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Dina Boluarte (Foto: Presidência do Peru / Flickr)

Derrotar Boluarte: passo vital para fortalecer o Peru contra o imperialismo

Como Milei e Noboa, Dina Boluarte já demonstra que a administração do Peru será servil a Trump; resistir a isso exige unidade da esquerda para além da esfera eleitoral
Gustavo Espinoza M.
Diálogos do Sul Global
Lima

Tradução:

Beatriz Cannabrava

Em 26 de janeiro, no Peru, — quando se completou um novo aniversário do massacre de Uchuraccay, quando a grande imprensa reproduz as palavras de Dina Boluarte afirmando que o país “recuperou o equilíbrio e a paz”, e quando o mundo começa a tomar consciência das ameaças de Donald Trump contra a paz e a América, delineando mais uma vez o rosto feroz do Império — os representantes da esquerda se reuniram para promover acordos que facilitem a Unidade do Povo na luta contra o neoliberalismo e a Máfia que oprime a sociedade peruana. Um propósito louvável, sem dúvida.

Agora está mais claro do que nunca o fato de que a direita mais reacionária busca perpetuar seu poder recorrendo às manobras mais ardilosas e às práticas mais mentirosas. Por um lado, incentiva a dispersão e o desânimo em diferentes segmentos da sociedade; e, por outro, alimenta desconfianças e preconceitos para desencorajar qualquer esforço unitário.

Para ambos os propósitos, apoia-se também nos elementos imaturos, corrosivos e dissolventes aos quais Mariátegui se referia quando falava da voz pessimista daqueles que negam e daqueles que duvidam. Hoje, uns e outros se somam na tentativa de fazer naufragar qualquer esforço unitário.

É muito importante enfatizar – como fez Indira Huilca há alguns dias – que a Unidade que precisamos construir não deve ser apenas eleitoral. Deve ser, em primeiro lugar e acima de tudo, política. Deve afirmar-se e sustentar-se em objetivos concretos e em pontos comuns que sirvam para somar forças, mas que reflitam uma vontade de classe, um espírito de transformação e uma batalha social por um mundo melhor, mais humano e mais justo.

Derrubar o poder oligárquico

Devemos estar cientes de que, no Peru, o essencial é derrubar o Poder Oligárquico e seu modelo de dominação. Agora está muito claro que “os de cima” não podem continuar governando como antes. Só falta que “os de baixo” se unam para estarem em condições de forjar uma nova gestão verdadeiramente democrática, popular, patriótica, nacionalista e, por isso mesmo, anti-imperialista. Isso nos abrirá caminho para horizontes maiores.

Donald Trump não é apenas o 47º presidente dos Estados Unidos. Ele é, sobretudo, a encarnação mais viva do imperialismo em sua fase mais agressiva. Sua ascensão ao poder e seu belicismo nos lembram de Lênin, que afirmava que a guerra não é apenas o resultado da vontade pessoal de homens empenhados em promovê-la, mas, acima de tudo, a expressão da crise da dominação capitalista quando esta atinge um determinado nível de desenvolvimento e acelera seu processo de extinção.

Netanyahu, Milei, Bolsonaro, Musk, Trump: “os semelhantes se atraem”

Por isso, ele se empenha em transformar os Estados Unidos novamente no país mais poderoso do mundo. E isso, para satisfazer os interesses da plutocracia mais ambiciosa, composta pelos mais extremamente ricos Elon Musk, Mark Zuckerberg e Jeff Bezos, cujas fortunas somadas são superiores ao PIB de todos os países da América Latina e da África juntos. Por isso, ocuparam os três lugares mais destacados no Capitólio em 20 de janeiro.

A eles, e a Trump, só interessa – por enquanto – o poderio dos Estados Unidos. Eles buscam se apropriar da Groenlândia, adicionar o Canadá como mais uma estrela à bandeira das barras, quebrar o Panamá, arrebatando-lhe o Canal, apoderar-se do Golfo do México ou dobrar a resistência asteca, destruir o legado sandinista da Nicarágua, afundar Cuba no mar com Martí, Fidel e todos os cubanos, e derrotar definitivamente a experiência bolivariana da Venezuela para demonstrar que, quem manda nestas terras, é o amo ianque.

Derrotar a Rússia e enfrentar a China

E isso, é claro, com visão de futuro, porque o que eles têm em mente é nada menos que derrotar a Rússia para apoderar-se de suas riquezas minerais e petrolíferas e, em seguida, enfrentar a China com a ideia de assegurar o domínio mundial do Império. Se, hipoteticamente, conseguissem, devorar o Oriente Médio e acabar com a soberania dos Estados energéticos da região seria como uma brincadeira de criança.

Diante dos desígnios da camarilha belicista instalada hoje na Casa Branca, está em jogo o destino da América Latina. Governos como o de Milei, na Argentina, ou Noboa, no Equador, buscam fazer o jogo deles. E também tenta seguir esse mesmo esquema a servil administração peruana, hoje nas mãos sujas de Boluarte, que já convidou Trump e se ofereceu para encontrá-lo em Washington. Em contrapartida, há outros governos que, em maior ou menor medida, oferecem resistência ao domínio ianque ou conciliam com ele.

Trump, EUA e a “super república das bananas”

A batalha contra Boluarte e seu regime espúrio deve ser o centro de nossa atividade política. Para derrotá-lo, temos que quebrar o Pentágono que o sustenta, a soma dos cinco poderes maléficos que lhe conferem uma estabilidade muito relativa: os núcleos partidários mais reacionários, a “maioria” parlamentar, a cúpula militar corrupta, o alto empresariado e a grande imprensa. E isso só poderá ser alcançado construindo a Unidade a partir das bases da sociedade, ou seja, a própria base do povo.

A participação nas eleições é mais um desafio, mas não é o objetivo principal. Não é por esse caminho que alcançaremos o mais importante: mudar o cenário nacional. Por isso, o decisivo não é perder-se no debate sobre candidatos presidenciais. Muito menos em cotas parlamentares.

A Unidade não se constrói para apoiar pessoas, mas objetivos. Sem preconceitos nem rancores, sem conceitos mesquinhos ou provincianos. O fundamental é estar na base social, no próprio povo, identificado com suas bandeiras e suas lutas.

Abandonar ambições, relegar interesses pessoais ou partidários, e reivindicar o melhor legado de homens como Alfonso Barrantes e outros, permitiria vislumbrar o rumo de nosso movimento. Por isso, a Unidade é tarefa de todos.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Gustavo Espinoza M. Jornalista e colaborador da Diálogos de Sul em Lima, Peru, é diretor da edição peruana da Resumen Latinoamericano e professor universitário de língua e literatura. Em sua trajetória de lutas, foi líder da Federação de Estudantes do Peru e da Confederação Geral do Trabalho do Peru. Escreveu “Mariátegui y nuestro tiempo” e “Memorias de un comunista peruano”, entre outras obras. Acompanhou e militou contra o golpe de Estado no Chile e a ditadura de Pinochet.

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