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Apenas um Coletivo de Desarmamento poderá nos salvar e obrigar a dar um passo adiante

Nos sentimos obrigadas a nos manifestar sobre o que acontece no país. Assim, nasceu o “Manifesto do Mulherio das Letras por um Pacto Coletivo de Desarmamento”
Maria José Silveira

Tradução:

Já falei aqui do “Mulherio das Letras”, movimento de escritoras (publicadas ou não) que se uniram para debater questões relativas ao mundo dos livros. Encontraram-se pela internet e hoje, espalhadas por muitas cidades, discutem e divulgam seu trabalho, organizam pequenas atividades, e um grande encontro anual.

Sendo, como somos, mulheres preocupadas com a sociedade, e voltadas para o desejo de um mundo justo, há certos momentos em que nos sentimos obrigadas a nos manifestar sobre o que vemos acontecer no país.

Assim, nasceu agora o “Manifesto do Mulherio das Letras por um Pacto Coletivo de Desarmamento”.

O manifesto não é grande, mas não cabe aqui. Deixo, então, um resumo de suas colocações fundamentais. Ei-lo:

“Neste momento, no Brasil, é difícil quem de nós não se sinta no meio de um tiroteio cerrado.
(…) Temos carregado no peito muita tristeza e muito medo. E no meio de tantas guerras, cada vez mais permanentes (…), o que fazer para sobreviver de pé? (…)
Como se não bastasse, ainda nos ronda, enlouquecido, todo um discurso pronto que nos incentiva a reagir simplesmente nos armando mais: a nossa vida em sociedade seria então toda feita de olho por olho, dente por dente, fera contra fera. Já há até quem considere razoável recomendar que professores andem armados em salas de aula. Como já houve quem chegasse a defender que eventuais adversários fossem sumariamente fuzilados. E como há inclusive mil brincadeiras de matar sendo ensinadas às crianças, desde cedo, assim como há futuros sendo mortos de verdade junto delas.

Nós aqui, no entanto, temos que dizer em alto e bom som: nossa luta se faz é com palavras, e o que elas podem fazer é justamente o contrário disso tudo.
Porque palavra desarma.
Sabemos bem que, quando estamos com crianças, poucas coisas criam tanta conexão e respeito quanto as histórias que contamos e as conversas que podemos ter (…).
Com jovens, é de novo a palavra que tantas vezes evita tragédias: é conversando que se pode superar mal-entendidos, solidões dolorosas, sufocos sem fim, explosões inarticuladas.
E quando estamos entre adultos, nada poderia nos proteger mais do que uma boa prática argumentativa. É através dela que poderíamos nos ouvir de verdade, aprender uns com os outros, ver nossas crenças confrontadas, arriscar-nos a evoluir. E é ouvindo argumentos bem embasados e debates públicos transparentes que poderíamos de fato reconhecer o que está em jogo a cada embate, a cada escolha, a cada eleição.
Nesse sentido, não temos dúvida de que tudo o que recusa, interrompe ou silencia o debate (…) é também o que nos empurra para a briga cega e para a fantasia fácil de que é possível resolver tudo na base do tapa, do soco, do tiro.
É também por isso que nós estamos aqui, trabalhando com palavras. Todos os dias. (…)
Porque precisamos testemunhar uma vez mais que há outros caminhos para resolvermos nossos conflitos (…) sem nos transformarmos todos, no fim das contas, em potenciais vítimas ou potenciais assassinos.
Porque palavra desarma – e um Pacto Coletivo de Desarmamento é só o que ainda pode nos salvar do aniquilamento coletivo e nos obrigar a dar, enfim, um belo e articulado passo adiante.”


As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Maria José Silveira

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