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Por que recusamos a responsabilidade de construir uma sociedade justa?

É incompreensível e decepcionante a realidade do entorno social em que predomina o egoísmo, a perda de sensibilidade humana e a indiferença
Carolina Vásquez Araya
Diálogos do Sul
Cidade da Guatemala

Tradução:

Regressando ao sábio conselho das páginas do dicionário, podemos estabelecer com certa certeza que “a ética se relaciona com o estudo da moral da ação humana. Que seu conceito provém do termo grego ethikos, que significa “carácter”. 

Que uma sentença ética é uma declaração moral que elabora afirmações e define o que é bom, mau, obrigatório, permitido”. Ou seja, se trata de uma qualidade supostamente intrínseca do ser humano como parte de uma sociedade dentro da qual tem responsabilidades e compromissos. Por isso é incompreensível e decepcionante a realidade do entorno social e cultural em países do terceiro mundo como os nossos, em que predomina o egoísmo, a perda de sensibilidade humana e a indiferença para eximir-se de participar em ações capazes de restabelecer a ordem, proteger os valores, lutar contra a injustiça e propiciar a construção de marcos legais sólidos e estáveis. 

É incompreensível e decepcionante a realidade do entorno social em que predomina o egoísmo, a perda de sensibilidade humana e a indiferença

Pixabay
"Caracter" é uma declaração moral que elabora afirmações e define o que é bom, mau

Na América Latina experimentamos a violência política, mas também recuperamos liberdades a partir de movimentos cidadãos que foram capazes de reverter o curso da história e dar-nos outra esperança de progresso e paz.

Isto significa que quando a sociedade se mantém alerta e consciente do seu papel é capaz de transformar um sistema de repressão e morte em um de desenvolvimento e esperança. 

Por esta razão, quando um de nossos países cai na aceitação do abuso constante de seus entes mais poderosos, provoca um terrível desassossego; uma sensação de náusea, um golpe em pleno esterno. 

É aí onde se manifesta o desinteresse pelo destino de um país e de uma sociedade da qual pretendemos desvincular-nos emocionalmente para refugiar-nos em nosso pequeno espaço de duvidosa segurança. Como não duvidar de se este conglomerado humano tem um coração que late nessa couraça de indiferença?

As notícias aparecem, repetem-se durante alguns dias abundando em detalhes novos, e depois nada. Simplesmente há outra, tão impactante como a anterior, minuciosamente descrita com essa linguagem profissional que os jornalistas praticam diariamente, elevando-o às alturas da perfeita esterilização emocional. 

Tudo passa e o esquecimento se instala rápido. Acaso temos a culpa de haver anestesiado a consciência coletiva: há de ser assim; uma questão de classe, cor ou tom de voz, um traço do caráter ou um gene oculto em um minúsculo infinitesimal cromossoma, porque de outro modo seria simples maldade.

É que esta comunidade humana sabe quão cara resulta a indiferença? Saberão as meninas raptadas por uma rede de tráfico que havia vizinhos conscientes de sua situação, mas não intervieram porque não era assunto seu? Talvez pensassem que pertenciam àqueles que as exploram, assim como outros acreditam que as crianças abusadas pertencem a pais que as torturam?

A denúncia não é uma cultura socialmente aceita, é uma das ataduras da história, onde a ética se dissolve. A ideia de ser responsável na construção de uma sociedade justa não terminar que se fixar em mentes e corações engomados de preconceitos. Se não se age para resgatar uma vítima de violência, menos ainda para resgatar um país da corrupção. Mais fácil e reclamar pelo baralho de uma festa. Menos comprometedor. Muito menos.

Somos reflexo de nossos valores, mas também de nossos preconceitos.

 *Colaboradora de Diálogos do Sul da Cidade da Guatemala

Tradução: Beatriz Cannabrava


As opiniões expressas nesse artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul

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As opiniões expressas neste artigo não refletem, necessariamente, a opinião da Diálogos do Sul.
Carolina Vásquez Araya Jornalista e editora com mais de 30 anos de experiência. Tem como temas centrais de suas reflexões cultura e educação, direitos humanos, justiça, meio ambiente, mulheres e infância

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