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Ao centro, Luong Cuong (Presidente do Vietnã), Xi Jinping (Presidente da China) e To Lam (Secretário-Geral do Partido Comunista do Vietnã), durante encontro no país vietnamita (Foto: @XisMoments / X)

Desenvolvimento interno e alianças estratégicas fortalecem China ante tarifas dos EUA

Com expansão da demanda interna e aproximação com Europa, América Latina e vizinhos asiáticos, a China contrapõe o protecionismo dos EUA por meio de uma política de abertura, multilateralismo e solidariedade Sul-Sul
Isaura Diez
Prensa Latina
Pequim

Tradução:

Ana Corbisier

A guerra comercial iniciada pelos Estados Unidos contra a China em 2018, no primeiro mandato de Donald Trump, pegou Pequim de surpresa. Porém, agora que as taxas chegaram a 145%, qual é o panorama para o gigante asiático?

O primeiro-ministro Li Qiang reforçou que o país está preparado para enfrentar as incertezas, ao mesmo tempo em que reconheceu que os choques externos exerceram certa pressão sobre o bom funcionamento da economia nacional.

À escalada na guerra tarifária desencadeada por Trump, que tem a China na mira, o gigante asiático respondeu com tarifas semelhantes aos Estados Unidos e com a frase: “A China não quer confrontos, mas não tem medo de lutar”.

Este é o panorama atual: os produtos chineses importados pelo país estadunidense estão sujeitos a até 145% de tarifas (125% adicionadas nos últimos dias e 20% sob o pretexto do fentanil), enquanto todos os bens provenientes dos Estados Unidos enfrentam 125% ao chegar aqui.

A Alfândega do gigante asiático já notificou que, se a Casa Branca insistir no jogo tarifário e voltar a aumentar essas tarifas, Pequim deixará de dar atenção ao assunto.

O Ministério do Comércio chinês incluiu outras 12 empresas estadunidenses na lista de controle de exportações e apresentou uma demanda no âmbito do mecanismo de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as medidas tarifárias mais recentes.

“Não há vencedores em uma guerra comercial, o protecionismo não tem futuro”, afirmou o governo chinês. Mas também destacou que, se Washington insistir em sua abordagem hegemônica e quiser travar uma guerra tarifária “ou de qualquer tipo”, a China “o acompanhará até o fim”.

Segundo o presidente Xi Jinping, é normal que existam diferenças entre dois sistemas distintos; no entanto, acrescentou que há uma alta complementaridade entre as duas economias e que os sucessos de uma não devem ser vistos como uma ameaça para a outra.

O Ministério do Comércio do gigante asiático assegurou que a porta está aberta ao diálogo, mas que, se os Estados Unidos realmente quiserem negociar, devem fazê-lo com respeito e em condições de igualdade.

Enquanto as negociações não chegam…

Em uma reunião com líderes empresariais e especialistas do gigante asiático, o primeiro-ministro enfatizou a importância de fortalecer a confiança, trabalhar com unidade e focar nos assuntos internos para transformar as crises em oportunidades, permitindo promover um desenvolvimento econômico estável e de longo prazo no país.

Diante das mudanças no ambiente externo, destacou ainda a necessidade de implementar políticas macroeconômicas mais ativas e eficazes para lidar com as incertezas externas, sendo fundamental expandir e fortalecer o ciclo interno e priorizar a expansão da demanda interna como uma estratégia de longo prazo.

Outra proposta anunciada foi intensificar os esforços para estabilizar o emprego, impulsionar o crescimento da renda e liberar o potencial de consumo de serviços, além de promover a integração da inovação científica e tecnológica com a indústria, visando liderar a demanda com uma oferta de alta qualidade.

Li Qiang seguiu enfatizando a necessidade de estimular a vitalidade de todas as entidades comerciais, implementando políticas de apoio para resolver problemas como atrasos nos pagamentos, dificuldade de acesso ao crédito e seus altos custos: “Devemos ajudar as empresas a superar dificuldades e oferecer-lhes um melhor ambiente de desenvolvimento”, afirmou.

De fato, a China está voltada para a expansão da demanda interna, apontada como a verdadeira locomotiva da economia nacional, mas persistem desafios como a crise no setor imobiliário e uma queda na confiança dos consumidores.

Por outro lado, enquanto os Estados Unidos lideram em protecionismo, Pequim reafirmou seu compromisso com a reforma abrangente e a crescente abertura do país. A ideia é criar um ambiente empresarial unificado, justo e otimizado, com padrões internacionais e flexibilizações tarifárias para atrair investimentos estrangeiros.

De acordo com Li, a atividade econômica do país durante o primeiro trimestre continuou sua recuperação, e a economia nacional se destaca por suas muitas vantagens, forte resiliência e grande potencial.

Analistas apontam, entre as vantagens do gigante asiático, o fato de contar com um sistema industrial completo e um amplo mercado formado por uma classe média em expansão.

A China olha ao seu redor

Nesta semana, Xi está em viagem por Vietnã, Malásia e Camboja, em visitas de Estado que compreendem reuniões no mais alto nível. O trajeto do mandatário começou na segunda-feira (14) e será concluído nesta quinta-feira (17). O foco das negociações é afiançar as já excelentes relações políticas, econômicas e sociais de Pequim com seus vizinhos em meio à escalada tarifária dos Estados Unidos contra essas nações. De fato, esses três países fazem parte da Associação de Nações do Sudeste Asiático (Asean), bloco que se tornou o principal sócio comercial da China.

É notável que recentemente Xi Jinping tenha feito um apelo para fortalecer e abrir um novo capítulo nas relações regionais: “Devemos focar em construir uma comunidade de destino compartilhado com nossos vizinhos”, enfatizou em um encontro de alto nível. A conferência, realizada entre 8 e 9 de abril, ressaltou que os países ao redor da China são fundamentais para o desenvolvimento, a segurança nacional e a diplomacia global do gigante asiático.

A reunião destacou ainda que, embora as relações com os países vizinhos estejam em seu melhor momento desde a era moderna, também enfrentam desafios derivados de profundas mudanças globais. Para enfrentá-los, foi proposto trabalhar com base nos princípios da comunidade de destino compartilhado e nos valores asiáticos de paz, cooperação e abertura. Também foi ressaltado que a Iniciativa do Cinturão e Rota continuará sendo uma plataforma chave para impulsionar a integração e o desenvolvimento econômico regional.

Os participantes enfatizaram a necessidade de consolidar a confiança estratégica mútua, gerir as diferenças e aprofundar a cooperação econômica e em segurança. A Ásia é a zona natural de maior influência da segunda maior economia do mundo, e muitos de seus especialistas destacam a importância que Pequim atribui ao seu entorno. Conforme destacou o país recentemente, as potencialidades de desenvolvimento econômico na região, segundo prognósticos, deve crescer 4,5% em 2025 e aumentar seu peso na economia mundial para 48,6%.

Europa e América Latina são bem-vindas

Não se trata apenas da Ásia: a aproximação com a Europa também é notável nestes dias, apesar de suas próprias diferenças comerciais. De fato, a visita oficial do chefe de governo espanhol, Pedro Sánchez, ao gigante asiático e sua reunião com Xi representam mais um passo na ampliação desses vínculos.

Durante um encontro na casa de hóspedes de Diaoyutai, na capital, o líder asiático afirmou que a amizade entre os dois países se baseia em interesses comuns e benefícios de longo prazo. Nesse sentido, instou ambas as partes a consolidar o apoio mútuo em temas de soberania e preocupações centrais, e a aproveitar as oportunidades oferecidas por setores como energias renováveis, manufatura de alta tecnologia e cidades inteligentes.

Sobre as relações com a União Europeia (UE), Xi afirmou que a China considera o bloco um pilar importante em um mundo multipolar. Propôs trabalhar em conjunto para celebrar o 50º aniversário das relações diplomáticas entre Pequim e a UE, com o objetivo de promover uma parceria baseada na paz, no crescimento, na reforma e na civilização, o que avaliou como especialmente relevante nas circunstâncias atuais.

Xi Jinping observa que não há vencedores em uma guerra tarifária e que ir contra o mundo é se isolar. “Durante mais de 70 anos, o desenvolvimento da China sempre se baseou na autossuficiência e no trabalho árduo, sem jamais depender dos favores de ninguém, e muito menos temer qualquer repressão irracional”, destacou. Segundo o mandatário, independentemente de como mude o cenário externo, o gigante asiático fortalecerá sua confiança, manterá sua determinação e se concentrará em administrar bem seus próprios assuntos.

Quanto à América Latina, Xi enviou uma carta de felicitação à 9ª Cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), realizada recentemente em Honduras, na qual valorizou os vínculos entre Pequim e a região. O presidente destacou que essas relações resistiram às mudanças no cenário internacional e agora se encontram em uma nova etapa, caracterizada pela igualdade, inovação, abertura e benefícios compartilhados. Ambas as partes, segundo Xi, aprofundaram a confiança política, ampliaram a cooperação prática e estreitaram os laços culturais, o que beneficiou os dois povos e estabeleceu um modelo de cooperação Sul-Sul.

O presidente da Chine reiterou o convite aos países membros do bloco para participarem do próximo Fórum Ministerial China-Celac, previsto para ser realizado em Pequim ainda neste primeiro semestre do ano, e instou que o evento seja aproveitado para discutir planos de desenvolvimento, fortalecer a cooperação conjunta e, assim, contribuir para enfrentar os desafios globais, reformar a governança mundial e manter a paz e a estabilidade internacionais.

Prensa Latina, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Isaura Diez

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