Na corrida pelo poder político costuma perder-se, além do respeito pela verdade, algo absolutamente indispensável: a transparência e a capacidade de mostrar um perfil idôneo e à prova de escrutínio para o cargo ambicionado. Em um mundo orientado para a absurda soberania das leis do mercado e frente a sociedades desprovidas de elementos de julgamento confiáveis diante da oferta política – como sucede na maioria dos países latino-americanos – aqueles que triunfam costumam ser os mais poderosos, os mais trapaceiros, mas nem sempre os melhores.
As grandes maiorias foram desprovidas de acesso a uma educação de qualidade e esse fato repercute na carência de capacidade de análise, de acesso a uma informação objetiva e comprovável sobre a oferta eleitoral, mas também uma inevitável aceitação de decisões emanadas por instituições que perderam de vista sua missão. Estas instituições costumam se desviar da sua missão para comprazer e proteger setores interessados em apoderar-se do poder. Neste cenário os conceitos de soberania, independência, democracia e governança foram desprovidos de todo seu significado.
Só exercício de cidadania pode dar fim à estrutura de abusos e corrupção na Guatemala
Para iniciar o processo de eleger um governante: presidente, prefeito, deputado ou qualquer outro cargo de eleição popular, é indispensável descartar antes de solucionar. Ou seja, deixar de lado todo indivíduo – homem ou mulher – cujos antecedentes mostrem conflito com a lei, atos de corrupção, falsidade ou não cumprimento de promessas de campanha em eventos prévios, ocultamento da origem de seu patrimônio e falta de transparência no financiamento de sua propaganda política. Para ocupar um cargo político, a ética é um fator absolutamente indispensável, mas também a capacidade profissional e técnica que os respalde para executá-lo com eficiência e eficácia.
Um estadista é, segundo o dicionário, “uma pessoa com grande saber e experiência em assuntos de Estado”. Porém é muito mais que isso: é aquele que conhecer as necessidades de seu povo e busca resolvê-las, apelando ao consenso cidadão para tomar decisões equilibradas; é aquele que gera um avança sustentável em todos os campos de ação, independente de pressões de grupos de poder; é aquele que compreende suas limitações no exercício do cargo e sabe cercar-se de uma equipe respeitosa da lei. Mas, sobretudo, é quem não tramita com grupos de poder econômico nem com organizações criminosas que só buscam seu próprio benefício, contra o benefício das maiorias.
Para eleger um governante não basta acusar convocatórias de caráter proselitista e escutar discursos. É preciso dar-se a tarefa de investigar, porque dar o voto é uma decisão de enorme alcance e sérias consequências. O sufrágio é uma declaração de confiança, de compromisso e de exercício cidadão, pelo qual nunca deve responder à coação nem ao pagamento de um suborno. É o ato cívico mais importante para uma democracia e vendê-lo por dinheiro, presentes ou um saco com alimentos é uma tradição contra a integridade pessoal e a do país.
Ao dar uma olhada nos processos eleitorais próximos a estas datas resulta doloroso comprovar quanto se perdeu em termos de poder cidadão, quando se deteriorou a institucionalidade e quanto a incerteza ameaça a incipiente democracia de nossas castigas nações.
A falta de reflexão diante do sufrágio é um ato de negligência e tem consequências.
Carolina Vásquez Araya | Colaboradora da Diálogos do Sul na Cidade da Guatemala.
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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