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ToggleRealizou-se nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro, a tão aguardada Cúpula do Brics+, encontro que reuniu chefes de Estado dos 10 países membros do bloco – Brasil, China, Índia, Rússia, África do Sul e demais – e de seus 10 países parceiros, como Bolívia, Cuba, Nigéria, Tailândia e Vietnã. Marcando a primeira cúpula desde a ampliação do grupo (agora englobando 20 países), o evento foi saudado como uma oportunidade histórica de remodelar a ordem geopolítica. Desde o início, ficou claro que a reforma da governança global e a cooperação entre nações em desenvolvimento seriam as bandeiras centrais do encontro – não por acaso, os dois eixos prioritários definidos pela presidência brasileira do Brics em 2025.
Reforma da ordem global em debate
Uma das pautas dominantes foi a reforma da ordem global, com críticas às estruturas de poder estabelecidas no pós-guerra. Os líderes do Brics+ reivindicaram maior voz para os países emergentes nas instituições internacionais, defendendo, por exemplo, o aumento da participação de países da África, América Latina e Caribe nos processos decisórios globais. No âmbito econômico, enfatizou-se a necessidade de corrigir a sub-representação do Sul Global em organismos financeiros: foi exigido o aumento das cotas dos países em desenvolvimento no Fundo Monetário Internacional (FMI), bem como de sua fatia acionária no Banco Mundial. Tais propostas refletem a insatisfação com uma governança internacional considerada anacrônica e desequilibrada.
Não por acaso, houve apelos diretos à reformulação de órgãos como o Conselho de Segurança da ONU e a Organização Mundial do Comércio. Conforme destacou o primeiro-ministro indiano Narendra Modi, a recente expansão do Brics demonstra a capacidade do grupo de evoluir, mas é preciso atualizar as instituições globais “para os tempos atuais”, pois “não dá para rodar software do século 21 em máquinas de escrever do século 20”. Em outras palavras, o Brics+ aproveitou o palco do Rio para cobrar que a ordem mundial se modernize, abrindo espaço efetivo à multipolaridade. Os países do bloco afirmaram compromisso com o multilateralismo e com a defesa do direito internacional, enfatizando a busca por uma ordem internacional mais representativa e justa – um claro recado de que o status quo hegemonizado pelo Norte global já não é aceitável sem mudanças.
Protagonismo do Sul Global em destaque
Outro tema central foi o protagonismo do Sul Global. A cúpula serviu como vitrine para a união política de regiões historicamente marginalizadas nas estruturas de poder mundial. O documento final enfatizou a importância dos países em desenvolvimento como “motor de mudanças positivas” no cenário contemporâneo. Ficou evidente a narrativa de que o Sul Global não pretende mais ser coadjuvante: ao contrário, quer ditar a agenda em áreas cruciais como desenvolvimento sustentável, tecnologia e solução de conflitos.
Com a incorporação de novos membros e parceiros, o Brics+ ganhou alcance sem precedentes. Agora, o bloco expandido representa 55% da população mundial e cerca de 46% do PIB global, concentrando algumas das economias que mais crescem. Essa massa crítica confere peso às reivindicações – e simboliza uma virada histórica. Pela primeira vez desde o fim da Guerra Fria, uma coalizão liderada por países do Sul Global apresenta-se tão abertamente como contraponto às potências tradicionais, reivindicando voz ativa na definição das “regras do jogo” globais. Os líderes ressaltaram que, num mundo multipolar, é fundamental que as nações em desenvolvimento fortaleçam a coordenação e o diálogo entre si para construir uma governança mais equitativa e relações mutuamente benéficas. Em suma, o recado do Rio foi direto: sem o Sul, não há solução duradoura para os desafios globais.
Cooperação ampliada entre nações em desenvolvimento
Para além dos discursos, a Cúpula do Brics+ buscou demonstrar cooperação prática entre seus membros. O encontro resultou em nada menos que 126 compromissos conjuntos, cobrindo temas que vão desde governança global e finanças até saúde, inteligência artificial e mudança do clima. Várias iniciativas foram lançadas para dar substância a esses compromissos. Por exemplo, foi firmada a Parceria do Brics para a Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas – um esforço coletivo para combater as causas profundas de disparidades em saúde, como pobreza e exclusão social. Também foi aprovada uma Declaração de Líderes sobre a Governança Global da Inteligência Artificial, refletindo uma visão compartilhada do Sul Global para moldar os rumos dessa tecnologia emergente. Na área climática, os países endossaram uma Declaração-Marco sobre Finanças Climáticas, delineando um roteiro para mobilizar recursos contra a crise do clima nos próximos anos.

Essas iniciativas visam traduzir a retórica de solidariedade em ações concretas. Como destacou a delegação brasileira, tratam-se de esforços conjuntos para promover soluções “inclusivas e sustentáveis” aos desafios globais urgentes. Além disso, discutiu-se o incentivo ao comércio em moedas locais e o fortalecimento de mecanismos financeiros próprios, como o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), para reduzir a dependência em relação ao dólar e às instituições dominadas pelo eixo EUA-Europa. Em síntese, a mensagem foi de autossuficiência cooperativa: os países do Brics+ querem apoiar uns aos outros em projetos de desenvolvimento, tecnologia e infraestrutura, mostrando na prática os benefícios da colaboração Sul-Sul.
Desafios e perspectivas para o Brics+
Embora a cúpula tenha representado um avanço simbólico importante, nem tudo são flores no caminho do Brics+. Por trás do otimismo dos pronunciamentos, persistem desafios significativos a serem enfrentados. Um dos principais é manter a coesão interna de um grupo tão diverso. O bloco hoje inclui desde democracias populosas até autocracias petrolíferas, com interesses nem sempre convergentes. Divergências geopolíticas latentes – como as rivalidades históricas entre Índia e China, ou as tensões recentes envolvendo Rússia e Ocidente – podem dificultar a formulação de posições unificadas em temas sensíveis. Além disso, a própria expansão acelerada traz dilemas sobre a identidade e a eficácia do grupo: analistas alertam que é preciso equilibrar inclusão e eficiência, gerando resultados concretos sem reproduzir modelos obsoletos de alianças meramente retóricas. Ou seja, de pouco adianta agregar muitos membros se o Brics+ não conseguir atuar de forma coesa e pragmática.
Outro desafio vem de fora: as potências estabelecidas tendem a ver com reservas (quando não com aberta hostilidade) o fortalecimento do Brics+. Vários países que manifestaram interesse em aderir enfrentam pressões econômicas e políticas para desistir, incluindo ameaças de sanções e retaliações por parte de grandes potências. Essa realidade impõe cautela – e explica por que algumas nações preferem, por ora, a condição de “parceiro” em vez de membro pleno. O Brics+ terá de caminhar numa linha tênue, buscando expandir sua influência sem precipitar um confronto direto de blocos que possa isolar certos membros ou afastar potenciais aliados.
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Por fim, há o teste da entrega: transformar as declarações ambiciosas em benefícios tangíveis para as populações dos países membros. As sociedades do Sul Global, afinal, julgarão o bloco não pelos comunicados oficiais, mas pelos resultados em melhoria de vida, redução da pobreza e maior justiça nas relações econômicas. Credibilidade será a palavra-chave daqui para frente. Será preciso demonstrar que a cooperação Brics+ não é apenas um clube de governos, mas um instrumento capaz de produzir mudanças reais – do financiamento de infraestrutura sustentável até a distribuição de vacinas e tecnologia acessível. Sem isso, o risco é que o entusiasmo inicial se dilua em frustração.
Um marco histórico com um longo caminho pela frente
Ao cabo, a Cúpula do Brics+ de 2025, realizada em solo brasileiro, já entra para a história como um marco na luta por uma ordem mundial mais inclusiva. Foi a primeira vez que um conjunto tão amplo de nações em desenvolvimento – representando mais da metade do planeta em gente e riqueza – se reuniu com o declarado propósito de mudar as regras do jogo global em seu favor. O simbolismo desse momento é poderoso: o Sul Global apresentou-se não mais como coadjuvante, mas como protagonista unido em torno de uma visão comum. Porém, simbolismo por si só não basta. Os desafios adiante são proporcionais às ambições proclamadas. Sem unidade estratégica entre os membros e persistência para enfrentar as inevitáveis resistências das potências tradicionais, o projeto Brics+ corre o risco de perder fôlego. História não se faz do dia para a noite – e redefinir a ordem mundial é um empreendimento de fôlego longo. Resta ao Brics+ provar, nos próximos capítulos, se conseguirá converter expectativas em realidade. O Rio de Janeiro ofereceu o palco e acendeu os holofotes; agora, cabe a esses países escreverem, juntos, os próximos atos dessa transformação tão aspirada quanto desafiante.
* Artigo redigido com auxílio do ChatGPT.





