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Para dar visibilidade à violência, mulheres fazem primeira greve feminista no México

Cansadas de tanta incompetência, corrupção e impunidade mexicanas têm ido às ruas para dar visibilidade à violência na qual vive o país
Ana Rosa Moreno
Desacato
São Paulo (SP)

Tradução:

Se para qualquer pessoa viver no México é um esporte radical, para as mulheres é um esporte suicida. A cada dia em todos meios de comunicação vemos notícias de mulheres acossadas, abusadas, desaparecidas, assassinadas e violadas. E também vemos com as autoridades brilham pela incompetência e cumplicidade com o agressor. Muitos dos casos passam à lista de casos esquecidos.

As mexicanas, cansadas de tanta incompetência, corrupção e impunidade tem ido às ruas para demonstrar seu descontentamento e dar visibilidade à violência na qual vive o país. Realizaram marchas, bailes, usaram glitter roxo, instalaram anti-monumentos, incluso ações mais violentas como queima de escritórios, portas quebradas e monumentos riscados. A resposta da sociedade mexicana tem sido a burla, inclusive dizem que o feminicídio não existe e que é só paranoia.

Tem acontecido feminicídios como o de Isabel Cabanillas, ativista, muralista e membro da coletiva “Filhas de sua *maquileira mãe”, em Ciudad Juárez. Ou o caso de Ingrid Escamilla da cidade de Puebla, assassinada pelo seu companheiro foi cortada em pedaços e partes do seu corpo foram jogadas em sacos de lixo na rua. Houve a desaparição de uma criança para a extração de órgãos no distrito de Tlahuac, na Cidade de México. Esses são apenas alguns exemplos da violência que existe contra as mulheres no país. Por essa razão as coletivas e personagens célebres, instaram às mexicanas a não sair de suas casas no dia 9 de março, fazer portanto, uma greve feminista.

Cansadas de tanta incompetência, corrupção e impunidade mexicanas têm ido às ruas para dar visibilidade à violência na qual vive o país

Unomásuno
O patriarcado e o machismo vão cair, e se não cai, nós os vamos jogar fora.

O presidente Andrés Manuel López Obrador, lorde da Quarta Transformação, 4T, acusou o movimento feminista de desviar a atenção da rifa do avião presidencial. Fazendo um parêntese: o avião presidencial foi adquirido pelo ex-presidente, Felipe Calderón Hinojosa, e foi Enrique Peña Nieto quem o utilizou. Atualmente tem um custo aproximado de 218 milhões de dólares. Como não dá para manter um avião tão dispendioso e que não se consegue vender diretamente a ninguém, o lorde da 4T teve a brilhante ideia de rifa-lo. No entanto, o prêmio não é o avião. Terá vários ganhadores que receberão um percentual do valor, e o restante do dinheiro arrecadado passará ao bolso do governo, quem, segundo o presidente da república, o utilizará no sistema de saúde.

Também a procuradoria geral da república procura eliminar o termo feminicídio, rejeitando as sete condições para tipificá-lo. Considera que são inúteis pela dificuldade para creditá-las. Propõe que para estes casos se utilize o termo homicídio, mas, sito só invisibiliza o verdadeiro problema: no México assassinam as mulheres por serem mulheres.

Como dado curioso, de acordo com o artigo 325 do Código Penal Federal, considera-se tipificação de feminicídio quando o agressor concorra em alguma das seguintes circunstâncias:

  • I. A vítima presente signos de violência sexual de qualquer tipo
  • II. A vítima tenha sofrido lesões ou mutilações infamantes ou degradantes, prévias ou posteriores à privação da vida ou atos de necrofília
  • III. Existam antecedentes ou dados de qualquer tipo de violência no âmbito familiar, laboral ou escolar, do sujeito ativo em contra da vítima
  • IV. Tenha existido entre o ativo e a vítima uma relação sentimental, afetiva ou de confiança
  • V. Existam dados que estabeleçam que houve ameaças relacionadas com o fato delituoso, acosso ou lesões do sujeito ativo em contra da  vítima
  • VI. A vítima tenha ficado incomunicáfel, qualquer que seja o tempo prévio à privação da vida
  • VII. O corpo da vítima seja exposto ou exibido em lugar público

Contra essas ações machistas, a greve feminista, no México, vem para fazer uma reflexão do que passaria se um dia nos vem e no seguinte não, porque a cada dia, 10 mulheres não voltam aos seus lares.

Imediatamente, as empresas, escolas e instituições do governo deram permissão às empregadas e estudantes  para não irem a trabalhar ou assistir às aulas, como se as mulheres tivéssemos que pedir permissão para fazer uma greve ou manifestar-nos.

O Partido de Ação Nacional e o Partido Revolucionário Institucional competem para mostrara quem é mais feminista, mas todos sabemos que não apoiam o direito ao aborto, a legalização da maconha e os matrimônios igualitários.

O lorde da 4 T disse que é conhecedor em temas de gênero e que seu governo é o mais feminista com paridade de gênero na distribuição dos cargos, mas, tem demonstrado pouca sensibilidade com relação ao tema. Também atreveu-se a dizer que a greve acontecida na Universidade Nacional Autônoma de México, UNAM, iniciada por denúncias de acosso por parte de professores e estudantes às mulheres, e a venda de fotografias íntimas das alunas, tem muito que ver com a vontade de desestabilizar o seu governo.

Também houve acusações a George Soros de financiar o movimento feminista no México, porque o governo e outras pessoas consideram que as mulheres mexicanas não somos capazes de organizarmo-nos com nossos próprios meios, mas, Soros declarou nos meios que nada tem a ver, e ainda assim pedem para investigá-lo.

Apesar disso tudo, a greve vai e o patriarcado e o machismo vão cair, e se não cai, nós os vamos jogar fora.

*Trabalhadora das maquilas (trabalhadora têxtil)

Tradução: Raul Fitipaldi, para Desacato.info

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Ana Rosa Moreno

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