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Debate sobre democratização da internet e limites da política marcam evento da mídia alternativa

Revista Diálogos do Sul

Tradução:

“É muito importante que estejamos realizando esse evento numa conjuntura como a atual. Não tivemos nenhum apoio institucional, mas este debate não poderia deixar de ser feito”. Dessa forma, Altamiro Borges, presidente do centro de estudos da mídia alternativa Barão de Itararé, abriu o 6Encontro Nacional de Blogueir@s e Ativistas Digitais, realizado na capital São Paulo nesta sexta (25) e sábado (26).

Redação

A greve dos caminhoneiros, que desde a última segunda-feira (21) tem paralisado estradas em todo o país, impactou a realização do evento. Convidados já confirmados, como Gleisi Hoffman, presidenta do PT, Guilhermes Boulos, pré-candidato à presidência pelo PSOL, e Manuela D`Ávila, pré-candidata à presidência pelo PCdoB, tiveram que cancelar a participação. Todos enviaram representantes para dar seguimento ao debate.

Ciro Gomes, do PTB, também foi convidado, mas não confirmou a participação.

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Assim, a mesa de abertura foi composta por Sônia Guajajara, pré-candidata à vice-presidência da República pelo PSOL na chapa com Boulos, da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB); André Torkaski, da direção nacional do PCdoB, e Márcio Pochmann, um dos formuladores do plano de governo do ex-presidente Lula, pré-candidato à presidência. A seguir, seguem os principais elementos levantados no debate:

 

Sônia Guajajara: O Povo como protagonista

 

Precisamos ter um compromisso com uma comunicação democrática, que conte a história correta, que coloque no centro da informação as pessoas que estão sendo atacadas historicamente.

A democratização da internet é importante para que a voz dessa blogosfera progressista seja ouvida em mais lugares. Hoje, nós temos nossos meios de contar isso por conta da internet, das redes sociais. É por isso que é importante que a internet seja ampliada e chegue a todos os lugares, para não seja só dada voz aos protagonistas, mas que possamos contar nossa própria história.

Nossa história nunca foi contada a partir do nosso ponto de vista. É uma história que escolhe seus heróis e aos povos indígenas ficou esse rastro de violência, massacre e extermínios. Se estamos, mesmo com tantos ataques, conseguindo seguir hoje é devido à mídia livre. Se fossemos depender da mídia tradicional que está nas mãos de sete famílias, estaríamos na invisibilidade.

Nós temos que ser transgressores, não basta sermos progressistas. Precisamos ter muita coragem para enfrentar muitas coisas: o modelo democrático, econômico, o caos politico, a dependência que a gente criou por ficar alimentando o capitalismo de forma desenfreada.

O Brasil desconhece a história de sua própria origem. Os fatos ou foram contados de outra forma, ou foram omitidos. Precisamos pensar um jeito para que lá na frente não tenhamos que dizer que nossa história foi contada de forma errada.

 

André Torkaski: O Brasil não está isolado no mundo

 

O Brasil não esta isolado no mundo. Somos fruto da globalização que começou em 1500, com a ocupação de nosso território.

Até 2015, na América Latina, o Brasil e uma série de países foi um espaço de resistência ao avanço do neoliberalismo no mundo. Isso mudou agora quando vivemos nossa mais grave crise.

Se os neoliberais não conseguiram criar uma sociedade tão privatizada como queriam, conseguiram criar uma hegemonia espantosa. Mesmo economistas do nosso campo, comprometidos com o Brasil, abrem mão de fazer a critica e se enquadram nesses patamares medíocres.

Vamos comemorar, em outubro, 30 anos da Constituição. Foi a última peca de um Estado de bem estar social dos anos 1980. Nela, há um projeto de país. São objetivos fundamentais a erradicação da miséria, garantia do trabalho, sistema de saúde pública universal, previdência social. Construção de uma comunidade latino-americana… integração. Todos esses elementos já estavam ali.

Temos agora uma batalha decisiva: a luta por realizar eleições livres e democráticas. O que está colocado é uma politica devastadora e não há um candidato para colocar o programa do atual governo nas eleições de outubro. Do nosso lado, é fundamental construir pontes. Os partidos de esquerda têm conquistado um passo decisivo na confiança e respeito mútuo para tirar o país dessa ofensiva reacionária, com uma capacidade avançada para construir a unidade.

 

Márcio Pochmann: (re)pensar a política e o sindicalismo

 

Não estamos vivendo um período de mudança, mas uma mudança de período. Os partidos e sindicatos já não conseguem falar com essa nova sociedade. Nossas reuniões são cansativas, baseadas em um modelo dos anos 1980, que não considera as novas formas de sociabilidade que temos.

Hoje, os setores que estão conseguindo falar com a sociedade são os evangélicos neopetencostais e o crime organizado.

Nossa sociedade não tem espaço de sociabilidade: a pessoa trabalha o dia todo, não tem espaço público por causa da violência, ela quer algo que a retire da realidade. É aí que as igrejas agem, dando a ela algo que nossas formas de organização não dão conta.

A forma como fazemos política termina mais afastando do que atraindo as pessoas, ainda mais em uma comunicação que não é física, mas de bolhas homogêneas. Sociedades que polarizam entre si, não dialogam, não ouvem o contraditório. Estamos formando seres incapazes de viver em sociedade.

Por isso, é preciso refletir: estamos falando a linguagem adequada? Temos respostas para os anseios da população?O que fazer para furar as bolhas? Nos EUA, França e Inglaterra, não é e que a direita cresceu… o descrédito fez com que parte significativa de pessoas que votam na esquerda deixasse de votar. Essa forma de fazer política se esgotou. Pessoas que se identificam com a esquerda se afastaram.

 


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
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