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"Hoje vou conseguir dormir", desabafa esposa de músico morto por militares com 257 tiros

O julgamento durou 15 horas; quatro militares foram absolvidos porque não participaram dos disparos de arma de fogo no Rio de Janeiro
Redação Brasil de Fato
Brasil de Fato
São Paulo (SP)

Tradução:

A Justiça militar condenou, no início da madrugada desta quinta-feira (14), oito militares do Exército que participaram da morte do músico Evaldo dos Santos Rosa e do catador de materiais recicláveis Luciano Macedo. O crime ocorreu em abril de 2019.  

O julgamento, sob comando da juíza federal substituta Mariana Aquino, foi realizado após três adiamentos. Outros quatro militares foram absolvidos porque não participaram dos disparos de arma de fogo.

O tenente Italo da Silva Nunes, que comandava a operação realizada em Guadalupe, na Zona Norte do Rio, foi condenado a 31 anos e seis meses de reclusão em regime fechado, por duplo homicídio e a tentativa de homicídio de Sergio Gonçalves de Araújo, na mesma ação. Outros sete militares, que realizaram disparos na ocasião, foram condenados a 28 anos de reclusão em regime fechado, além da exclusão das Forças Armadas. Todos permanecem em liberdade, até o julgamento dos recursos.

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Julgamento

O julgamento durou 15 horas e se deu pelos votos dos integrantes de um conselho, composto pela juíza federal e quatro juízes militares. Os parentes das vítimas ficaram boa parte do tempo abraçados e comemoraram a sentença. 

Reportagem da Agência Brasil ressalta que, segundo o procurador Luciano Gorrilhas, os militares violaram regras de engajamento de Garantia da Lei e da Ordem (GLO). Gorrilho considerou a ação como excesso de utilização dos meios. “Não há defesa para 82 tiros. Todos aderiram a uma mesma vontade. 82 tiros é execução”, afirmou ele, que considerou um milagre os demais ocupantes do carro não terem sido atingidos. 

O julgamento durou 15 horas; quatro militares foram absolvidos porque não participaram dos disparos de arma de fogo no Rio de Janeiro

Reprodução
Evaldo, de 51 anos, ia com a família para um chá de bebê e o carro em que estavam foi alvo de militares à luz do dia.

O advogado dos militares, Paulo Henrique Mello informou que recorrerá à decisão. “Essa condenação, ela não é definitiva. Ela não traz justiça aos autos. E a defesa, dentro do prazo legal, fará e apresentara o recurso para instancia superior, aguardando que ali se faça justiça isenta. A justiça longe dos apelos e longe da interferência externa”, informou ao G1.

Já a viúva de Evaldo, Luciana Nogueira, afirmou que o resultado do julgamento dá a paz que a família buscava.

“Hoje vou conseguir dormir. Vou olhar para o meu filho, que vai crescer sem ver o pai, e vou dizer que era um homem de bem. É um recado que o tribunal manda para a sociedade. Esse crime não ficará impune”, disse.

O caso

Evaldo, de 51 anos, ia com a família para um chá de bebê e o carro em que estavam foi alvo de militares à luz do dia. O músico morreu na hora, mas seus familiares sobreviveram. O catador Luciano, de 27 anos, que estava nas proximidades, tentou ajudar a família de Evaldo e também foi atingido e morto pelos militares.

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Na época do crime, ocorrido em 7 de abril de 2019, o caso ficou conhecido como o dos “80 tiros”, número de disparos que se acreditava terem sido feitos. Mas laudos produzidos durante a investigação comprovaram que o crime foi ainda mais grave: 257 disparos foram efetuados pelos militares.

Segundo uma parente da família, os militares abriram fogo sem realizar qualquer abordagem prévia e mesmo depois dos passageiros no banco de trás terem fugido com a criança no colo, os militares continuaram atirando.

Fonte: BdF Rio de Janeiro

Edição: Jaqueline Deister


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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