Minha amiga Ana Cordero compartilhou comigo um vídeo onde aparecem os que eu chamo de “animais de vento” do genial Theo Jansen, artista holandês cujas obras mostram uma extraordinária fusão entre arte e engenharia; na realidade, são esculturas cinéticas criadas com materiais levíssimos, como tubos de plástico e tecido, capazes de caminhar pelas praias, movidas pela brisa marítima graças a um engenhoso sistema de construção.
Seus preciosos e extravagantes animais de ar se elevam ou deslizam com especial cadência dando a impressão de gigantescas figuras pré-históricas. É beleza pura. O comentário de Ana me pareceu tão pertinente como para citá-lo nesta coluna: “…nestes dias, quando o mundo está sumido na doença, na corrupção e na ambição, ver que alguém dedica sua vida a criar beleza, me encantou…”.
Criar beleza e desfrutá-la é uma de nossas atividades mais transcendentais. Depois de satisfazer suas necessidades imediatas, o ser humano – desde tempos imemoriais – tem encontrado na arte a melhor expressão para exibir sua capacidade criadora, sua particular e íntima visão do mundo e sua indispensável projeção espiritual. Criar arte, observar a natureza e transformá-la em palavras, cores, imagens ou sons é um trabalho complexo capaz de transmutar a realidade e levar-nos a uma esfera além de nossa cotidianidade. Mas estamos perdendo isso…
As novas gerações terão que lutar, contra os interesses de um sistema obtuso, orientado com todos os seus recursos à produção massiva de bens de consumo, por seu direito a criar o essencial – que é a arte – e vencer essa demanda que lhe impede o desenvolvimento integral por meio de uma educação bem enfocada.
Fundação de Cultura
A arte não é um desperdício de tempo, é uma função fundamental.
O sistema imposto pelo materialismo extremo que nos conduziu à produção em massa para o consumo massivo, sem contemplação alguma tem reduzido os espaços vitais da arte para impor às gerações nascentes uma dependência patológica de uma tecnologia onde tudo está feito. Imagens e sons de partida, perfeitos para adormecer as capacidades criativas desde a infância. Soma-se a isso, a limitação de espaços para o desenvolvimento das artes em colégios e institutos para substitui-los por matérias “práticas”, as quais não contemplam a necessidade de proporcionar a indispensável formação estética à nova juventude.
Vemos isso por todo lado; nas prioridades estabelecidas dentro dos orçamentos governamentais e na persistente ideia conservadora de que dedicar tempo à arte é um desperdício. Desde a infância é possível observar a necessidade vital da expressão artística, mas também como os sistema educativos cortam esses instintos criadores. Nossos países, imersos em um sistema capitalista mal enfocado para um materialismo cru e duro, ainda não aceitam que o desenvolvimento das disciplinas artísticas – desde a mais tenra infância – se manifesta em uma maior capacidade de análise, assim como em uma melhor compreensão da matemática e das ciências naturais. Ou seja, uma porta para gerações mais inteligentes e produtivas no melhor sentido do termo.
O investimento em educação, com enfoque amplo e corretamente orientado para a satisfação de todas as capacidades humanas e não apenas aquelas convenientes para o sistema imperante, poderia gerar uma comunidade humana com melhores ferramentas para compreender o mundo que a rodeia e, portanto, com uma visão holística de suas infinitas possibilidades. O espírito necessita o alimento tanto como o corpo, e por isso a formação deve contar todos os elementos para desenvolver uma sociedade capaz de compreender qual é seu papel neste mundo.
A arte não é um desperdício de tempo, é uma função fundamental.
*Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala
Tradução: Beatriz Cannabrava
As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul
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