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Da esquerda para a direita: José Antonio Kast, Franco Parisi, Johannes Kaiser e Evelyn Matthei. (Foto: Reprodução / Facebook)

Eleições no Chile: por votos de “raiva”, candidatos da direita ampliam retórica agressiva na reta final

Sondagens recentes no Chile apontam que a direita pode ir ao segundo turno com Johannes Kaiser ou José Antonio Kast, ambos pinochetistas

Aldo Anfossi
La Jornada
Santiago

Tradução:

Beatriz Cannabrava

A menos de duas semanas para as eleições gerais de 16 de novembro no Chile, a incerteza e a atenção se concentram em qual dos três – ou até quatro – candidatos de direita avançará ao segundo turno presidencial para enfrentar a governista Jeannette Jara, que projeta ter sua vaga assegurada para a segunda rodada, em 14 de dezembro.

Diversas pesquisas divulgadas semanalmente tendem a coincidir em que o ultrapinochetista Johannes Kaiser, do Partido Nacional Libertário, está perto de tirar do segundo lugar o conservador e também pinochetista José Antonio Kast, do Partido Republicano, que era considerado presença certa na disputa.

Kaiser, ferrenho defensor do golpe de Estado de 1973 e justificante dos crimes de Estado e das violações de direitos humanos cometidos durante os 17 anos seguintes, aparecia até poucos meses atrás com pouca força nas sondagens, mas agora alcança entre 18 e 20 pontos.

Kast, por sua vez, que chegou a ter entre 25 e 27 por cento das preferências, vem caindo e marca atualmente de 20 a 22 pontos, segundo o levantamento.

Ataque ao aborto, à eutanásia e à migração

Se Kast é um católico fundamentalista que critica o divórcio, o direito ao aborto e à eutanásia, e promete expulsar dezenas de milhares de imigrantes, Kaiser não fica atrás: no passado, chegou a afirmar que “62% das mulheres têm a fantasia de ser estupradas” e que se deveria condecorar “com uma medalha de honra” os estupradores “de mulheres feias”.

Há poucos dias, ao se referir à entrada de estrangeiros pela Bolívia, declarou em um comício: “Vamos fechar a fronteira, acabou a ‘piadinha’ da Bolívia”, e ameaçou que, se ocorrerem “novas humilhações”, “vão passar muito mal em La Paz e terão de mudar o nome da capital (sic), porque La Paz não vai ser”.

Também afirmou que, caso vença, vai “sair do (acordo de) Escazú, sair da Agenda 2030, sair do Tratado de Paris, sair da Corte Interamericana de Direitos Humanos”. “Vamos sair de toda essa institucionalidade que está nos afogando em matéria econômica e de controle da nossa segurança interna”, completou.

E acrescentou: “Não somos uma colônia; se quiséssemos ser colônia, que fosse ao menos de gente decente, como o rei da Espanha, e não de qualquer imbecil em Nova York”.

O quadro acendeu o alerta em setores moderados da direita. O reitor da Universidade Adolfo Ibáñez, Francisco Covarrubias, publicou: “Chegou a hora de levar Kaiser a sério, porque é um fenômeno que rima com muitos líderes autoritários que começaram da mesma forma.”

Segundo analistas, Kaiser “busca se diferenciar como a opção mais pura em termos de descontentamento e ordem, o que mostra que o voto de raiva dentro da direita está se movendo”, afirma Marco Moreno, da Universidade Central. “Ele entendeu que seu nicho está entre os frustrados que não se identificam com a direita tradicional nem com Kast.”

Para o gerente do Painel Cidadão-UDD, Juan Pablo Lavín, “Kaiser está demonstrando ser o melhor candidato em focalizar sua mensagem — sabe muito bem qual é seu nicho e está mirando diretamente nele”.

Os outros candidatos

A candidatura de Evelyn Matthei — por meses, favorita da direita tradicional — agora ocupa o quarto lugar e se mostra cada vez mais esvaziada. De 24-25 pontos em maio, caiu para cerca de 14, ou até menos.

Na semana passada, após um período de moderação e tom conciliador, Matthei perdeu a compostura ao criticar o plano governamental de busca de detidos desaparecidos, afirmando que, para os familiares das vítimas, “não é busca, é vingança”.

Segundo analistas, essa declaração buscaria seduzir os eleitores mais duros que a abandonaram para apoiar Kast e agora Kaiser.

Uma pesquisa divulgada no último sábado indicou que o populista de direita Franco Parisi, do Partido da Gente — que há quatro anos ficou em terceiro lugar no primeiro turno — agora aparece com 16,4%, em terceiro, atrás de Kast (19,9%).

Oito candidaturas estão em disputa pelos 15,8 milhões de votos, dos quais cerca de 4 milhões serão de eleitores que votarão pela primeira vez — um fator que pode ser determinante nas primeiras eleições com voto obrigatório desde 2012.

La Jornada, especial para Diálogos do Sul Global – Direitos reservados.


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul Global.

Aldo Anfossi

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