“Houve um cair de máscaras e isso assusta! Agora nós conhecemos o que as pessoas pensam e isso traz uma sensação de cercamento, onde para todo lugar que eu olho há pessoas que desejam me violentar de alguma forma”, diz a militante feminista, professora e produtora musical Camila Godoi.
Ela conversou com a Diálogos do Sul, nesta quarta-feira (29), quando se comemora o Dia Nacional da Visibilidade de Transexuais e Travestis. A data foi criada em 2004 quando pela primeira vez na história do Brasil, travestis e transexuais estiveram no Congresso Nacional para mostrar aos parlamentares a realidade vivida por essas pessoas.
Para explicar a diferença entre orientação de gênero e orientação sexual, a militante, que namora uma mulher, alerta para as armadilhas que a cultura machista e heteronormativa, dita como se fosse uma coisa óbvia: “se ela é transexual e assume sua identidade como uma mulher, [para eles] é óbvio que ela deve orientar seu desejo para um corpo lido como masculino. E a minha história mostra o quanto são distinta essas duas coisas”, contesta.
George Guariento/ Diálogos do Sul
Camila é integrante da banda feminista Clandestinas, que lançará um álbum em março
“A maneira como eu me identifico, a maneira como eu me posiciono na sociedade, implica inclusive sair de um status privilegiado. Quando eu me assumo como mulher, imediatamente eu sofro as várias opressões que as várias mulheres sofrem”, diz.
O Brasil é o país que mais mata transexuais no mundo. A expectativa de vida para pessoas trans é de 35 anos, contra 75 vividos pela população cisgênero, como apontam dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Só em 2019, foram registrados 124 assassinatos de pessoas trans e estatísticas apontam que a cada 48 horas cidadão transexual é morto no Brasil e, em sua maioria, com requintes de crueldade.
“Uma parte de mim é música, a outra é luta”
Com a chegada de Jair Bolsonaro ao poder, acompanhamos um crescimento da extrema-direita atrelada às comunidades evangélicas conservadoras, onde muitas pessoas justificam o ódio com a religião, o que causou medo nas minorias brasileiras.
A produtora diz que, imediatamente após as eleições, o primeiro sentimento foi de pânico e exemplifica com a taxa de feminicídio, número que aumentou drasticamente nesse primeiro ano de governo.
O cair de máscaras assusta, mas isso permite “sair da idealização e compreender a realidade como ela é. É um passo muito importante para nos organizarmos. Estamos juntxs para lutar e resistir, porque com o tempo necessário, certamente vamos vencer, como outras gerações já venceram”.
Diante desse cenário, Camila encontrou na música uma forma de militar e levar sua voz à outras pessoas. Pautada pela luta feminista e LGBT, a Banda Clandestinas, formada por mulheres lésbicas e bissexuais que defendem o feminismo, está no processo de gravação do primeiro álbum. O lançamento está previsto para o começo de março.
“Fazemos rock feminista, e é uma maneira de luta nossa, de levar as nossas pautas e luta LGBT. E como vamos lançar nosso álbum provavelmente no começo de março, pedimos ajuda para divulgar e fortalecer nossa luta”, conclui.
Veja a entrevista completa: