fazer presente entre nós na pessoa de Jesus. 

Portanto, Jesus veio nos trazer uma nova proposta civilizatória, política, resumida na expressão Reino de Deus. Aliás, esta expressão aparece 122 vezes nos quatro evangelhos. E o vocábulo Igreja apenas duas vezes, e assim mesmo em um único evangelho, no de Mateus. Contudo, muito falamos de Igreja e pouco de Reino.

Jesus foi um paradigmático militante político em uma época em que ainda não havia discernimento entre religião e política

Editora Vozes
Igreja deveria ser o Movimento de Jesus, ou seja, o movimento que congrega seus discípulos dispostos a abraçar o exemplo de sua militância

Isso se explica por duas razões: a tradição cristã cometeu o equívoco de situar o Reino de Deus nas esferas celestiais, quando na proposta de Jesus figura em nosso horizonte histórico. E pelo fato de hoje em dia termos raros reinos, muitos deles meramente decorativos. 

Ora, por que Jesus – tão amoroso e misericordioso – morreu cruelmente assassinado na cruz, a pena de morte dos romanos que ocupavam a Palestina no século I?

Por razões óbvias: ele ousou, dentro do reino de César, anunciar um outro reino possível, o de Deus. Por isso o condenaram como subversivo. Assim, todos nós cristãos somos discípulos de um prisioneiro político.

“Mantenha viva a indignação”: Os 10 conselhos de Frei Betto para militantes de esquerda

A proposta civilizatória de Jesus se baseia em dois pilares – é o que ressalta o Evangelho de Marcos: nas relações pessoais, o amor, incluído o perdão; nas relações sociais, a partilha dos bens da Terra e dos frutos do trabalho humano.

Portanto, a Igreja deveria ser o Movimento de Jesus, ou seja, o movimento que congrega seus discípulos dispostos a abraçar o exemplo de sua militância para instaurar, na história, o projeto político do Reino de Deus, no qual não haveria opressões e exclusões, nem devastação da natureza. 

Este é o conteúdo de Jesus Militante, no qual analiso os diferentes trechos de cada um dos capítulos do Evangelho de Marcos. O modo como Jesus rompeu com a religião esclerosada e fundamentalista do templo de Jerusalém; sua radical opção pelos pobres; suas críticas às injustiças sociais; seu repúdio à ocupação romana da Palestina.

Tudo isso reforça a certeza de que, em se tratando de Jesus, estamos diante de um paradigmático militante político em uma época em que ainda não havia discernimento entre religião e política, pois quem detinha o poder político tinha também o poder político e vice-versa.

Espero que a leitura de JESUS MILITANTE nos faça compreender o caráter revolucionário da proposta de Jesus, e de como devemos dar continuidade à sua militância, imbuídos do propósito, não de ter fé em Jesus, mas de ter a fé de Jesus. 

Frei Betto | Colaborador da Diálogos do Sul.


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

Assista na TV Diálogos do Sul


Se você chegou até aqui é porque valoriza o conteúdo jornalístico e de qualidade.

A Diálogos do Sul é herdeira virtual da Revista Cadernos do Terceiro Mundo. Como defensores deste legado, todos os nossos conteúdos se pautam pela mesma ética e qualidade de produção jornalística.

Você pode apoiar a revista Diálogos do Sul de diversas formas. Veja como:

  • PIX CNPJ: 58.726.829/0001-56 

  • Cartão de crédito no Catarse: acesse aqui
  • Boletoacesse aqui
  • Assinatura pelo Paypalacesse aqui
  • Transferência bancária
    Nova Sociedade
    Banco Itaú
    Agência – 0713
    Conta Corrente – 24192-5
    CNPJ: 58726829/0001-56

       Por favor, enviar o comprovante para o e-mail: assinaturas@websul.org.br 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul do Global.
Frei Betto Escritor, autor de “Cartas da prisão” (Companhia das Letras); “Batismo de sangue” (Rocco); e “Diário de Fernando – nos cárceres da ditadura militar brasileira” (Rocco), entre outros livros 74 livros editados no Brasil, dos quais 42 também no exterior. Você poderá adquiri-los com desconto na Livraria Virtual – www.freibetto.org. Ali os encontrará a preços mais baratos e os receberá em casa pelo correio.

LEIA tAMBÉM

E_preciso_salvar_Abril_Henrique_Matos
50 anos da Revolução dos Cravos: a faísca africana, os inimigos da mudança e a força operária
Frei Betto
Frei Betto | Precisamos rever ideias, abrir espaço às novas gerações e reinventar o futuro
Racismo_Mídia
Racismo e mídia hegemônica: combater problema exige mais que “imagens fortes” nas redes
José Carlos Mariátegui
94 anos sem Mariátegui, fonte eterna para entender as cicatrizes do Peru e da América Latina