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ToggleUma multidão se concentrou no centro de Ramallah, principal cidade palestina da Cisjordânia, para repudiar o “Plano da Vergonha”, como denominam a indecorosa proposta de Donald Trump para, em nome de seu “Plano para a paz” ou “Negócio do Século”, oferecer uma espécie de bantustão entrecortado por assentamentos judaicos implantados em terras assaltadas aos palestinos.
“A política distorcida em favor de Israel por parte da Casa Branca e o apoio incondicional dos EUA aos assentamentos israelenses, além da continuidade da ocupação, não nos deixa outra opção que não a Resistência”, afirmou, na manifestação, Mahmoud Aloul, dirigente do Fatah (partido fundado por Yasser Arafat e que abriga os principais líderes palestinos).
Para que os milhares se manifestassem em Ramallah e nas demais cidades e aldeias palestinas, as sedes dos partidos, do governo, das escolas e universidades ficaram fechadas.
“Esta concentração mostra que não importa a dimensão da pressão que exerçam sobre nós. Nada vai nos levar a desistir de nossos direitos e a abandonar nossas percepções nacionais”, declarou ainda o dirigente do Fatah.
Enquanto o ato transcorria, o presidente palestino, Mahmud Abbas, dirigia-se ao Conselho de Segurança da ONU denunciando a arbitrariedade de Trump, cujo “plano da vergonha” desconsiderou não apenas os legítimos anseios nacionais palestinos, mas todas as resoluções da ONU e as leis internacionais.
Ayman Noubani – Wafa
"Apoio de Trump aos assentamentos em terra palestina e à continuidade da ocupação por parte de Israel só nos deixa como opção a Resistência"
Além de bandeiras palestinas, os manifestantes portavam faixas destacando: “Trump para o impeachment, Netanyahu para a cadeia. A ocupação vai embora e nós permaneceremos em nossa terra”, “A Palestina não está à venda” e “Não ao Plano da Vergonha”.
“A partir do momento em que essa multidão enche as ruas de Ramallah e Gaza, o mundo vai saber de sua reação ao plano”, afirmou o primeiro-ministro palestino, Mohammad Shtayeh, dirigindo-se aos manifestantes. “Sua presença é a mensagem ao presidente Abbas de que nós o apoiamos em sua luta para derrubar o ‘negócio da vergonha’”, acrescentou o premiê.
Lado a lado com o primeiro-ministro se postaram integrantes do Comitê Executivo da Organização pela Libertação da Palestina (OLP) e de representantes de todas as forças políticas palestinas.
“Cegueira, arrogância e ignorância na casa Branca”
Pouco antes do pronunciamento de Abbas na ONU, o secretário-geral da OLP e negociador-chefe dos palestinos, Saeb Erekat, destacou que “hoje, na ONU, o presidente Mahmud Abbas vai dizer: ‘Deem uma chance à paz, não ao apartheid’. E vai oferecer uma proposta séria para que se alcance uma paz justa e duradoura no Oriente Médio”.
Erekat enfatizou ainda que “uma visão da paz nunca pode servir para violações da lei internacional. O plano de Donald Trump denominado de ‘Paz para a Prosperidade’, descortinado pela Casa Branca, acaba de fazer isso”.
“É um plano anexacionista que bem define a cegueira, arrogância e ignorância do atual governo norte-americano. Enquanto ambos, Netanyahu e Trump, tentam confundir o mundo com promessas de ‘um futuro melhor’, o que permanece, de fato, é a sinergia política entre as duas lideranças de direita que compartilham uma única visão: apartheid”, prosseguiu Erekat.
Abbas na ONU: “este plano não trará a paz”
“Nós – o povo palestino – vamos confrontar a aplicação deste plano no nosso solo”, afirmou o presidente palestino, Mahmud Abbas, em seu pronunciamento dirigido ao Conselho de Segurança da ONU no dia 11.
“Este plano, onde o mapa palestino aparece fragmentado, esburacado como um queijo suíço, não vai trazer a paz. Quem, dentre os senhores, aceitaria um Estado destes, em tais condições?”, questionou Abbas, que alertou a comunidade internacional: “Esta tensão pode explodir a qualquer momento. Os palestinos precisam de esperança, não tirem dos palestinos a esperança”.
“Este plano, ou qualquer parte dele, não pode servir de referência internacional a qualquer negociação”, esclareceu ainda o dirigente, ao tempo em que conclamou os representantes das delegações internacionais a “estabelecerem uma parceria internacional para que se possa alcançar uma paz abrangente, justa e duradoura”.
Abbas também deixou claro que os palestinos rechaçam a ideia de Trump de “barganhar com dinheiro ao invés de soluções políticas”.
Destacando que “os Estados Unidos não podem ser o mediador único e exclusivo”, prosseguiu: “Estamos dispostos a iniciar negociações na medida em que haja um parceiro verdadeiro em Israel e sob o patrocínio do Quarteto [formação que inclui ONU, Rússia, União Europeia e EUA, estabelecida com aprovação do CS da ONU em 2002, logo após a segunda Intifada, rebelião palestina) e com base nos já acordados parâmetros internacionais”.
Pouco antes do seu pronunciamento, Abbas encontrou-se com o ex-primeiro-ministro israelense, Ehud Olmert, que afirmou, em coletiva de imprensa: “Mahmud Abbas é um homem de paz, é o único parceiro verdadeiro para as negociações de paz”.
O líder da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, voltou a se pronunciar alertando Israel para a anexação unilateral de territórios palestinos (tendo em vista o plano de Trump que inclui a anexação de 30% do que restou aos palestinos para constituir seu Estado, no Vale do Jordão) e reiterando que a União Europeia busca ajudar a que “seja estabelecido um Estado Palestino independente”.
Além do diplomata da União Europeia; Rússia, Liga Árabe e a União Africana já declaram sua rejeição ao plano da vergonha de Trump, apoiado por Netanyahu.
Sem se referir ao assalto a terras palestinas executado pelo governo de Netanyahu e respaldado por Trump, o embaixador de Israel na ONU, Danny Danon (que antes da atual função foi rejeitado como embaixador de Israel no Brasil, por seu papel como chefe da Associação dos Assentamentos Judaicos em terras assaltadas aos palestinos), buscou inverter a responsabilidade pelo impasse nas negociações de paz, afirmando que “a paz não será possível enquanto Abbas continuar no poder”.
Em uma pesquisa realizada em Gaza e na Cisjordânia, entre os dias 5 a 8 de fevereiro, pelo Centro para Política e Pesquisa, 94% dos palestinos rejeitaram o “negócio do século” de Trump.
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